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Para escapar da “fritura” na empresa, o melhor é não cair nela

Caso de Roger Agnelli, na Vale, mostra que dificilmente é possível parar a fritura, depois que ela começa

Roger Agnelli foi para a frigideira por não seguir as regras do jogo político (Matt Writtle/ Vale)

Roger Agnelli foi para a frigideira por não seguir as regras do jogo político (Matt Writtle/ Vale)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2011 às 12h17.

São Paulo – É muito difícil escapar da fritura. Tão difícil que nem mesmo Roger Agnelli, que está de saída da presidência da Vale, conseguiu escapar. Seja por resultados insatisfatórios ou por falta de tato no jogo político, qualquer executivo está sujeito à ameaça de ser retirado do cargo. Apesar de ser um movimento sutil, é possível agir rápido e perceber o risco antes do pior.

Agnelli, por exemplo, já estava na frigideira desde o governo Lula, quando os atritos sobre a condução da empresa começaram a surgir entre eles. Esse processo culminou no anúncio de Murilo Ferreira para o cargo de presidente da mineradora, a ser empossado em 22 de maio.

Segundo Edson Rodriguez, vice-presidente da consultoria Thomas Brasil, situações como essa são muito antigas. No império, o governante, que sempre cumprimentava um determinado cortesão antes dos outros, passava a cumprimentar outro na frente – um sinal de que o antigo aliado havia caído em desgraça. Hoje, dentro das empresas – e até nos governos – a manifestação é semelhante.

“No mundo moderno, o executivo sente o cheiro de fritura a partir do momento em que é excluído do processo de decisão para o qual, normalmente, ele teria sido chamado para ajudar. Se ele não for convidado para a decisão, ele pode ficar de orelha em pé”, afirma. Se você deixou de ser convidado para reuniões importantes, viu projetos relevantes serem passados para outro gestor, teve seu orçamento reduzido ou parte de sua equipe já flerta com outro líder, creia: você já está sendo cozido em fogo brando.


É claro que não adianta ficar paranoico, mas o especialista recomenda atenção a esses sinais e perspicácia para não ser pego de surpresa. O contexto pode dizer muito sobre os motivos da exclusão. O poder do executivo pode ser esvaziado, porque já existe uma pessoa destinada ao seu lugar ou porque não entregou os resultados desejados ou, ainda, cometeu algum erro na gestão.

Jogo político

Para a professora do Ibmec MG, Clara Linhares, a fritura de executivos pode começar pela insatisfação do mercado com o desempenho da empresa. No entanto, o jogo político e de interesses tem um papel decisivo nessa dinâmica. Alguns dos indícios de que a política não está sendo seguida de forma adequada são as conversas informais de corredor e a rede de contatos estremecida. Por isso, ao sentir que estão na berlinda, a especialista aconselha os profissionais a reavaliar e mudar suas estratégias e, se preciso, até a mudar de grupo ou refazer o networking para dançar conforme a música e escapar da fritura.

Da mesma forma que as conversas de corredor podem ajudar o executivo a ver que está sob ameaça, essas relações podem ajudar a resgatar sua imagem. “Uma das coisas que ele pode fazer é tentar um pouco de vida social com os pares e com a cúpula. Isso não quer dizer que deve ser um puxa-saco, mas sim ter um interesse genuíno em ter uma vida social para participar de conversas e bancar um espião para si próprio e descobrir o que está havendo”, afirma Edson Rodriguez.

Com os aliados certos e ação rápida, a fritura pode ser evitada. Um exemplo é o da temida editora-chefe da revista americana Vogue, Anna Wintour, cuja história foi representada no filme O Diabo Veste Prada e interpretada pela atriz Meryl Streep. “Ela, na vida real, quase foi retirada do cargo, mas, usando uma boa rede de contatos, conseguiu impedir sua fritura”, diz Clara Linhares. Roger Agnelli, da Vale, não teve a mesma sorte. Se estivesse na Roma antiga, teria visto a presidente Dilma Rousseff cumprimentar Murilo Ferreira antes dele – um sinal de que seria entregue aos leões.

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