A operação, feita toda com ações, aumentará a diversificação geográfica e de produtos da BRF (Germano Lüders/Exame)
Victor Sena
Publicado em 1 de junho de 2019 às 18h03.
Última atualização em 3 de junho de 2019 às 09h57.
O surpreendente anúncio de que a BRF está em negociações para assumir a Marfrig recebeu respostas mistas de analistas. A esperada redução do peso da dívida na companhia resultante vem junto com incertezas sobre sinergias e governança corporativa.
A operação, feita toda com ações, aumentará a diversificação geográfica e de produtos da BRF e permitirá à empresa reduzir a alavancagem, uma das principais preocupações dos investidores. Ainda assim, há dúvidas sobre a estrutura de controle da nova empresa e quanto ela poderá extrair em sinergias.
“A lógica financeira parece maior do que a lógica operacional de uma combinação”, escreveu Luca Cipiccia, analista do Goldman Sachs, em relatório.
Veja o que dizem os analistas:
Thiago Duarte, BTG Pactual
Portfólio de produtos e geografias mais diversificados devem permitir uma forte redução nos custos da dívida Potenciais sinergias operacionais entre suínos/aves e bovinos são limitadas, como demonstrado pela experiência de outras empresas, incluindo a JBS
"Embora a BRF e a Marfrig pareçam mais fortes juntas - a razão pela qual acreditamos que os investidores aceitarão a transação - ainda seríamos conservadores em relação às sinergias, ainda mais à luz do que consideramos uma valiosa avaliação combinada e riscos significativos de execução e integração"
Benjamin Theurer, Barclays
A combinação geraria sinergias, reduziria os riscos geopolíticos, permitiria um menor custo de capital e deve gerar retornos para os acionistas de ambas as empresas “Combinar frango e carne bovina pode trazer estabilidade de margem para o negócio e, considerando a forte posição da BRF nos mercados Halal e a forte posição da Marfrig em carne bovina nos EUA, expõe a companhia combinada a mercados com forte demanda e permite alavancar sua operação brasileira para exportações internacionais Combinação seria do interesse dos acionistas de ambas as empresas
Leandro Fontanesi, Bradesco BBI
Os números da fusão implicam uma avaliação em consonância com os preços atuais das ação, o que significa que os detentores minoritários devem igualmente se beneficiar de sinergias Os benefícios potenciais do acordo incluem a redução do risco do balanço patrimonial da BRF, enquanto aumenta a diversificação de proteínas e geográfica “Gostaríamos de confirmar se a estrutura de controle difusa da BRF prevaleceria”
Luca Cipiccia, Goldman Sachs
Combinação com a Marfrig daria maior escala à BRF, mas diferente mix geográfico e de produtos Transação "poderia gerar economias adicionais a partir de uma redução no custo da dívida" Os investidores podem ver “mérito estratégico da transação potencial e se beneficiar do perfil de alavancagem combinada, mas podem, ao mesmo tempo, se preocupar com o foco estratégico da BRF em um momento em que a administração já está focando na lucratividade no Brasil”.
"Os investidores também podem ver um risco para as margens combinadas de adicionar uma margem menor e negócios mais cíclicos ao portfólio da empresa, observando que a companhia já participou uma vez no segmento de carne bovina no Brasil, mas saiu em 2014"
Diana Stuhlberger, Eleven Financial
A junção deve contribuir para a redução da alavancagem das duas empresas e possibilitar que se beneficiem com novas oportunidades de mercado Por outro lado, é uma fusão bastante complexa dado o tamanho das empresas "De qualquer forma, não sei se o timing foi correto dado que ambas ainda estão passando por um processo de reestruturação"