Petrobras alerta para risco de desabastecimento do gás de cozinha
Presidente da Petrobras diz que proposta de usineiros de aumentar imposto sobre gasolina pode provocar redução do gás de botijão
Agência O Globo
Publicado em 17 de abril de 2020 às 16h14.
Última atualização em 17 de abril de 2020 às 16h27.
O presidente da Petrobras , Roberto Castello Branco, disse que, se houver um aumento do imposto sobre a gasolina, como defende o setor produtor de etanol, poderá haver um desabastecimento do GLP (gás de botijão) no Brasil. A afirmação foi feita em uma coletiva de imprensa transmitida pela internet, nesta sexta-feira.
Nos últimos dias, a Unica, que representa os produtores de etanol, enviou ao governo um pedido para aumentar a alíquota do Cide por litro de gasolina A (gasolina pura) dos atuais R$ 0,10 para R$ 0,50. Isso ocorre em meio à queda do preço do barril de petróleo, abaixo dos US$ 30, e à forte queda do consumo de combustíveis no país por conta da pandemia do novo coronavírus .
"Etanol e gasolina são produzidos na mesma unidade. Ao incentivar o etanol, vamos reduzir a produção de gasolina. E reduzindo a produção de gasolina, há redução de GLP. Isso nos levará a necessidade de importar mais GLP. E, como existe uma capacidade limitada de internação (importação) do GLP importado, há um risco de desabastecimento do mercado brasileiro. Por isso, os proponentes dessa medidas precisam refletir sobre essa medida e as consequências para os consumidores brasileiros que serão seriamente afetados nesse momento", afirmou Castello Branco.
O executivo destacou ainda que o Brasil, por uma questão sazonal, começa a ter um maior consumo de GLP no segundo semestre. De acordo com Castello Branco, em abril foram importados 350 mil toneladas de GLP, o suficiente para abastecer o mês de abril e maio.
"No momento estamos importando GLP para garantir o abastecimento. Com o outono e o inverno, a demanda por GLP aumenta no Sul e Sudeste. Se colocar impostos em gasolina para beneficiar o etanol, terá impacto negativo", disse o executivo.
Anelise Lara, diretora executiva de Refino e Gás Natural, que também participou da coletiva, endossou o argumento de Castello Branco. Ela criticou ainda a possibilidade de se aumentar o nível de subsídio em um combustível que já é subsidiado. Para ela, isso pode levar a uma desorganização na cadeia produtiva:
"Se aumentar o imposto, a gasolina fica menos competitiva no momento de menor demanda. O etanol já é muito privilegiado em termos de subsídio e impostos menores. E se houver subsídio para um derivado pode acarretar na desorganização na cadeia. E vamos ter que produzir menos gasolina, reduzindo o GLP e aí sim podemos ter um cenário de desabastecimento de GLP no mercado", ressaltou a diretora.
O presidente Castello Branco lembrou ainda que as medidas que vêm sendo adotadas para a redução de custos tem o objetivo de preparar a companhia para enfrentar o pior cenário possível e sair até mais fortalecida.
"Dado o ambiente de incertezas estamos preparados para sobreviver diante do pior cenário possível, olhando sempre a longo prazo. A Petrobras não vai quebrar graças ao esforço de seus profissionais altamente qualificados. Ela vai prosperar, não está pedindo nenhum benefício do governo, não está pedindo privilégios, ao contrário de alguns setores que considero capitalistas inimigos do capitalismo", ressaltou Castello Branco.
Segundo o presidente, permanece inalterado o programa de venda de ativos, apesar de admitir que sofrerá atrasos. Castello Branco voltou a garantir que todas as medidas visando corte de custos não implicarão demissões de empregados na Petrobras.
"Não vamos praticar demissão em massa. Nossa principal preocupação é com a saúde de nossos empregados, com a sobrevivência de nossa companhia e que se recupere e cresça mais forte do que é. Estamos preservando e aumentando a liquidez da companhia cortando custos, mas sem recorrer a demissões. Quanto aos terceirizados não são empregados da Petrobras, são as empresas fornecedoras de mão de obra", ressaltou Castello Branco.