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O que um empresário palestino-israelense pensa sobre os influenciadores brasileiros e sobre a guerra

Criador de conteúdo esteve no Brasil para lançar uma plataforma para ajudar outros criadores a monetizarem mais seus conteúdos

Nuseir Yassin, da Nas.io: palestino-israelense tem mais de 35 milhões de seguidores nas redes sociais (Nas.io/Divulgação)

Nuseir Yassin, da Nas.io: palestino-israelense tem mais de 35 milhões de seguidores nas redes sociais (Nas.io/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de outubro de 2023 às 16h22.

Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 17h03.

O criador de conteúdo palestino-israelense Nuseir Yassin tem grandes números nas redes sociais do seu perfil Nas Daily. No Facebook, são 21 milhões de seguidores. No YouTube, 12,7 milhões. No TikTok, 7 milhões. No Instagram, 4 milhões. Mas talvez o número mais importante para ele seja outro: o de 1 minuto. Esse é o tempo de duração dos vídeos que produz — e foi assim que Yassin fez sucesso. “Eu fiz um desafio de postar vídeo de 1 minuto por mil dias, e viralizou”, diz.

Para começar a produzir, Yassin precisou, pelo menos por um tempo, deixar de lado a carreira que poderia trilhar como cientista de dados formado em Harvard. Nos seus vídeos, o palestino-israelense focou em mesclar humor, imagens em alta qualidade e fatos curiosos sobre os países e lugares que visitou.

Nessa jornada, porém, percebeu um problema das plataformas em que distribuía seu conteúdo. “As redes sociais não são desenhadas para dar dinheiro aos criadores”, diz. “Elas são feitas para deixar o usuário engajado e, com isso, lucrar com publicidade. O criador está lá disponibilizando o conteúdo, mas com poucos benefícios.” 

Foi pensando em trazer mais rentabilidade para os criadores — e para si também — que Yassin criou a Nas.io, uma plataforma que faz gestão de comunidades para digitais influencers e criadores de conteúdo. Funciona assim: o criador de conteúdo que quer disponibilizar um grupo no WhatsApp para seus fãs e cobrar uma mensalidade de R$ 4 para isso, pode organizar tudo pela plataforma de Yassin. Pode cobrar por lá, ter gestão dos assinantes e controlar quem entra e sai do grupo. “Assim que a pessoa para de assinar, a própria plataforma tira o membro do grupo do WhatsApp”, afirma. 

O sistema não é só integrado ao WhatsApp. Se o criador quiser oferecer cursos ou postar conteúdos exclusivos em um feed, pode fazer isso dentro da Nas.io. Também pode enviar newsletters para a base de assinantes. “Entendo que é o próximo passo para os criadores de conteúdo, ter controle do dinheiro que estão fazendo”, afirma.

A plataforma começou na Ásia, mas Yassin esteve no Brasil esta semana — quando conversou com a reportagem da EXAME — para lançar o produto também em solo brasileiro. As apostas são altas. Um estudo da YOUPIX indica que há 20 milhões de produtores de contéudo na internet no país. Boa parte deles pode ser potenciais clientes da Nas.io.

Por que apostar no Brasil 

Os números sobre mídias sociais e criadores de conteúdo no Brasil são tão superlativos como os de seguidores do Yassin. Além da estimativa de que 20 milhões de brasileiros são produtores de conteúdo na internet, o estudo aponta que de 6% a 10% dos 500 maiores “creators” vivem no país. 

“Além disso, o Brasil tem o segundo maior número de usuários ativos mensais do WhatsApp no mundo, com mais de 108 milhões de usuários ativos mensais”, diz. Como muito da gestão de comunidade é feita pela rede de conversas privadas da Meta (ex-Facebook), também é um dado importante para levar em consideração a escolha por entrar no Brasil. 

“Apesar do domínio do Brasil no número de criadores, há muito menos maneiras de os criadores ganharem dinheiro do que em outros grandes mercados como os EUA”, afirma o empresário. “A entrada da Nas.io no mercado expande significativamente as formas como os criadores podem ganhar dinheiro, tudo através da construção de um negócio em torno da sua comunidade de seguidores”. 

Como a Nas.io funciona

A criação da comunidade de seguidores pagos, o disparo de mensagens, a gestão de grupos do WhatsApp e a oferta de cursos e conteúdos exclusivos acontecem todos em uma mesma plataforma online desenvolvida pelo empresário palestino-israelense. Na prática, o criador de conteúdo cria uma conta lá e já começa a oferecer para seus seguidores a possibilidade de entrar em uma comunidade paga.

Mas como a Nas.io fatura? Ela não cobra mensalidade nem adicional pelos serviços que oferece. O dinheiro entra cobrando uma taxa de 8% sobre o valor da assinatura mensal. E o criador pode escolher como esses 8% são cobrados.

“Se ele quiser cobrar R$ 10 e colocar 8% em cima desse valor, o seu seguidor pagará R$ 10,80” e o criador ganhará R$ 10”, diz. “Mas ele também pode escolher por descontar 8% desses R$ 10. Assim, o criador ganhará R$ 9,20.” 

Como esse empresário está vendo a guerra em Israel

Apesar de ter saído de Israel para estudar e ter montado a sede da Nas.io em Singapura, Yassin ainda tem muitas ligações com seu país de origem. Palestino-israelense, o criador de conteúdo lamentou o derramamento de sangue e disse que nunca antes esteve “menos otimista”. Para ele, as chances da guerra continuar e de mais mortes acontecerem são altas. 

“Os extremistas religiosos que o mundo conhecia com o Estado Islâmico agora estão na Faixa de Gaza”, disse. “É outro grupo, o Hamas, mas são extremistas como. E sábado eles se manifestaram, quiseram mostrar para o mundo que existem”.

Apesar disso, Yassin diz acreditar em Israel e que as pessoas “seguirão em frente”:

“Israel é muito bom em construir tecnologia, tem pessoas muito inteligentes”, diz. “É um tempo difícil, mas há muita gente defendendo o país e querendo reconstruir a economia. O que está acontecendo é horrível, mas as pessoas vão seguir em frente.”

Palestino-israelense

Yassin se considera palestino-israelense. São cidadãos que possuem nacionalidade israelense, mas que se consideram palestinos. Em seu canal no YouTube, o criador publicou um vídeo que explica mais sobre o termo. 

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