Exame Logo

Petrobras deve chegar a 2016 quase sem caixa

Se tudo correr como o planejado, a empresa passará por 2015 com caixa suficiente para fazer frente a tudo o que vai gastar

Petrobras: a empresa começou 2015 com um caixa de US$ 25 bilhões (Acordo salgado)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2015 às 09h39.

São Paulo - Se tudo correr como o planejado pela Petrobras , a empresa passará por este ano com caixa suficiente para fazer frente a tudo o que vai gastar. Não precisará de nenhuma injeção nova de capital. Tampouco seu fluxo de recursos será afetado pela reavaliação de ativos em função das investigações de corrupção . Mas, mesmo neste cenário, a trégua durará pouco: a empresa começará 2016 à míngua, sem recursos para bancar seus compromissos.

Os dados apresentados pela companhia na quinta-feira mostram que a empresa começou 2015 com um caixa de US$ 25 bilhões. Durante o ano, vendendo gasolina, diesel e todos os produtos da sua atividade, outros tantos bilhões devem entrar na companhia.

Para fechar a conta, a empresa cortou parte dos investimentos de 2015. Assim, com todo o caixa que vai gerar, ela paga seus juros e dívidas, investe o que se comprometeu a investir e, no fim das contas, ainda sobram uns US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões, segundo dados da própria Petrobras.

O problema é que o que vai sobrar para 2016 é menos da metade do caixa da empresa no início deste ano. Isso significa que, sem fazer drásticas reduções de gastos e de investimentos, a empresa dependerá dos bancos e dos investidores internacionais para fechar a conta do próximo ano. Ou então, terá de apelar para um aporte de capital do governo federal, o que significaria, na prática, uma reestatização da empresa. Uma fonte próxima à estatal diz que a Petrobras precisa de pelo menos US$ 15 bilhões em caixa para manter suas atividades.

"Neste ano, a empresa não precisará de financiamento externo. Mas isso vai significar também que não terá nenhum colchão para 2016", resumiram em relatório os analistas do banco Credit Suisse.

A situação da Petrobras poderia ser comparada à do setor elétrico, que no ano passado confiou que a chuva viria, enchendo reservatórios das hidrelétricas (o caixa do setor) e evitando assim um racionamento. No setor elétrico, a situação se complicou, pois a chuva não veio e o caixa do setor está nos menores níveis de todos os tempos.

Para a petrolífera, a situação de seca aguda pode se configurar se ela não conseguir publicar seu balanço auditado. Mas, mesmo que consiga honrar com esse compromisso, a tarefa da empresa é ainda manter suas notas de classificação de risco para que bancos e investidores financiem a empresa no próximo ano.

Antecipação

A sobrevivência da companhia neste ano está hoje diretamente relacionada à sua capacidade de publicar seu balanço anual, até junho, com o aval dos auditores externos, no caso a PriceWaterhouseCoopers. Sem esse aval, até a data estipulada, cerca de US$ 60 bilhões, segundo cálculos estimados pelo banco Morgan Stanley, poderão ser cobrados antecipadamente pelos credores da companhia. E aí caixa nenhum iria resistir.

Para lembrar, a Price deixou de dar seu aval em função das investigações da Operação Lava Jato e exigiu que a companhia fizesse sua própria varredura para identificar o que precisa reconhecer de perdas ou superfaturamento. A empresa chegou a publicar suas informações do terceiro trimestre com dois meses de atraso para tentar fazer essa conta, mas não conseguiu colocar esses números na contabilidade.

A situação é tão urgente que, como destaca o banco UBS em seu relatório mais recente, a presidente da Petrobras, Graça Foster, comprometeu-se em publicar os números de 2014 antes do prazo estimado nas cláusulas de seus empréstimos, nem que isso signifique fazer uma reavaliação de ativos "politicamente hostil". Ou seja, a diretoria será conservadora e está disposta a reconhecer, entre as diferentes opções de metodologia de cálculos, aquela que apontar o maior valor de reavaliação de ativos, independentemente se isso desagrade este ou aquele setor do governo, esta ou aquela vertente política.

Na semana passada, a empresa divulgou que cerca de R$ 88 bilhões de ativos da companhia estão superavaliados, mas que nem tudo está ligado à corrupção. Outros R$ 27 bilhões estariam subavaliados, dando um ajuste líquido de R$ 61 bilhões. Esses números foram obtidos em uma análise de 31% dos ativos da Petrobras, que estão sob a mira da Lava Jato. O outro número que poderia ser usado é o de R$ 4 bilhões, referentes aos 3% mencionados pelos delatores como pagamento de propina.

Fio da navalha

Todo este cenário de caixa traçado pela Petrobras pode ser afetado por inúmeras variáveis ao longo do ano. A empresa responde a processos judiciais promovidos por acionistas minoritários nos Estados Unidos que cobram indenizações pela deterioração do preço de suas ações, e não se sabe o custo que isso terá. Também terá de se acertar com as autoridades americanas, que enquadraram a empresa na lei anticorrupção, e multas pesadas podem estar no caminho da companhia. Advogados preveem que o caso Petrobras será o mais caro da história. Até então, tinha sido o da Siemens, em que a empresa pagou multas de US$ 2 bilhões, além dos cerca de US$ 3 bilhões que gastou para fazer sua própria investigação.

No mercado internacional, o preço do petróleo tem ajudado o caixa da companhia, que ainda é grande importadora do combustível para poder fornecer gasolina e diesel. Se o preço fosse repassado ao consumidor, o custo da gasolina cairia e a Petrobras teria menos receita. Mas de 2011 até o ano passado, a empresa também poderia ter repassado os altos custos do petróleo e não o fez, o que lhe tomou US$ 30 bilhões em caixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Veja também

São Paulo - Se tudo correr como o planejado pela Petrobras , a empresa passará por este ano com caixa suficiente para fazer frente a tudo o que vai gastar. Não precisará de nenhuma injeção nova de capital. Tampouco seu fluxo de recursos será afetado pela reavaliação de ativos em função das investigações de corrupção . Mas, mesmo neste cenário, a trégua durará pouco: a empresa começará 2016 à míngua, sem recursos para bancar seus compromissos.

Os dados apresentados pela companhia na quinta-feira mostram que a empresa começou 2015 com um caixa de US$ 25 bilhões. Durante o ano, vendendo gasolina, diesel e todos os produtos da sua atividade, outros tantos bilhões devem entrar na companhia.

Para fechar a conta, a empresa cortou parte dos investimentos de 2015. Assim, com todo o caixa que vai gerar, ela paga seus juros e dívidas, investe o que se comprometeu a investir e, no fim das contas, ainda sobram uns US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões, segundo dados da própria Petrobras.

O problema é que o que vai sobrar para 2016 é menos da metade do caixa da empresa no início deste ano. Isso significa que, sem fazer drásticas reduções de gastos e de investimentos, a empresa dependerá dos bancos e dos investidores internacionais para fechar a conta do próximo ano. Ou então, terá de apelar para um aporte de capital do governo federal, o que significaria, na prática, uma reestatização da empresa. Uma fonte próxima à estatal diz que a Petrobras precisa de pelo menos US$ 15 bilhões em caixa para manter suas atividades.

"Neste ano, a empresa não precisará de financiamento externo. Mas isso vai significar também que não terá nenhum colchão para 2016", resumiram em relatório os analistas do banco Credit Suisse.

A situação da Petrobras poderia ser comparada à do setor elétrico, que no ano passado confiou que a chuva viria, enchendo reservatórios das hidrelétricas (o caixa do setor) e evitando assim um racionamento. No setor elétrico, a situação se complicou, pois a chuva não veio e o caixa do setor está nos menores níveis de todos os tempos.

Para a petrolífera, a situação de seca aguda pode se configurar se ela não conseguir publicar seu balanço auditado. Mas, mesmo que consiga honrar com esse compromisso, a tarefa da empresa é ainda manter suas notas de classificação de risco para que bancos e investidores financiem a empresa no próximo ano.

Antecipação

A sobrevivência da companhia neste ano está hoje diretamente relacionada à sua capacidade de publicar seu balanço anual, até junho, com o aval dos auditores externos, no caso a PriceWaterhouseCoopers. Sem esse aval, até a data estipulada, cerca de US$ 60 bilhões, segundo cálculos estimados pelo banco Morgan Stanley, poderão ser cobrados antecipadamente pelos credores da companhia. E aí caixa nenhum iria resistir.

Para lembrar, a Price deixou de dar seu aval em função das investigações da Operação Lava Jato e exigiu que a companhia fizesse sua própria varredura para identificar o que precisa reconhecer de perdas ou superfaturamento. A empresa chegou a publicar suas informações do terceiro trimestre com dois meses de atraso para tentar fazer essa conta, mas não conseguiu colocar esses números na contabilidade.

A situação é tão urgente que, como destaca o banco UBS em seu relatório mais recente, a presidente da Petrobras, Graça Foster, comprometeu-se em publicar os números de 2014 antes do prazo estimado nas cláusulas de seus empréstimos, nem que isso signifique fazer uma reavaliação de ativos "politicamente hostil". Ou seja, a diretoria será conservadora e está disposta a reconhecer, entre as diferentes opções de metodologia de cálculos, aquela que apontar o maior valor de reavaliação de ativos, independentemente se isso desagrade este ou aquele setor do governo, esta ou aquela vertente política.

Na semana passada, a empresa divulgou que cerca de R$ 88 bilhões de ativos da companhia estão superavaliados, mas que nem tudo está ligado à corrupção. Outros R$ 27 bilhões estariam subavaliados, dando um ajuste líquido de R$ 61 bilhões. Esses números foram obtidos em uma análise de 31% dos ativos da Petrobras, que estão sob a mira da Lava Jato. O outro número que poderia ser usado é o de R$ 4 bilhões, referentes aos 3% mencionados pelos delatores como pagamento de propina.

Fio da navalha

Todo este cenário de caixa traçado pela Petrobras pode ser afetado por inúmeras variáveis ao longo do ano. A empresa responde a processos judiciais promovidos por acionistas minoritários nos Estados Unidos que cobram indenizações pela deterioração do preço de suas ações, e não se sabe o custo que isso terá. Também terá de se acertar com as autoridades americanas, que enquadraram a empresa na lei anticorrupção, e multas pesadas podem estar no caminho da companhia. Advogados preveem que o caso Petrobras será o mais caro da história. Até então, tinha sido o da Siemens, em que a empresa pagou multas de US$ 2 bilhões, além dos cerca de US$ 3 bilhões que gastou para fazer sua própria investigação.

No mercado internacional, o preço do petróleo tem ajudado o caixa da companhia, que ainda é grande importadora do combustível para poder fornecer gasolina e diesel. Se o preço fosse repassado ao consumidor, o custo da gasolina cairia e a Petrobras teria menos receita. Mas de 2011 até o ano passado, a empresa também poderia ter repassado os altos custos do petróleo e não o fez, o que lhe tomou US$ 30 bilhões em caixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoCrises em empresasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisIndústria do petróleoPetrobrasPetróleo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame