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“O jogo mudou para toda a indústria”, afirma presidente da Volkswagen

Em entrevista à EXAME, Pablo Di Si diz que empresas de todos os portes estão enfrentando dificuldades para sobreviver à crise do coronavírus

Pablo Di Si, presidente da Volkswagen na América Latina: estratégia de produtos agressiva (Volkswagen/Divulgação)

Pablo Di Si, presidente da Volkswagen na América Latina: estratégia de produtos agressiva (Volkswagen/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 22 de maio de 2020 às 06h00.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 06h00.

Depois de dois meses de quarentena do novo coronavírus no Brasil, o retrato da indústria automotiva local parece bem definido: quase nenhuma receita com vendas de veículos novos e muitas contas a pagar. Nem as montadoras mais tradicionais do mercado devem escapar dos efeitos nocivos da crise.

“Quando falta liquidez no mercado, empresas de todos os portes vão lutar pela sobrevivência. O jogo mudou para toda a indústria”, diz Pablo Di Si, presidente da Volkswagen para América Latina, em entrevista à EXAME.

O executivo argentino chegou ao atual cargo na montadora em 2017, mas já havia passado pela Kimberly-Clark do Brasil no início dos anos 2000. Ele também acumula outras passagens pela Volks e concorrentes, como a Fiat Chrysler. “Vi várias crises no Brasil, mas nenhuma como essa.”

Com a experiência do futebol profissional no currículo - Di Si chegou a integrar a categoria de base do Huracán (Argentina) -, o chefe da Volks na região terá que driblar, literalmente, a forte crise que se desenha para o setor. 

Em 2020, a montadora completa um programa de investimentos da ordem de 7 bilhões de reais no país, mas Di Si conta que a matriz congelou, por ora, os aportes previstos para o restante da região, até que haja uma clareza maior sobre o horizonte da economia mundial.

“Vamos voltar a nos reunir com o conselho mundial da companhia, pois ninguém sabe ainda como será o consumo de automóveis após a pandemia passar.”

O executivo acredita que cada mercado no mundo terá um comportamento diferente no retorno da pandemia. Ele cita como exemplo a China, cujas vendas de automóveis de entrada estão crescendo rapidamente porque as pessoas estão optando por deixar de usar o transporte público.

“Não sabemos como será o retorno dos consumidores às compras, mas a nossa estratégia de oferecer mais conectividade e novas tecnologias não muda”, garante.

Desde o ano passado, a Volkswagen está implementando um modelo de “concessionária digital”, em que o vendedor, com tablet e óculos 3D, pode ir até o cliente, onde ele quiser. A operação de venda pode ser feita totalmente online, até o financiamento. 

A alternativa é necessária num momento em que os consumidores estão comprando de tudo pela internet. “Não só as montadoras vão voltar diferentes dessa crise, mas todo tipo de comércio, como restaurantes, por exemplo.”

Novo patamar

Muitos brasileiros têm alguma memória afetiva relacionada a um Volkswagen. O modelo pode ser um Fusca, um Gol ou até mesmo a extinta Kombi. A tradição sempre foi um traço forte da montadora.

Nos últimos anos, entretanto, a marca passou por uma revolução no seu portfólio, com uma estratégia agressiva não só nos modelos de entrada, mas também nos de maior valor agregado.

É o caso do T-Cross, que em apenas um ano subiu para a vice-liderança do segmento de SUVs no país, atrás apenas do Renegade, da Jeep.  

“Cobrimos 96% dos segmentos de automóveis do mercado brasileiro. Temos a linha mais completa do país, com bons níveis de vendas desde os modelos de entrada até um Tiguan turbinado”, afirma Di Si.

O executivo destaca que o mercado automotivo brasileiro evoluiu. Há 20 anos, o conteúdo tecnológico dos carros de entrada era diferente e, atualmente, os modelos mais econômicos melhoraram muito e a segurança veicular também. 

“Hoje, o consumidor não quer mais um carro sem ar condicionado. Ele não vai aceitar um automóvel com pouca tecnologia.”

Perspectivas 

Em um horizonte de queda da renda e aumento do desemprego, a indústria automotiva terá que achar uma saída para atravessar a crise, uma vez que a principal reclamação do setor desde o início da pandemia continua sem resposta: crédito caro.

“O governo tratou rapidamente do problema da falta de liquidez no mercado, mas esse dinheiro ainda não chegou à outra ponta”, afirma Di Si.

Para o executivo, as medidas para combater a crise adotadas pelo governo foram acertadas e rápidas, com destaque para o pacote de auxílio emergencial e a Medida Provisória 936, que trata da suspensão dos contratos de trabalho com garantia de estabilidade do emprego. A montadora utilizou o mecanismo em suas operações no Brasil.

Na América Latina, os funcionários das fábricas de Córdoba e Pacheco, na Argentina, acabam de voltar ao trabalho, assim como na unidade da montadora em São José dos Pinhais, no Paraná. Já as fábricas de Taubaté e São Bernardo do Campo, em São Paulo, devem retornar até o final do mês.

“No grupo, temos um protocolo de segurança com mais de 80 itens a ser seguidos para evitar a propagação da covid-19. Estamos cuidando para que o distanciamento social seja rigorosamente seguido nas nossas fábricas”, afirma Di Si. 

Enquanto isso, o executivo aponta para o grande risco que permeia a cadeia automotiva. Com um grande número de pequenas e médias empresas, Di Si afirma que, se o problema da falta de liquidez não for resolvido em breve, muitos fabricantes podem ir à falência.

“As empresas têm caixa apenas para pouco tempo e se uma parte da cadeia for à falência, todo o sistema cai junto.” 

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