Obra no Rio de Janeiro: canteiros a todo vapor (Pilar Olivares/Reuters)
Juliana Estigarribia
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2020 às 20h50.
Embora a pandemia tenha devastado a economia, um setor conseguiu atuar de forma extremamente resiliente, com retomada rápida e números surpreendentes. Na visão de executivos de construtoras e incorporadoras ouvidos pela EXAME, 2021 deve ser um dos melhores anos para a construção civil no Brasil, com avanço exponencial de lançamentos no mercado imobiliário e expansão da receita.
A projeção ocorre mesmo diante das incertezas que aindam rondam a economia brasileira, com o provável fim do auxílio emergencial e efeitos residuais da crise global.
O nível de atividade da construção civil registrou alta pelo quarto mês consecutivo, o que confirma a tendência de recuperação no setor. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) relativa a novembro, a utilização da capacidade operacional no setor atingiu 63% no período, o maior nível desde dezembro de 2014. A sondagem mostra ainda que a confiança dos empresários permanece em alta no setor.
Para Diego Villar, presidente da Moura Dubeux, a pandemia teve um viés positivo para a construção civil porque as pessoas acabaram fazendo uma reflexão sobre a forma como moram. "O que também contribuiu para o desempenho do setor, neste ano, foi a demanda reprimida. O mercado imobiliário ficou muitos anos sem lançamentos."
Segundo o executivo, 2021 será um dos melhores anos para o mercado imobiliário. "O governo federal deve retomar o caminho do equilíbrio fiscal, em um horizonte de estabilização do dólar e continuidade das discussões acerca de reformas, especialmente a tributária. A demanda ficará ainda mais aquecida", acredita.
O valor geral de vendas (VGV) da empresa alcançou 770 milhões de reais a partir dos lançamentos que começaram, de fato, em agosto. O montante é mais do que o dobro do registrado em todo o ano passado. Para 2021, a Moura Dubeux reserva recorde de lançamentos em toda a história da empresa.
Com a taxa básica de juro (Selic) em mínima histórica, o ambiente é favorável para a compra de imóveis, principalmente na faixa de médio padrão. Para Rodrigo Resende, diretor de marketing e novos negócios da MRV, a Selic pode ter alguma correção no ano que vem, mas ainda de forma tímida.
"Acreditamos que a Selic continuará muito mais baixa do que no passado recente. O Brasil está entrando na tendência global de juros baixos."
Como o financiamento tende a ficar mais atrativo, o setor deve colher frutos dessa política no ano que vem. "Independentemente da pandemia, a taxa de juro continua convidativa para o setor", acrescenta Resende.
A construtora Engeform, que em 2020 somou 1 bilhão de reais somente em obras de saneamento, está se beneficiando do ambiente atual. "A taxa de juro baixa permite melhores condições para a empresa se alavancar e viabilizar negócios que antes não seriam possíveis com patamares mais altos", afirma André Abucham, diretor-superintendente da empresa.
Além do bom desempenho em saneamento, a companhia acaba de fechar um contrato para levantar duas torres corporativas na região da avenida Juscelino Kubitschek, centro financeiro da capital paulista. O JK Square São Paulo terá aproximadamente 70.000 metros quadrados, cinco subsolos e pavimento térreo com 12 lojas, onde será instalada uma área de convivência com espaços para circulação e permanência, em estilo “open mall”.
“A demanda continua expressiva no mercado imobiliário, os escritórios estão passando por uma reinvenção. As empresas terão de adaptar seus espaços para se adequar no pós-pandemia”, diz Eduardo Araújo, gestor de negócios da Engeform.
A Mac Construtora, que em 2020 registrou um VGV de 450 milhões de reais, prevê cinco lançamentos para o ano que vem e um crescimento de 20% da receita.
A construtora aposta no aprimoramento do conceito de moradia em seus novos lançamentos. “As pessoas estão buscando apartamentos mais funcionais, com espaço para home office e áreas comuns em que elas possam conviver com seus familiares”, diz Ricardo Pajero, CEO da área comercial da Mac.
A aposta também é da paranaense Laguna, que neste ano deve somar um VGV de 150 milhões de reais na incorporação, um avanço de 15% sobre 2019. A empresa tem forte atuação em apartamentos acima de 2 milhões de reais.
“Oferecemos conforto acústico e térmico, além de plantas diferenciadas. Isso passou a ser muito valorizado na pandemia”, diz André Marin Laguna, diretor de incorporações do grupo Laguna.
Em um cenário ainda de déficit habitacional e de infraestrutura no Brasil, o horizonte se mostra altamente positivo para os negócios. A aposta do mercado é de forte retomada. Resta saber se os riscos em torno da economia brasileira serão suprimidos e se o setor finalmente poderá usufruir do grande potencial que tanto se fala no país.