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Parente diz que sua permanência na Petrobras “deixou de ser positiva”

Em carta de renúncia, executivo afirmou que “as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas”

Pedro Parente: "me sinto autorizado a dizer que o que prometi foi entregue" (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Pedro Parente: "me sinto autorizado a dizer que o que prometi foi entregue" (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 1 de junho de 2018 às 12h26.

Última atualização em 1 de junho de 2018 às 12h33.

São Paulo – Em um movimento que abalou o mercado na manhã desta sexta-feira, 1º de junho, Pedro Parente apresentou sua renúncia ao cargo de presidente da Petrobras. Ele tinha contrato com a companhia até março de 2019.

A companhia informou que, ao longo do dia, o conselho de administração da estatal irá analisar a possibilidade de nomear um presidente interino.

As ações da Petrobras entraram em leilão nesta manhã, assim como os papéis da BRF, companhia da qual ele é presidente do conselho de administração.

Em sua carta de demissão, o executivo informou que, em dois anos à frente da petroleira, lançou bases para a recuperação da economia, que enfrentava pesadas dívidas, prejuízos bilionários e crise de imagem por conta da Operação Lava Jato.

“A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país”, afirmou.

No entanto, a companhia e sua gestão passaram por pesadas críticas durante a última semana, por conta da política de preços adotada em julho do ano passado. Desde então, os valores dos combustíveis nos postos passaram a mudar com frequência, ajustados de acordo com variáveis como câmbio e preço internacional do barril de petróleo.

A política, elogiada pelos investidores, desencadeou uma greve dos caminhoneiros.

“A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento", escreveu Parente em sua carta.

Para acabar com a greve, o presidente Michel Temer anunciou redução no preço do diesel por 60 dias.

Ao chegar à Petrobras, Parente afirmou que deixaria o posto se o governo obrigasse a empresa a precificar combustível abaixo do preço de mercado.

Hoje, ele escreveu ao presidente pedindo para “registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras."

Veja abaixo a íntegra da carta de Pedro Parente.

 

“Em 01 de junho de 2018

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

Respeitosamente,

Pedro Parente”

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