Operação latina da Bayer Pharma está na mão de brasileiros, e não é à toa
Adib Jacob, presidente da divisão de farmacêuticos da Bayer na América Latina, falou com exclusividade à EXAME sobre os planos da companhia na região
Marina Filippe
Publicado em 6 de novembro de 2020 às 07h00.
Em janeiro, a multinacional química Bayer mudou dos Estados Unidos para o Brasil a operação da divisão farmacêutica que cuida de todos os países da América Latina. Com a novidade, o executivo Adib Jacob, que já comandava a operação brasileira, acumulou também a chefia dos outros países da região.
Desde então, seu objetivo foi montar um time de lideranças, reforçar a cultura de negócios locais e reavaliar as estratégias dos próximos anos. “O Brasil representou 50% do negócio da Bayer Farma na América Latina em 2019. Estar bem estruturado aqui é muito importante para a evolução do negócio”, disse em entrevista exclusiva à EXAME.
Na mudança o quadro de funcionários cresceu em cerca de 8% e o time que já operava os trabalhos do país foi remajeado para centralizar todas as demandas da América Latina. Mesmo com a inesperada pandemia no início da transição, o executivo afirma que a positividade nos negócios continuou e um crescimento de dois dígitos é continua esperado neste ano, assim como ao menos nos três seguintes. Isto se deve especialmente pelos sete lançamentos desde 2019, focando em câncer colorretal, câncer de próstata e hemofilia, e saúde da mulher. “As inovações trouxeram um crescimento de 12% no ano passado e isso deve continuar acontecendo até 2024”, diz.
Parte da estratégia que garante esse resultado está vinculada ao Sistema Único de Saúde brasileiro -- a empresa espera que metade da venda dos medicamentos correspondam às vendas para o órgão. “O legado da Bayer no varejo, com produtos como a Aspirina, ajudam a manter os negócios, mas vemos um potencial em grandes pagadores que trabalham com doenças complexas, como as secretarias de saúde estaduais e a federal”, diz Jacob.
Além da demanda brasileira, a companhia conta também com o negócio dos outros países da região. “Países como Brasil, México, Colômbia e Argentina sofrem muito com o grande número de infecções da covid-19. Nosso papel é cuidar das pessoas e continuar inovando neste momento, pois as outras doenças continuam ocorrendo”.
A partir disto, a empresa colocou em prática uma série de ideias, como a parceria com aplicativos de transporte para levar os doentes aos seus centros de tratamento, bem como o patrocínio de teleconsultas. Para o representante de vendas, a Bayer investiu no auxílio para as entregas de materiais de amostragem para os médicos. “Colocamos de pé processos ágeis, que antes levariam meses para acontecer”.
Outro ponto importante para o executivo é o atento olhar de todos para a medicina. “Nunca se confiou tanto na indústria e se reconheceu o nome dos fabricantes de medicamentos. Em um país em que muitos não têm ao menos saneamento básico, se reforça a importância da saúde, da prevenção e da agilidade dos processos de todos os que atuam na da indústria”.
No mundo, a divisão farmacêutica da Bayer registrou no último trimestre queda de 1,8% nas vendas para cerca de 4,2 billhões de euros. Mas, na América Latina, foram 184 milhões de euros em vendas, um aumento de 8,4% em relação ao mesmo período de 2019, desconsiderando o efeito cambial. No acumulado dos três trimestres o aumento na região foi de 6,9%.
Por aqui, há rumores de que a fábrica de Cancioneiro, em São Paulo, que produz hormônios e contraceptivos estaria a venda por cerca de 300 milhões de reais, mas em nota a empresa afirmou que "A Bayer regularmente realiza revisões estratégicas de seu portfólio tendo em vista as oportunidades de mercado e otimização de recursos. Isso não significa necessariamente que acontecerá alguma transação ou venda ao longo do processo. A companhia não comenta rumores".