Ocyan, braço de óleo e gás da Odebrecht, fecha novo contrato com a Petrobras
Empresas voltaram a negociar em 2018, após suspensão, mesmo sem a Ocyan ter envolvimento com a Lava-Jato; agora, novo contrato traz mais otimismo
Victor Sena
Publicado em 10 de março de 2021 às 15h51.
Última atualização em 10 de março de 2021 às 18h25.
Um novo contrato de manutenção e reparo de plataformas em dois campos de petróleo na Bacia de Campos voltou a aproximar os negócios da Petrobras com o grupo Odebrecht.
A Ocyan, braço de óleo e gás do grupo, que foi rebatizado como Novonor, tem celebrado a retomada da demanda por serviços de manutenção em plataformas.
Este é o terceiro e maior contrato que a empresa fecha com a Petrobras no pós Operação Lava-Jato. Ele é da casa de dezenas de milhões de reais e tem a perspectiva de empregar 700 pessoas.
Nos últimos anos, o grupo Odebrecht passou por uma reestruturação focada em compliance e a antiga Odebrecht Óleo e Gás, atual Ocyan, está apta a retomar os contratos com a Petrobras há pouco mais de dois anos.
Desde 2016, todas as empresas do grupo passaram por um processo de monitoramento externo. No fim de 2020, o acompanhamento externo foi encerrado e foi atestada a conformidade da Ocyan.
Para o presidente da empresa, Roberto Bischoff, o novo contrato com a Petrobras indica o início de um momento positivo para a cadeia de petróleo no Brasil.
Isso porque a Petrobras vem se desfazendo de parte de seus ativos, o que traz mais diversidade para o mercado. Nos últimos anos, a empresa tem focado no pré-sal.
“A gente acredita que esse momento em que o Brasil está, de entrada de novos atores e empresas de porte menor, vai trazer oportunidades para a gente porque temos capacidade de oferecer serviços mais amplos. A gente percebe uma retomada”, opina o executivo.
Além da área de manutenção off-shore, a Ocyan atua com afretamento de sondas e plataformas para a Petrobras e outras petroleiras.
Outra vertente de negócio é a montagem de construções submarinas, como dutos e as chamadas árvores de natal, que ficam na entrada dos poços.
“Essas quatro frentes de negócios não é um perfil típico de empresa. Isso foi desenvolvido no Brasil com o boom da produção de petróleo com a visão de construir empresas com soluções completas, mas essa realidade no mundo de petróleo é um pouco diferente. Muito poucas estão em dois negócios desses e ninguém em quatro. Isso tem uma vantagem para a Ocyan. A gente pode racionalizar uma estrutura administrativa para diversos negócios, por exemplo.”
No momento, a empresa tem cinco sondas afretadas pela Petrobras, um tipo de plataforma focada principalmente na perfuração.
Outra petroleira cliente da Ocyan é a australiana Karoon, que comprou o direito de produzir no campo de Baúna da Petrobras, junto da plataforma Cidade de Itajaí, que pertence à Ocyan.
Inovação e meio ambiente
Entre os diferenciais que colocam a Ocyan em uma boa posição para o cenário da exploração de petróleo em alto mar nos próximos anos está a busca por inovação, na visão de Roberto Bischoff.
Como o setor de óleo e gás tem muitas regras e protocolos, sobra pouco espaço para experimentar. A saída para isso foi contar com o apoio de startups.
A empresa seleciona alguns dos desafios que encontra em suas operações e apresenta a startups. Aqueles que conseguem desenvolver projetos pilotos viáveis viram seus fornecedores.
Na última rodada com 12 desafios, 216 empresas se inscreveram para solucionar problemas como o isolamento dos poços em caso de vazamento, automatização de almoxarifado e visitação à distância por câmera em instalações em alto mar.
Independentemente das oscilações no preço do bairro do petróleo, a análise geral do mercado é que o pré-sal brasileiro é muito competitivo.
Em 2020, segundo resultado financeiro da Petrobras, a extração na região custou apenas 2,5 dólar por barril. O custo médio da extração total da empresa, em todos os seus poços, é mais que o dobro, de 5,2 dólar por barril.
Mesmo com um futuro de transição energética, isso não deve dispensar o dinamismo da cadeia de óleo e gás off-shore nas próximas décadas no Brasil, na visão de Bischoff.
“Como prestador de serviço, a gente tem que estar compartilhando com as empresas oil company visões em conjunto, de reduzir emissões em nossas operações. O mundo não vai deixar de precisar de petróleo. Ele vai precisar menos, e por mais que precise menos, o pré-sal é tão competitivo pelo seu custo de extração que ele vai continuar sendo explorado. O pré-sal existe com o petróleo a R$ 45, a R$ 35. Alguns outros campos do mundo não. Ele também produz muitos barris por emissão de carbono, o que não nos impede de buscar a transição energética."