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Para além dos restaurantes, iFood coloca QR Code em bancas de jornal

Iniciativa expande atuação da Movile Pay, braço de pagamentos do grupo dono do iFood. Foco é aumentar familiaridade do usuário com o formato

Totem da Movile Pay na avenida Paulista: poucas lojas que aceitam QR Code e carteiras que não se conversam são barreiras à disseminação da tecnologia (Movile Pay/Divulgação)

Totem da Movile Pay na avenida Paulista: poucas lojas que aceitam QR Code e carteiras que não se conversam são barreiras à disseminação da tecnologia (Movile Pay/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h23.

Comprar uma revista ou um fone de ouvido em uma banca de jornal e pagar pelo aplicativo do iFood passou a ser possível nas últimas semanas. A Movile Pay, braço de pagamentos da Movile, dona do iFood, está testando a tecnologia de pagamento por QR Code em seis bancas de jornal na avenida Paulista. 

O processo é o mesmo dos QR Codes da Movile Pay já disponíveis em alguns restaurantes. Por ora, todas as bancas participantes estão restritas à avenida Paulista, com planos de expandir para outras 10.000 bancas. O objetivo no futuro é “chegar a todas as bancas do Brasil”, afirma Daniel Bergman, presidente da Movile Pay, que falou com exclusividade a EXAME sobre a iniciativa. 

Para pagar, o cliente precisa abrir o aplicativo do iFood e aproximar a câmera da pequena plaquinha com o QR Code disponível no estabelecimento. O pagamento é feito pelo próprio celular do usuário, com o cartão de crédito cadastrado no iFood, e depois é recebido pelo dono da banca. 

O pagamento por QR Code em restaurantes, primeira empreitada do Movile Pay com essa tecnologia, foi lançado em fevereiro deste ano. Inicialmente, a empresa tinha 3.000 restaurantes cadastrados, e, seis meses depois, chegou a mais de 10.000 restaurantes. A Movile Pay não divulga o número de usuários que usam a solução nem quantos pagamentos processa por dia.

A ideia de expandir a opção para bancas de jornal veio, segundo Bergman, para ampliar a exposição dos usuários ao pagamento por QR Code e, assim, tornar a tecnologia mais conhecida. “Entendemos que a entrada nas bancas aumenta a capilaridade. São muitas pessoas que passam todo dia pelo mesmo local”, diz o executivo. 

Além disso, as bancas e parte dos restaurantes cadastrados para pagamento com QR Code não estavam anteriormente na plataforma de pedidos de delivery do iFood. Existem restaurantes, por exemplo, cuja comida não é própria para delivery. Assim, a carteira digital faz a Movile atingir um novo braço de parceiros no mundo físico, diz Bergman. 

Pagamento por QR Code: bancas tem menor ticket médio, mas aumentam capilaridade do serviço, diz presidente da Movile Pay (Movile Pay)

QR code é o novo cartão?

O QR Code, ou quick response code (código de resposta rápida, em português), é como um leitor de código de barras. A diferença é que, em vez de barras na horizontal, tem barras também na vertical, o que aumenta as possibilidades de leitura. O código pode ser lido por qualquer celular com câmera, um programa que faça a leitura do código e conexão à internet. 

Para o usuário, a vantagem é que pagar por QR Code dispensa o uso de cartão ou dinheiro, com o pagamento podendo ser feito apenas pelo celular. O QR Code pode ser também de uma empresa cuja carteira digital permita recarga por boleto bancário, o que ajuda os mais de 45 milhões de desbancarizados no Brasil, isto é, pessoas que não têm ou não movimentam conta bancária. 

O estudo “Novos Meios de Pagamento”, realizado neste ano pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), ouviu 500 pessoas de diferentes idades, rendas e regiões do país e apontou que 17% dos consumidores utilizam QR code para pagamentos em lojas físicas. A fatia totalizaria mais de 30 milhões de brasileiros que afirmam usar a tecnologia para compras. (A margem de erro é de quatro pontos percentuais.)

No mesmo estudo feito no ano anterior, em 2018, o QR Code sequer obteve respostas, o que mostra um crescimento expressivo. Ainda assim, os campeões seguem sendo dinheiro (68% dos usuários usam o papel para pagamentos em lojas físicas), cartão de crédito parcelado (62%), crédito à vista (59%) e débito (54%). Os pagamentos por aplicativo (como Samsung Pay e Apple Pay) em lojas físicas também cresceram, de 4% para 24%. 

QR Code e aplicativos também são os meios de pagamento que os usuários responderam que mais gostariam de utilizar, mas não utilizam (20% e 17% dos entrevistados citaram aplicativo e QR Code, respectivamente). Uma das barreiras é que a própria aceitação dos estabelecimentos ainda é baixa se comparada a cartões ou dinheiro, mostra o estudo. 

No processo de popularizar o pagamento pelo código, um dos desafios é a própria educação do usuário para usar a ferramenta, diz Bergman. O executivo afirma que o ticket médio nas vendas em bancas de jornal é menor que em um restaurante, mas a Movile investiu no projeto mesmo assim por avaliar que o principal ganho será em aumentar o uso do código. 

App que não acaba mais 

A Movile Pay é uma entre as muitas empresas que vêm lançando carteiras digitais e opções de pagamento por QR Code. O Mercado Livre lançou há alguns meses uma parceria com o McDonald’s para colocar o código nos balcões da rede de fast-food. O PicPay, maior carteira digital do Brasil, com 10 milhões de usuários, fez uma parceria com a Cielo para pagamento por QR Code nas maquininhas da adquirente.

O QR Code da Cielo também é aceito em outra dezena de carteiras digitais, como as contas digitais BanQi (da Via Varejo) e Next (do Bradesco). Outras adquirentes, como GetNet (do Santander), Stone e PagSeguro também têm opções de QR Code. O banco Itaú lançou neste ano a Iti, que permite a lojistas aceitar pagamento por QR Code de usuários de todos os bancos, desde que o cliente tenha o aplicativo instalado. E a lista continua. 

Para além de aceitação dos restaurantes e conhecimento do usuário, uma das principais barreiras que pode frear o crescimento no uso do QR Code é, justamente, o excesso de opções. Embora o código QR seja universal, os aplicativos com carteira digital que aceitam pagamento por esse meio não se conversam, o que obrigaria o consumidor a ter dezenas de aplicativos diferentes instalados no celular.

Bergman aponta que, em alguns estabelecimentos, já é comum ver o QR Code do iFood ao lado do de mais de uma concorrente, de modo que o cliente pode escolher sua preferida. Na prática, contudo, o mais comum é que cada loja tenha parceria com uma carteira diferente, o que ainda dificulta a vida do usuário. 

No passado, questão semelhante acometeu as maquininhas de cartão. Até 2010, o mercado era controlado por Cielo (antiga Visanet) e Rede (antiga Redecard), e cada uma só aceitava cartões de Visa e Mastercard, respectivamente. Uma regra do Banco Central de 2010 fez cair a exclusividade das bandeiras. 

A regulação do Banco Central também abriu espaço para o surgimento, ao longo dos anos, de novas concorrentes. Hoje, é raro encontrar um terminal de pagamento que não aceite determinada bandeira de cartão. 

“O que aconteceu com as maquininhas foi bom para todo mundo, fez o lojista ganhar mais. Para o QR Code, a discussão de uma padronização também já existe, e é natural que ela evolua com o tempo”, diz Bergman. Por ora, no entanto, o foco das empresas está mais em colocar seus produtos na rua, diz o executivo. “No futuro, as empresas podem começar a fazer parcerias e ter sucesso. As empresas com agenda de colocar o consumidor no centro vão naturalmente conversar [para unificar o QR Code]”, afirma. 

Bergman diz que a carteira digital da Movile Pay cresce na casa de três dígitos todos os meses. “O nosso maior concorrente não são outras carteiras, mas é sempre o dinheiro. Mudanças em meio de pagamento são lentas”, diz. Ainda há um longo caminho a percorrer até que sacar o celular para uma compra seja tão normal quanto inserir um cartão em uma maquininha ou pegar dinheiro na carteira. 

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