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Petrobras faria mau negócio ao comprar a portuguesa Galp

Segundo especialistas, estatal gastaria dinheiro -- que não tem -- num investimento duvidoso quando deveria focar no pré-sal

Falta de foco: Petrobras deveria se concentrar no pré-sal em vez de mirar aquisições (Germano Luders/EXAME)
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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2011 às 11h06.

São Paulo - Há pelo menos seis anos, a Petrobras tenta comprar a participação de 33,34% na empresa portuguesa Galp Energia, sua parceira em diversos projetos do pré-sal. A portuguesa tem cerca de 10% a 20% em cinco das dez descobertas já realizadas no local, entre elas o campo de Lula (ex-Tupi). Procuradas, Galp e Petrobras não comentam o assunto.

Com a operação, a Petrobras teria maior participação nos projetos do pré-sal. Mas isso é realmente necessário? “Ela não precisa, já que é majoritária nos projetos. Por trás disso, está o aspecto político de mostrar que está recuperando o petróleo e devolvendo aos brasileiros. Na verdade seria um mau negócio”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “A parceria com a portuguesa permite que a Petrobras divida riscos de exploração.”

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Segundo a estatal, a aquisição da Galp permitiria também uma entrada no mercado europeu para a produção brasileira de petróleo e derivados. Em dezembro, as empresas assinaram um acordo para a produção de biodiesel. A Petrobras também começará a plantar palma no Pará numa região de 74.000 hectares. Em mais da metade dessa área, a estatal terá como sócia a Galp, para vender na Europa o diesel de fonte renovável produzido no Brasil.

EXAME.com ouviu um ex-diretor da estatal que discorda do argumento: “Há um grupo dentro da companhia que defende essa tese de vender produto. É claro que em termos teóricos é verdadeiro, mas no mercado mundial há mais dificuldade em vender produtos do que petróleo, então seria um investimento de retorno bem duvidoso”.

Outro problema apontado por ele é que a empresa vai precisar de mais capital do que estava previsto, mesmo tendo realizado há quatro meses a maior capitalização da história, que arrecadou 20,3 bilhões de reais. Com ele, concorda Pires: “Provavelmente a Petrobras precisará de mais dinheiro para efetuar a compra dessa participação e terá de ir ao mercado de novo.”

Sobre uma eventual compra a Petrobras afirma que “está constantemente analisando oportunidades de investimentos no Brasil e no exterior que estejam em consonância com as estratégias traçadas no seu Plano de Negócios”. O tal plano de negócios, aliás, dizia exatamente o contrário – que a empresa reduziria os investimentos no exterior para se dedicar ao pré-sal. O Conselho de Administração aprovou o plano para o período de 2010-2014, com investimentos totais de 224 bilhões dólares. Desse montante, 95% seria investido no Brasil. Dos 11,7 bilhões de dólares restantes para projetos no exterior, 4,7 bilhões seriam gastos na compra da participação na Galp.

A operação, no entanto, é mais complicada do que parece. Para aumentar seu controle na Galp, a Petrobras teria que adquirir 33,34% que a italiana ENI possui no negócio. Em comunicado enviado a EXAME.com, o presidente da companhia afirmou: “Galp tem sido um negócio fantástico para nós, mas ser um acionista minoritário não durará para sempre”.

Até 2000, a Galp era uma estatal portuguesa, quando, no mesmo ano, o grupo ENI comprou uma participação na empresa. Cinco anos depois, o governo português vendeu outra parte da empresa à Amorim Energia, controlada pelo investidor português Américo Amorim. Detalhe: na ocasião foi feito o acordo entre acionista que proibia qualquer venda até janeiro de 2011.

Amorim controla 55% da Amorim Energia e os restantes 45% são controlados pela estatal angolana Sonangol, que já afirmou que vetará a entrada da estatal brasileira na Galp. Os angolanos, aliás, desejam ter um controle direto na empresa portuguesa. “Quem ganha com a operação de fato é a Galp, que só passou a ter importância quando entrou no pré-sal”, diz Pires. “Essa negociação é uma dor de cabeça que a Petrobras deveria evitar”, diz o ex-diretor da estatal.

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