Nick Carlson: as lições da queda do Yahoo!
Com suas reportagens investigativas, o jornalista e escritor americano Nicholas Carlson contou a história da indústria digital. Ele revelou como detalhes da criação de companhias como Facebook, Twitter e Groupon. Atualmente, é editor-chefe do site de negócios e tecnologia Business Insider. Seu ultimo sucesso é “Marissa Mayer: a CEO que revolucionou o Yahoo!”. O livro é […]
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2016 às 19h13.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h21.
Com suas reportagens investigativas, o jornalista e escritor americano Nicholas Carlson contou a história da indústria digital. Ele revelou como detalhes da criação de companhias como Facebook, Twitter e Groupon. Atualmente, é editor-chefe do site de negócios e tecnologia Business Insider. Seu ultimo sucesso é “Marissa Mayer: a CEO que revolucionou o Yahoo!”. O livro é um perfil detalhado da vida de Mayer e da concatenação de fatos que a levou do Google à presidência da empresa, que tentou, sem sucesso, salvar. Após a publicação, em 2014, deu tudo errado para Marissa e para o Yahoo, que não foi salvo e está às vésperas de ser vendido. De Nova York, Carlson falou a EXAME sobre o futuro do Yahoo e sobre os erros que derrubam empresas, e que transformam executivos visionários em descartáveis.
Marissa Mayer teve quatro anos como presidente do Yahoo! sem nenhum grande sucesso. Qual foi seu maior erro?
Provavelmente, o maior erro dela foi tentar levar o Yahoo para o futuro com uma estratégia do passado. O que fez o Yahoo tão popular nos anos 90 foi oferecer ferramentas fáceis para os usuários de internet. O Yahoo fez isso antes de qualquer outro e era extremamente valioso. Marissa Mayer pensou que o Yahoo podia voltar a ter esse papel sob sua gestão, mas dessa vez para a internet móvel. Então, o plano dela era construir diversos tipos de ferramentas para as pessoas usarem a internet em seus celulares. Isso foi um erro porque, quando Mayer chegou à companhia em 2012, esse nicho de mercado já estava ocupado: Apple com o iPhone e Google com o Android, além das milhares de pessoas que faziam aplicativos pras duas plataformas. Ela tentou coordenar o Yahoo para lançar meia dúzia de aplicativos por ano na esperança de que milhões de pessoas os achassem úteis. Mas há milhares de startups fazendo isso. Foi um grande erro estratégico.
A má gestão de Marissa pode ser ruim para o mercado de tecnologia? O Vale do Silício tem poucas mulheres…
As companhias do Vale do Silício de fato são predominantemente masculinas. Não há uma explicação simples pra isso. Mas eu realmente acho que seria melhor se tivéssemos mais mulheres em cargos de liderança nas empresas. Isso deve mudar já na próxima geração.
O Yahoo! estaria pior hoje não fosse por Marissa? Apesar de tudo, ela realmente foi a melhor opção para a companhia?
Acho que o Yahoo cometeu um erro ao contratar Marissa Mayer e Marissa Mayer cometeu um erro ao ir para o Yahoo. Ela queria gerenciar uma companhia de internet de crescimento intenso, e as pessoas que a contrataram esperavam isso. Mas a verdade é que no estágio de vida em que o Yahoo estava essa etapa era passado. É um erro que várias companhias cometem o tempo todo: o ciclo de crescimento acabou e elas tentam reiniciar o crescimento, ao invés de tirar vantagem do que as fez grandes e retornar os lucros para que os acionistas possam reinvesti-los em companhias que tem um ciclo de crescimento mais atual.
Outra estratégia comum em empresas em dificuldades, e adotada por Marissa, foi investir em aquisições. No caso dela, a mais relevante foi a plataforma de blogs Tumblr. O que deu errado com as aquisições?
Marissa pensou que o Tumblr se tornaria uma marca de social media do tamanho do Instagram, Snapchat ou Twitter. À época, as pessoas já eram céticas sobre o Tumblr pois seu crescimento havia estagnado de uma maneira que outras mídias sociais nunca haviam parado de crescer. Além disso, o Tumblr nunca teve uma reputação como a próxima grande rede social. A dura verdade é que, se tivesse boa reputação, o Facebook, a Microsoft ou o Google, que têm muito mais dinheiro, teriam comprado.
Qual o futuro do Yahoo?
O Yahoo ou vai ser adquirido pela [empresa de telecomunicações] Verizon e fundido com a AOL, ou vai ser comprado por uma companhia de capital privado e será reduzido até se tornar um negócio mais lucrativo. Eu creio que em cerca de um ano estaremos lendo reportagens sobre uma reduzida máquina de lucros chamada Yahoo. As pessoas vão descrever como uma reviravolta impressionante e os lucros serão grandes. Não é uma grande história sexy, não haverá mais pessoas usando o Yahoo. Mas o Yahoo já tem usuários o suficiente e deveria ser considerado uma companhia mais saudável do que é atualmente.
E o que podemos esperar para Marissa? Como a indústria de tecnologia vai olhar pra ela após sua performance à frente do Yahoo?
Ela ainda é uma pessoa muito jovem [tem 40 anos] e tem uma carreira longa e brilhante [trabalhou em projetos importantes no Google e já foi professora e aluna de Stanford]. Eu acho que seu próximo passo será na indústria de capitais de risco. Também posso imaginar que ela se juntará a alguma startup que vem crescendo muito rápido e que precisa da ajuda de um executivo sênior. Mas não creio que ela administrará uma grande companhia de capital aberto por um longo tempo.
(Thiago Lavado)
Com suas reportagens investigativas, o jornalista e escritor americano Nicholas Carlson contou a história da indústria digital. Ele revelou como detalhes da criação de companhias como Facebook, Twitter e Groupon. Atualmente, é editor-chefe do site de negócios e tecnologia Business Insider. Seu ultimo sucesso é “Marissa Mayer: a CEO que revolucionou o Yahoo!”. O livro é um perfil detalhado da vida de Mayer e da concatenação de fatos que a levou do Google à presidência da empresa, que tentou, sem sucesso, salvar. Após a publicação, em 2014, deu tudo errado para Marissa e para o Yahoo, que não foi salvo e está às vésperas de ser vendido. De Nova York, Carlson falou a EXAME sobre o futuro do Yahoo e sobre os erros que derrubam empresas, e que transformam executivos visionários em descartáveis.
Marissa Mayer teve quatro anos como presidente do Yahoo! sem nenhum grande sucesso. Qual foi seu maior erro?
Provavelmente, o maior erro dela foi tentar levar o Yahoo para o futuro com uma estratégia do passado. O que fez o Yahoo tão popular nos anos 90 foi oferecer ferramentas fáceis para os usuários de internet. O Yahoo fez isso antes de qualquer outro e era extremamente valioso. Marissa Mayer pensou que o Yahoo podia voltar a ter esse papel sob sua gestão, mas dessa vez para a internet móvel. Então, o plano dela era construir diversos tipos de ferramentas para as pessoas usarem a internet em seus celulares. Isso foi um erro porque, quando Mayer chegou à companhia em 2012, esse nicho de mercado já estava ocupado: Apple com o iPhone e Google com o Android, além das milhares de pessoas que faziam aplicativos pras duas plataformas. Ela tentou coordenar o Yahoo para lançar meia dúzia de aplicativos por ano na esperança de que milhões de pessoas os achassem úteis. Mas há milhares de startups fazendo isso. Foi um grande erro estratégico.
A má gestão de Marissa pode ser ruim para o mercado de tecnologia? O Vale do Silício tem poucas mulheres…
As companhias do Vale do Silício de fato são predominantemente masculinas. Não há uma explicação simples pra isso. Mas eu realmente acho que seria melhor se tivéssemos mais mulheres em cargos de liderança nas empresas. Isso deve mudar já na próxima geração.
O Yahoo! estaria pior hoje não fosse por Marissa? Apesar de tudo, ela realmente foi a melhor opção para a companhia?
Acho que o Yahoo cometeu um erro ao contratar Marissa Mayer e Marissa Mayer cometeu um erro ao ir para o Yahoo. Ela queria gerenciar uma companhia de internet de crescimento intenso, e as pessoas que a contrataram esperavam isso. Mas a verdade é que no estágio de vida em que o Yahoo estava essa etapa era passado. É um erro que várias companhias cometem o tempo todo: o ciclo de crescimento acabou e elas tentam reiniciar o crescimento, ao invés de tirar vantagem do que as fez grandes e retornar os lucros para que os acionistas possam reinvesti-los em companhias que tem um ciclo de crescimento mais atual.
Outra estratégia comum em empresas em dificuldades, e adotada por Marissa, foi investir em aquisições. No caso dela, a mais relevante foi a plataforma de blogs Tumblr. O que deu errado com as aquisições?
Marissa pensou que o Tumblr se tornaria uma marca de social media do tamanho do Instagram, Snapchat ou Twitter. À época, as pessoas já eram céticas sobre o Tumblr pois seu crescimento havia estagnado de uma maneira que outras mídias sociais nunca haviam parado de crescer. Além disso, o Tumblr nunca teve uma reputação como a próxima grande rede social. A dura verdade é que, se tivesse boa reputação, o Facebook, a Microsoft ou o Google, que têm muito mais dinheiro, teriam comprado.
Qual o futuro do Yahoo?
O Yahoo ou vai ser adquirido pela [empresa de telecomunicações] Verizon e fundido com a AOL, ou vai ser comprado por uma companhia de capital privado e será reduzido até se tornar um negócio mais lucrativo. Eu creio que em cerca de um ano estaremos lendo reportagens sobre uma reduzida máquina de lucros chamada Yahoo. As pessoas vão descrever como uma reviravolta impressionante e os lucros serão grandes. Não é uma grande história sexy, não haverá mais pessoas usando o Yahoo. Mas o Yahoo já tem usuários o suficiente e deveria ser considerado uma companhia mais saudável do que é atualmente.
E o que podemos esperar para Marissa? Como a indústria de tecnologia vai olhar pra ela após sua performance à frente do Yahoo?
Ela ainda é uma pessoa muito jovem [tem 40 anos] e tem uma carreira longa e brilhante [trabalhou em projetos importantes no Google e já foi professora e aluna de Stanford]. Eu acho que seu próximo passo será na indústria de capitais de risco. Também posso imaginar que ela se juntará a alguma startup que vem crescendo muito rápido e que precisa da ajuda de um executivo sênior. Mas não creio que ela administrará uma grande companhia de capital aberto por um longo tempo.
(Thiago Lavado)