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Preparem-se para 2019, avisa presidente da consultoria Ascential

O presidente da consultoria conversou com EXAME Hoje sobre as perspectivas da companhia e os próximos passos no negócio de previsão de tendências

Duncan Painter: a Ascention traça previsões de mercado para evitar que as decisões tomadas agora sejam ruins no futuro (foto/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2017 às 14h49.

Última atualização em 5 de julho de 2017 às 17h12.

A consultoria Ascential tem o trabalho de traçar tendências para evitar que grandes projetos se tornem um desastre em termos de investimento no futuro. Entre as empresas que fazem parte da Ascential, há companhias como a consultoria de moda WGSN, a companhia de risco ambiental Groundsure e a empresa de análise de e-commerce One Click.

De 2011 a 2017, a Ascential ampliou o faturamento de 1 milhão de dólares para 12 milhões no Brasil. O presidente da consultoria, Duncan Painter, esteve no país e conversou com EXAME Hoje sobre as perspectivas da companhia, os próximos passos no negócio de previsão de tendências e a ampliação para outros segmentos de mercado.

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Vocês estão sempre construindo novos produtos e também melhorando os que já têm para medir as tendências dos mercados. O que está sendo desenvolvido nesse setor atualmente?

Muito do que estamos fazendo agora é sobre os produtos que começaram a chegar no mercado nos últimos anos, mas aplicando inteligência sobre isso. O que fazemos pelas companhias é informá-las e conectá-las. Nós informamos nossos clientes com conhecimento sobre o que fazer ou temos grandes plataformas que podem conectá-los e, juntos, eles podem compartilhar conhecimento. O próximo passo é como ir de “informado e conectado” para “solucionado”. Muito do que estamos fazendo agora é pensar em como podemos utilizar poderes computacionais inteligentes para colocar todo esse conhecimento em algoritmos. Assim conseguiremos monitorar grandes volumes de dados e dar aos clientes um grande aspecto de vigilância sobre suas marcas.

Ampliar os serviços da WGSN e da Ascential para outros segmentos poderia ser considerado um reposicionamento? A WGSN sempre foi conhecida como uma agência extremamente especializada em tendências para o varejo de moda…

Eu não tenho certeza que estamos nos reposicionando. Nós certamente estamos estendendo os serviços que provemos aos nossos clientes. Principalmente porque nossos clientes estão vivendo mudanças mais dramáticas do que eles tiveram nos últimos 20 anos. Conforme as demandas e necessidades dos consumidores mudaram, os fornecedores tiveram que mudar a maneira que servem a essas pessoas. Organizações como a varejista Inditex [dona da Zara], que é um dos nossos maiores clientes globais, ou ainda H&M e outras grandes marcas de consumo de massa, estão mudando o ciclo de como as coisas funcionam, combinando com operações online. O que provemos para essas marcas é informação para um mercado que fica cada vez mais difícil. O varejo de moda é a única indústria do mundo que está a 7 anos seguidos, mundialmente, com uma depreciação no preço. Todos os anos, as companhias de varejo de moda, a menos que sejam uma marca de luxo, precisam vender 7% mais apenas para continuar no mesmo patamar de faturamento. Isso significa que todos os anos elas tem que ser 7% mais capazes e mais eficientes, e isso é repassado pra gente. É uma demanda de nossos clientes que possamos provê-los com mais ferramentas, mais inteligência sobre como coordenar seus negócios para simplesmente continuarem mais competitivos no ramo. Além disso, hoje em dia não há uma companhia que não tenha atrelado ao seu produto uma questão de experiência e design, desde óculos a hotéis. Não somos nós, a WGSN, que estamos mudando, mas todo o segmento em si que demanda mais de nós.

Alimentos, bebidas, hotéis são todos segmentos muito diferentes uns dos outros. Como a WGSN planeja abordar esses ramos em prol de ajudá-los na previsão de tendências?

Novos produtos. Usando muitas das metodologias e técnicas que já tínhamos, aplicadas a um diferente espírito. Já servimos diversas redes de aviação e cadeias de hotéis, por exemplo. A tomada de decisão nesses ramos é ainda mais crítica do que a típica marca fashion, porque se você prepara e faz o design de 2.000 aviões isso custa 200 bilhões de dólares. Elas perceberam, por aquilo que fazemos para outras indústrias, que eles precisavam da mesma vantagem em termos de tendência para tentar diminuir o risco na gestão de seus próprios negócios. A mesma coisa é verdade no ramo hoteleiro. Abrir um hotel fora de conceito na beira-mar do Rio de Janeiro e entender errado as tendências é um erro de 50 milhões de dólares. É isso que eles nos pedem para fazer. Nós somos os líderes em prever as tendências no mundo fashion, mas estivemos tanto tempo focados nisso que esquecemos tantas outras indústrias que poderiam usar nossa expertise e agora queremos focar cada vez mais nisso. Então nos tornamos uma grande empresa de tendências, não só para o varejo de moda, mas para qualquer companhia que precise prever tendências de consumo de uma maneira mais ampla.

Falando de empresas pequenas, especialmente no segmento de moda, muitas delas têm trabalhado nos conceitos de “conheça suas fábricas”, transparência, slowfashion, sustentabilidade. Como vocês veem isso?

Sustentabilidade é de fato um dos grandes tópicos atualmente na moda. Cerca de 40% do conteúdo gerado sobre esse mercado cobre assuntos relacionados à sustentabilidade. Nós temos experts e pessoas que visitam fábricas e ouvem diretamente as marcas. Eles estão na China ou na Alemanha, indo a marcas como Adidas e tantas outras, para entender quais serão os próximos padrões de sustentabilidade nos próximos 10 anos e assim podemos traçar estratégias para atender a esses padrões. Já chegou o dia em que a indústria de moda percebeu que não podia continuar atuando de uma maneira predatória.

Falando um pouco do Brasil, nós estamos saindo de uma grande depressão, que afetou severamente setores como, por exemplo, o varejo. Quais tendências podemos esperar por aqui e como esse mercado pode prevê-las para se recuperar?

As recessões geralmente têm um grande pró e um grande contra. Você acabou de descrever um grande contra, porque principalmente aqui no Brasil ainda se está vivendo isso. Mas há um grande pró também, especialmente em mercados emergentes, onde há muitas companhias boas e muitas companhias ruins. E o que você tende a achar em uma recessão é que as companhias que saem mais fortes dela são genuinamente as boas companhias. Nosso trabalho atualmente com essas companhias é muito parecido com o que fizemos em 2011 e 2012 com empresas na Europa: ajudá-las a entender e a sair do processo de recessão com uma empresa mais eficiente, mais efetiva, mais focada, com melhores produtos, escutando aos consumidores mais do que nunca. Eu realmente penso que veremos no futuro um crescente mercado brasileiro, mas isso tem, de novo, prós e contras. Se eu fosse dono de uma fábrica de roupas brasileira de qualquer tamanho, e eu não tivesse muito ideia de como eu alavancaria meu comércio online, e eu não estivesse pensando em como construir uma grande expansão para outras regiões e ser totalmente competitivo, eu estaria amedrontado. Porque eu creio que, no momento em que este mercado sair da recessão, a maioria dos grandes players internacionais irá entrar no Brasil de forma severa. E a competição no país vai decolar. Nossa mensagem para nossos clientes no Brasil é realmente simples: se preparem para 2019 e 2020, pois haverá muitas oportunidades e crescimento, mas só para aqueles que quiserem crescer.

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