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O número que revela muito de uma fabricante de celulares

Número oculto em relatório de lucros corporativos pode dizer muito a respeito da saúde de uma fabricante de celulares


	Smartphones: item pode revelar se a fortuna de uma empresa está mudando
 (Philippe Huguen/AFP)

Smartphones: item pode revelar se a fortuna de uma empresa está mudando (Philippe Huguen/AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2015 às 21h31.

Um número oculto em um relatório de lucros corporativos – depois dos dados sobre margens de lucro e crescimento da receita, escondido nas profundezas de um balanço – pode dizer muito a respeito da saúde de uma fabricante de celulares.

Na guerra mundial de smartphones, as marcas são medidas regularmente pela participação no mercado, pela receita, pelos lucros e por quão legais são seus anúncios.

Mas um item chamado estoque de bens terminados, que se refere à porcentagem de materiais que foram transformados em smartphones, mas não foram vendidos, pode revelar se a fortuna de uma empresa está mudando.

A última companhia a deixar que seus celulares se acumulassem nos depósitos e nas prateleiras das lojas foi a HTC.

As ações da empresa taiwanesa acabam de despencar para o valor mais baixo em uma década depois que a empresa reduziu sua previsão de vendas no dia 5 de junho e anunciou uma baixa contábil de 2,9 bilhões de novos dólares taiwaneses (US$ 93 milhões), apesar de ter recuperado parte dos prejuízos em meio à especulação de que a queda possa torná-la um alvo de aquisições.

O estoque de bens terminados da HTC bateu um recorde com 2,35 por cento do total de ativos no fim do trimestre passado. Durante o auge da companhia, essa cifra raramente passava de 1 por cento.

“O crescimento do estoque de bens terminados poderia sinalizar que o mais novo modelo de alta gama da HTC, o M9, não está vendendo tanto quanto se esperava”, diz John Butler, analista da Bloomberg Intelligence.

“O modelo recebeu resenhas muito negativas dos críticos de tecnologia e é possível que não esteja se saindo tão bem na disputa em comparação com celulares muito competitivos e cheios de funções oferecidos no mercado por rivais como a Samsung, com o S6, e a Apple, com o iPhone 6 e o iPhone 6 Plus”.

Estoque

O estoque, utilizado às vezes por aqueles que mergulham nos dados para espiar as entranhas de uma empresa, costuma ser dividido em três partes: matérias-primas, que são as peças que vão para a linha de produção; bens inacabados, que são o que ainda está em produção, e bens terminados, os dispositivos em depósitos, caminhões ou até mesmo nas prateleiras das lojas.

As distinções são importantes. Ter uma tonelada de matéria-prima ou bens inacabados não necessariamente é um desastre. Muitos materiais podem servir para mais de um produto, então mesmo que uma encarnação de um smartphone enfrente uma demanda baixa, os componentes podem ser passados para outro produto com muita facilidade.

No entanto, ficar com produtos não vendidos é um pecado especialmente grave no setor de produtos eletrônicos para consumo. Quando um smartphone é montado e sai da linha de produção, o relógio começa a andar.

No ramo da tecnologia, cujo ritmo é acelerado, os dispositivos para consumidores perdem o brilho rapidamente, o que faz com que a chance de vender o produto diminua a cada dia que passa devido à chegada de novos modelos ao mercado.

Steve Jobs percebeu isso quando voltou à Apple em 1997 – em uma época, disse ele, em que a empresa beirava a falência – e descobriu que o estoque de bens terminados tinha subido para 7,7 por cento dos ativos. Jobs contratou um guru de operações da IBM chamado Tim Cook para arrumar a bagunça. Um ano depois, em junho de 1998, a cifra tinha caído para 1,7 por cento – e não superou 0,9 por cento nos últimos anos.

Ironia

Um estoque muito baixo, combinado com uma capacidade de produção insuficiente, também pode ser um problema.

A Qualcomm se deparou com isso há três anos e obrigou várias fabricantes de smartphones a adiar o lançamento de seus produtos devido à falta de chips disponíveis.

A HTC enfrentou uma escassez de componentes em 2011 – quando superava até a Apple nos EUA –, o que levou a companhia a assinar contratos de fornecimento de longo prazo para conseguir oferta e preços favoráveis.

Em uma ironia dispendiosa, a baixa contábil desse mês foi uma reação a alguns desses contratos de fornecimento de 2011.

Nada foi por causa dos bens não terminados. Ainda.

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