Monteiro: entre as principais preocupações com as atividades da Petrobras daqui para a frente estão os seus planos de investimento, enxugados desde 2016 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Carolina Unzelte
Publicado em 1 de junho de 2018 às 17h51.
Última atualização em 4 de junho de 2018 às 15h26.
Para uma saída repentina, uma solução rápida. A Petrobras definiu, pouco depois das 17h desta sexta-feira, que o ex-diretor financeiro, Ivan Monteiro, é o novo presidente interino da estatal. Monteiro era braço direito de Parente e, segundo o jornal O Globo, só aceitou assumir o posto quando o presidente Michel Temer lhe garantiu que não haverá interferência política.
É duro de acreditar. De qualquer forma, Monteiro é um nome que tende a ser recebido pelo mercado porque dará continuidade a projetos importantes deixados no meio do caminho por Parente. Gerir uma petroleira que faturou 22 bilhões de reais apenas no primeiro trimestre de 2018, é uma tarefa que exige habilidades que vão além de um bom trânsito com o governo. E no preciso momento a Petrobras vive um momento decisivo nas frentes financeira e operacional.
A intervenção do governo federal nos preços dos combustíveis não é o único desafio esperando pelo novo presidente da Petrobras. Várias melhorias operacionais implementadas nos últimos dois anos também estão ameaçadas com a saída de Pedro Parente do comando da companhia, anunciada hoje após as críticas à política de ajustes do diesel e da gasolina ganharem força durante a greve dos caminhoneiros.
Entre as principais preocupações com as atividades da Petrobras daqui para a frente estão os seus planos de investimento, enxugados desde 2016 diante das contingências financeiras enfrentadas pela petroleira controlada pelo governo brasileiro, e a estratégia de venda de ativos para reduzir o endividamento da companhia. A empresa pretendia se desfazer de um patrimônio no valor de 16 bilhões de dólares – incluindo refinarias e participações em campos de petróleo – até o fim de 2018, de modo que a sua dívida caísse de 3,2 vezes o seu resultado financeiro no primeiro trimestre do ano para o equivalente a 2,5 vezes em dezembro.
“Esses temas serão decisivos para qualquer decisão de investimento na empresa sob uma nova administração”, escreveu Rodolfo Angele, analista do banco americano J.P.Morgan em relatório para clientes nesta sexta-feira. Se antes recomendava a compra das ações da Petrobras, o banco hoje retirou essa orientação, preferindo adotar uma postura cautelosa até que as novas diretrizes da companhia fiquem mais claras.
Minimizando a notícia da demissão de Parente, a manutenção dos demais membros da diretoria da petroleira está sendo vista como positiva pelo mercado financeiro.
“A Petrobras nunca foi um show de um homem só, e a excelência técnica da companhia permanece intacta”, Andre S. Hachem, analista do banco Itaú BBA escreveu em relatório a clientes. “Não esperamos nenhum tipo de impacto nas metas de produção da empresa em consequência da saída de Parente.”
Essa é a mesma expectativa do J.P.Morgan, que prevê que a produção de petróleo da Petrobras em território brasileiro cresça para 2,31 milhões de barris por dia no final de 2019 ante 2,14 milhões de barris por dia no final de 2017. “E, o que é mais importante, cerca de 75% dessa produção deve ser mais lucrativa, porque vem do Campo de Búzios, que opera sob o regime de partilha. Nesse regime, a Petrobras paga apenas 10% de royalties, sem outras tarifas para o governo”, escreveu Angele. “Se a empresa conseguir recuperar a confiança dos investidores, o preço da sua ação pode voltar a subir.”
O papel preferencial da Petrobras fechou em queda de 14,7% hoje, vendido a 16,19 reais na B3, a bolsa brasileira. A ação ordinária recuou o mesmo percentual, para 18,92 reais.