Nem impressoras escapam dos cortes de custos da Petrobras
O executivo vai fechar vários escritórios no exterior e mandou vender até seis Ford Fusions blindados usados por diretores. Agora, irá andar de Uber
Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2019 às 08h00.
Última atualização em 11 de maio de 2019 às 08h00.
Logo após assumir a presidência da Petrobras , Roberto Castello Branco notou que havia uma impressora para cada funcionário em um departamento e solicitou uma revisão.
Foi apenas o começo de uma cruzada contra custos. Desde então, Castello Branco anunciou US$ 8,1 bilhões em cortes de custos operacionais até 2023, que incluem um programa de demissão voluntária e planos para reduzir 4.300 empregos em uma força de trabalho de 47.222 pessoas da holding, excluindo terceirizados.
O executivo, formado do berço liberal da Universidade de Chicago, também vai fechar vários escritórios no exterior e mandou vender até seis Ford Fusions blindados que ele e ex-presidentes da Petrobras tinham à disposição - com dois motoristas cada. Como parte das mudanças, Castello Branco começou a usar o Uber quando viaja a negócios no exterior. Em entrevista em março, o executivo reclamou que teve de pagar US$ 50 por uma corrida de táxi entre o hotel e o escritório da Petrobras, em Houston.
"Queremos criar uma cultura de baixo custo, em que cada dólar importa", disse.
Castello Branco concedeu a entrevista enquanto contemplava a Richmond Avenue, em Houston, onde a Petrobras tinha um de seus maiores escritórios no exterior, com seis andares e uma grande placa da empresa em um jardim fora do prédio. O executivo deu uma olhada em volta e disse que o espaço era muito grande. Na terça-feira, a Petrobras anunciou que ficaria com apenas um andar, o que vai reduzir o aluguel anual de US$ 5,8 milhões para US$ 600 mil.
A Petrobras também está fechando escritórios em Nova York, Cidade do México, Líbia, Angola, Nigéria, Tanzânia, Irã e Tóquio, e também vai desocupar edifícios inteiros no Rio de Janeiro e São Paulo para concentrar a força de trabalho em sua icônica sede no centro do Rio, onde o custo por estação de trabalho é mais barato.
A obsessão por reduzir custos e equilibrar o balanço de uma empresa que costumava ser a mais endividada do setor não está sendo implementada sem críticas. Castello Branco vendeu uma série de ativos, participações em campos de petróleo e quer sair totalmente de setores como o petroquímico, além de acabar com o monopólio da Petrobras na área de refino e gás natural. Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira, o executivo adotou uma postura defensiva.
“Algumas pessoas dizem que estamos promovendo um desmonte da Petrobras. Isso é um chavão. Estamos fazendo administração de portfolio, e a empresa vai se tornar maior em bases mais fortes e saudáveis”, disse Castello Branco em entrevista a repórteres.
Os gastos dispararam em todo o setor durante o início da década, quando as cotações do petróleo estavam acima de US$ 100 o barril e a competição em atividades de exploração, despesas com equipamentos e pessoal elevaram os custos. Estatais como a Petrobras sofriam menor pressão do que concorrentes internacionais para manter os gastos sob controle.
"Em comparação com a Exxon, o tipo de empresa com a qual a Petrobras gosta de se comparar, provavelmente havia mais gastos para cortar", disse Ruaraidh Montgomery, diretor da Welligence Energy Analytics, empresa de pesquisa de energia com sede em Houston. “A Petrobras é uma petrolífera estatal, há um grande legado de custos e burocracia associados a isso.”