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Novo presidente da Usiminas enfrenta velhos desafios

Julián Eguren, formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, precisa fazer o que seus predecessores não conseguiram: recuperar o rumo da companhia

Wilson Brumer e Julián Erugen  (Leonardo Galvani/Divulgação/Usiminas)

Wilson Brumer e Julián Erugen (Leonardo Galvani/Divulgação/Usiminas)

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Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2012 às 16h27.

São Paulo - Julián Eguren nunca teve tarefas simples como executivo sênior da gigante ítalo-argentina Techint. Como presidente da unidade mexicana do grupo, ele teve de cuidar da integração de uma série de empresas sob um único teto; na Venezuela, negociou com Hugo Chávez processo de nacionalização de empresa do conglomerado.

Agora, o executivo argentino de 48 anos tem que liderar a aposta da Techint no Brasil, o mercado siderúrgico mais protegido das Américas, como presidente da recém-adquirida Usiminas, maior produtora de aços planos do país que sofre problemas de custos elevados e baixa produtividade.

Eguren, formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, precisa fazer o que seus predecessores não conseguiram: recuperar uma companhia que tem sido duramente atingida por alta de custos e falta de autossuficiência em energia e minério de ferro.

"Todo mundo está esperando que isso envolva alguma mudança cultural significativa e que não seja traduzida apenas em melhorias de curto prazo", disse Rene Kleyweg, analista do UBS em Londres.

Eguren substitui Wilson Brumer, que dirigiu a Usiminas por quase dois anos, mas que não pode interromper a queda de 44 por cento no valor das ações preferenciais da companhia nos últimos 12 meses. A Usiminas teve quarto presidentes-executivos desde 2008, quando Rinaldo Soares se aposentou após 18 anos no comando da empresa.


A indicação do executivo permite à Techint colocar sua marca na Usiminas, depois de ter pago 4,1 bilhões de reais para ter uma participação votante de 27,7 por cento na companhia em novembro. Por anos, a unidade Ternium da Techint buscou ganhar espaço na maior economia da América Latina, mas sempre recuou diante dos altos custos do país.

A decisão de entrar no Brasil surpreendeu investidores, que manifestaram preocupações de que a Ternium estivesse pagando muito caro por um ativo com problemas. As ações da Ternium, que perderam 50 por cento de valor no ano passado, aceleraram perdas desde o anúncio do acordo.

Eguren pode focar a Usiminas na expansão de sua unidade de mineração para dar autossuficência à empresa, afirmou Leonardo Corrêa, analista do Barclays Capital. O executivo pode ainda estar considerando a venda de duas unidades voltadas aos setores automotivo e de bens de capital, encerrando os esforços da Usiminas de ampliar vendas de produtos de maior valor agregado, publicou um jornal nesta semana.

Qualquer que seja o caminho que tome, a recuperação da Usiminas deverá levar tempo. Um problema, afirmam analistas, é que a Usiminas se tornou muito vulnerável a importações de aço plano, o que tem forçado a empresa a manter preços baixos.

"A questão é: A Ternium pode promover uma recuperação razoável e rápida da Usiminas? A resposta é não", escreveu Felipe Reis, analista do setor de siderurgia no Santander Investment Securities.

México, Argentina

A chegada da Eguren também pode ajudar a Ternium a encontrar solução para outro problema: sua dependência de placas de aço produzidas por terceiros. Mais de um ano atrás, a Usiminas cancelou projeto de nova usina de placas em Santana do Paraíso (MG) por causa dos baixos retornos esperados para o investimento. Mas uma retomada desse projeto é esperada agora por alguns analistas.

Como chefe das operações mexicanas da Ternium, Eguren integrou a Hylsamex e a IMSA na Ternium rapidamente, melhorou eficiência e mudou foco para exportações de produtos com valor agregado.

"Eguren fez um excelente trabalho da unidade o México nos últimos anos", disse o analista Alexander Hacking, do Citigroup.

Eguren também liderou as negociações em torno da nacionalização da unidade venezuelana Sidor em 2007. Quando Chávez decidiu estatizar a empresa acusando a companhia de cobrar caro pelo aço enquanto comprava energia e outros insumos com desconto, Eguren lembrou dos gastos sociais da empresa e cortou preços.

A posição conciliatória foi bem sucedida, abrindo caminho para uma compensação de 2 bilhões de dólares que o governo venezuelano ofereceu em 2009, mais do que os 1,79 bilhão que a Ternium tinha pago pela companhia em 1997.

O episódio ressaltou as habilidades pragmáticas e políticas de Eguren, disse um ex-representante do governo venezuelano pedindo para não ser identificado.

"O pessoal da Ternium fez o que ninguém conseguiu: fazer Chávez pagar um preço justo pelo ativo que nacionalizou", disse a fonte. "Foi uma jogada muito esperta a deles."

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