André Lahóz, diretor do grupo EXAME e Marcos Nisti, presidente do Instituto Alana. (Flávio Santana/ Biofoto/Exame)
Vanessa Barbosa
Publicado em 27 de março de 2019 às 10h56.
Última atualização em 28 de março de 2019 às 11h12.
São Paulo - “Você está preparado para ser chefiado por uma mulher?”. A pergunta que o executivo Marcos Nisti ouviu em um de seus primeiros estágios profissionais, há mais de 20 anos, continua atual. Segundo um estudo da International Business Report (IBR), realizado pela Grant Thornton, a proporção de mulheres em cargos de liderança no Brasil em 2019 caiu quatro pontos percentuais em relação ao ano passado, chegando a 25%, abaixo da média global de 29%.
Se a equidade no acesso às oportunidades profissionais para mulheres ainda patina nas empresas brasileiras, a inclusão de outras singularidades humanas, como etnia, cor de pele, orientação sexual e deficiências físicas e intelectuais é um desafio ainda maior. Não deveria ser assim.
“Mais do que uma questão de justiça e respeito aos direitos humanos, assegurar a inclusão e a diversidade na sociedade e nas instituições é fonte de inovação e criatividade”, diz Nisti, hoje à frente do Instituto Alana, dedicado à educação, pesquisa e assistência social.
O executivo é um dos palestrantes do Forum EXAME Diversidade, que reúne representantes de instituições públicas e privadas, ONGs e especialistas na manhã desta quarta-feira (27) em São Paulo.
Por meio de seu braço filantrópico sediado nos Estados Unidos, a Alana Foundation, doará US$ 28,6 milhões ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), para estimular o desenvolvimento de novas pesquisas tecnológicas e multidisciplinares.
Faz parte dessa iniciativa a criação do Alana Down Syndrome Center, um programa de tecnologia para o desenvolvimento de pesquisas que possam melhorar a vida de pessoas com deficiência, além de bolsas de estudo.
Não faltam motivos para as empresas abraçarem a bandeira da diversidade. No decorrer de uma pesquisa que a Alana realizou com a consultoria McKinsey, o instituto descobriu que pessoas com deficiência (como as diagnosticadas com síndrome de down) melhoram cinco de 9 indicadores em saúde empresarial, como clima e atendimento ao cliente.
Outro estudo em parceria com a Universidade de Harvard, que compilou pesquisas globais sobre o tema, apontou que a inclusão beneficia não apenas as pessoas portadoras de deficiências, mas também melhora as outras pessoas que se relacionam com elas.
“Há um poder de agregação muito forte nessas pessoas [com deficiência]. Vemos que quando há inserção de forma cuidadosa, e quando passamos a olhar para elas a partir de outra perspectiva, com um olhar de oportunidade e não de obrigação, as sociedades e instituições têm muito a ganhar. Há um valor inestimável aí”, crava Nisti.
A garantia de maior inclusão e diversidade nas empresas está atrelada à maior inclusão e respeito à diversidade na própria sociedade. No contexto de educação escolar, por exemplo, há deficiências básicas a serem superadas.
Segundo Magri, o Brasil tem a seu favor o fato de as crianças estarem juntas e interagirem dentro da mesma escola, como determina a lei, ao passo que outros países possuem escolas especiais (separadas), e ainda há aqueles em que as crianças com deficiência sequer vão à escola. “Porém, considerando que a educação brasileira é deficitária para uma criança comum, para quem tem necessidade especial é pior ainda”, critica.
Ou seja, para avançar por aqui, é preciso agir não apenas no universo micro das relações sociais cotidianas, mas principalmente no macro. “Sem políticas públicas indutivas, o ritmo de avanços pode ser afetado, atrasando a construção de um país mais inclusivo, justo e democrático”, avalia Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, parceiro de EXAME no desenvolvimento do Guia EXAME Diversidade, que começa a circular a partir de amanhã (28).
“Nosso papel enquanto meio de comunicação é amplificar as boas iniciativas que estão acontecendo e também os problemas que precisam ser superados. Independentemente da atual agenda política brasileira, há uma mudança em curso positiva na sociedade para avançarmos na discussão da diversidade e inclusão”, defende André Lahóz, diretor de EXAME.