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Olimpíada, frio e ajustes afetam resultado da Renner no trimestre

Além dos fatores externos, a varejista precisou paralisar operações nos estoques por 15 dias por conta de uma atualização no sistema de gestão comercial

Renner: de julho a setembro, lucro da empresa foi de 84,90 milhões de reais, queda de 11,5% na comparação anual (Kiko Ferrite/EXAME.com)

Luísa Melo

Publicado em 25 de outubro de 2016 às 18h19.

Última atualização em 26 de outubro de 2016 às 10h44.

São Paulo - Um "inverno" mais longo, o baixo movimento nos shoppings durante as Olimpíadas, a troca de um sistema de operacional e problemas em duas marcas. Foi nesse grupo de fatores que a Renner "colocou a culpa" pelos fracos resultados que obteve no terceiro trimestre.

De julho a setembro, a varejista de moda teve um lucro de 84,90 milhões de reais, queda de 11,5% na comparação anual. As receitas líquidas totalizaram 1,45 bilhão de reais, avanço de 1,8% frente a um ano antes.

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As vendas líquidas de mercadorias somaram 1,26 bilhão de reais, alta de 1% contra o mesmo período de 2015. Porém, no critério mesmas lojas, que contempla unidades abertas há pelo menos um ano, houve queda de 3,9% – a primeira desde 2009.

"No trimestre, a maior dificuldade foi em função das Olimpíadas. Até a produção industrial e o nível de serviços caíram porque o pessoal saía do trabalho e ia para casa ver os jogos. Tivemos ainda uma anormalidade (do clima no Sudeste) em setembro e outubro. Nesta última semana, quando o tempo voltou ao normal, as já vendas começaram a se mostrar mais favoráveis", justificou José Galló, presidente da rede, em teleconferência com analistas nesta terça-feira (25).

No que diz respeito às questões internas, o desempenho foi afetado pela atualização dos sistemas de gestão da parte comercial da empresa (ERP), concluída em agosto.

Para migrar os dados da plataforma antiga para a atual, as ordens de pedidos e o recebimento de produtos foram paralisados por 15 dias, o que provocou "um desbalanceamento" de itens nas lojas.

Apesar do inconveniente imediato, o novo sistema trará benefícios no médio prazo. Ele é capaz de processar as informações de 2.000 lojas que possam vir a ser abertas, enquanto o anterior só suportava mais 450.

Também vai permitir a operação de pontos de venda fora do país, o que antes não era possível (a Renner já anunciou que abrirá duas unidades no Uruguai em 2017) e adicionar tecnologias para gestão de estoques.

Outro ponto que atrapalhou os números foi a performance ruim de duas marcas de roupas femininas, que precisaram entrar em liquidação.

Ambas as etiquetas já estão em processo de ajuste desde julho, segundo a empresa, mas os resultados demoram para aparecer devido ao longo ciclo de criação das coleções – o desenvolvimento das peças começa meses antes de elas chegarem ao mercado.

As melhorias incluem uma mudança de gestão, com a vinda de uma executiva de fora para comandar a área responsável.

"Aqui não jogamos problemas para debaixo do tapete. Quando tem que fazer 'markdown' (remarcação de preços) a gente faz logo, para evitar surpresas", afirmou Galló.

Para os próximos meses, a empresa espera resultados mais animadores.

"Acreditamos que o quatro trimestre será melhor. O consumidor tende a comprar mais no fim do ano buscando marcas fortes como a Renner", disse Laurence Gomes, diretor financeiro e de relações com investidores.

Baixa de ativos

No terceiro trimestre, a Renner inaugurou um novo centro de distribuição em Santa Catarina, equipado com um sistema que automaticamente identifica os produtos que faltam nos estoques das lojas e ordena sua reposição, chamado push-pull.

Por isso, desativou um antigo galpão no mesmo estado. O desuso da unidade e também dos equipamentos relacionados à antiga plataforma ERP provocaram uma baixa contábil de 12,2 milhões de reais.

Sem essa revisão de ativos, o lucro da empresa teria atingido 92,3 milhões de reais e a margem líquida (que mede a capacidade de transformar a receita em lucro e ficou em 6,7%) teria chegado a 7,3%. No mesmo período de 2015, o indicador estava em 7,7%.

A queda nas vendas e a abertura de novas lojas acabaram provocando um aumento nas despesas da Renner. Os gastos chegaram a 509,5 milhões de reais, avanço de 10,5% frente o mesmo trimestre do ano passado. Eles corresponderam a 40,4% do faturamento líquido, contra 36,9% um ano antes.

Entretanto, a reoneração da folha de pagamentos também teve impacto nesse ponto. Excluídos esses encargos, as despesas teriam crescido apenas 1,2%.

"Somos uma empresa austera", disse Galló.

A varejista inaugurou 10 lojas no trimestre: seis da bandeira Renner e quatro da Camicado. Os investimentos somaram 106,8 milhões de reais, queda de 35,97% ante os 166,8 milhões de reais aportados em igual intervalo de 2015.

Cartões

O resultado de produtos financeiros da Renner chegou a 65,3 milhões de reais de julho a setembro, crescimento de 36,5% em relação ao mesmo intervalo de 2015.

Os números são consequência da melhora do crédito e da imposição de limites e novas estratégias de cobrança, segundo a companhia.

O "Cartão Renner", principal produto da empresa dentro desse segmento, teve uma participação de 49,5% sobre as vendas de mercadorias no trimestre. Seu tíquete médio ficou em 182,03 reais. Para as vendas da companhia como um todo, o tíquete médio foi de 134,70 reais.

O índice de inadimplência do "Cartão Renner" ficou em 3,3%, abaixo dos 4,2% registrados no terceiro trimestre de 2015.

Sobre uma possível queda dos juros dos cartões da loja caso a taxa Selic também baixe, Laurence Gomes, diretor financeiro, se mostrou resistente.

Ele disse que, para isso acontecer, é necessário considerar outros indicadores macroeconômicos como o desemprego, que ainda deve continuar alto no ano que vem.

"Ainda há um risco no mercado, embora sob controle", afirmou. "É bom ter cautela nessa hora em que há pouca visibilidade".

Leia também:

+ O que faz da Renner a maior varejista de moda do país

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