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Na nova Votorantim, o cimento fica mais de lado

Quinta maior cimenteira do mundo, a Votorantim Cimentos busca no agronegócio e na tecnologia formas de driblar a crise no setor de construção civil

Votorantim Cimentos: empresa quer ampliar atuação dentro e fora do Brasil (Marcelo Almeida/Site Exame)

Votorantim Cimentos: empresa quer ampliar atuação dentro e fora do Brasil (Marcelo Almeida/Site Exame)

AJ

André Jankavski

Publicado em 13 de maio de 2019 às 17h10.

Última atualização em 13 de maio de 2019 às 21h51.

A Votorantim Cimentos (VC) quer depender menos do cimento. Com 83 anos no negócio, a principal empresa do grupo Votorantim, quinta maior cimenteira do mundo e que representa 40% de todos os ganhos do conglomerado criado pela família Ermirio de Moraes, agora aposta na ideia de se tornar uma empresa de soluções para a construção civil – e até mesmo para o agronegócio. Entre os principais projetos estão o aumento da fabricação de calcário agrícola, aplicativos de entregas e programas de fidelidade.

O processo de reinvenção começou pela nomeação de Marcelo Castelli como presidente da empresa, cargo que o executivo assumiu em fevereiro. Até o fim do ano passado, Castelli comandava a operação da produtora de celulose Fibria, que tinha o grupo Votorantim como um dos principais acionistas e foi vendida para a Suzano em um negócio que movimentou 26 bilhões de reais.

Parte do dinheiro arrecadado pela família Ermírio de Moraes com essa transação foi para o carro-chefe do grupo. Depois de passar alguns anos buscando a venda de ativos menos estratégicos para equilibrar o caixa, os acionistas decidiram aportar 2 bilhões de reais para fortalecer a estrutura de capital da VC.

Isso fez com que a alavancagem da empresa ficasse em 2,8 vezes a relação entre dívida líquida e o resultado operacional – um patamar considerado saudável. Agora, a companhia pode voltar a colocar a mão bolso para investir na ampliação dos negócios.

A transformação da VC se faz necessária diante do tamanho do problema no mercado de cimento no Brasil. O setor apresenta queda nas vendas desde 2014, segundo dados da Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). A queda acumulada foi de 26% no período.

E a Votorantim Cimentos, que tem 75% do seu resultado financeiro atrelados ao produto, sabe que precisa reagir. Para este ano, pelo menos por enquanto, o SNIC espera um crescimento de 3%. Com a retomada fraca da economia, no entanto, esse ritmo pode ser menor.

Por isso, outros produtos, que eram meros coadjuvantes dentro da estratégia da empresa, passam a ganhar importância. O calcário agrícola, utilizado para corrigir a acidez do solo e aumentar a produtividade das plantações, é um exemplo.

A companhia decidiu investir 42 milhões de reais em sua fábrica em Nobres (MT) para ampliar em quatro vezes a capacidade de produção de 250.000 toneladas para 1 milhão de toneladas ao ano. Além disso, a companhia também desembolsou 7,5 milhões de reais para produzir 120.000 toneladas de argamassa por ano na sua fábrica em Cuiabá (MT). "Não queremos mais ser vistos como uma empresa de construção, mas de soluções para todo o setor", afirma Marcelo Castelli.

Mesmo com a meta de ampliar a participação de outros negócios, o cimento não deve ficar para trás tão cedo. Prova disso é o investimento de 200 milhões de reais em uma nova fábrica na cidade de Pecém (CE).

Aposta em tecnologia

Para conseguir que a prática siga o mesmo caminho do discurso, a VC decidiu apostar em ferramentas tecnológicas. Uma delas está sendo chamado de "Uber do concreto", em alusão ao aplicativo de mobilidade urbana. Por meio da concreteira Engemix, controlada pelo Votorantim, a empresa está testando um aplicativo de entrega de concreto nas construções de grandes cidades.

Usando o aplicativo, a Engemix pretende aumentar a eficiência das entregas e diminuir as perdas do setor. A ferramenta mostra o horário exato em que todas as betoneiras chegarão às obras. Hoje, a VC estima que 35% de tudo o que é comprado pelo setor de construção civil é perdido por conta da falta de planejamento.

Outra investida é na tecnologia para desenvolver e aprimorar produtos, como a do bioconcreto, que utiliza bactérias para aumentar a qualidade do material. Funciona assim: a bactéria, chamada de Bacillus pseudofirmus, mora dentro do concreto, que invariavelmente sofre desgaste com o tempo. Em contato com a água, a bactéria passa a se alimentar das substâncias do material e fecha pouco a pouco as rachaduras formadas pelo desgaste, atuando como regeneradora. A expectativa de vida dessas bactérias é de até 200 anos.

A companhia também espera levar inovação para o varejo. Em parceria com a siderúrgica Gerdau e a fabricante de tubos e conexões Tigre, lançou o programa Juntos Somos +. A ideia é atrair um representante de cada segmento para criar soluções e benefícios para o comerciante do setor, que responde por 68% de todas as vendas na construção civil.

Entre as ideias, está o treinamento de balconistas e o desenvolvimento de sistemas e equipamentos para as lojas. Atualmente, segundo Castelli, nem todos os vendedores sabem os melhores tipos de produto e quantidades necessárias para cada tipo de obra. Por isso, a Juntos Somos + está desenvolvendo um sistema para trazer essas respostas mais rapidamente.

"Para reformar um banheiro, o cliente precisará fornecer apenas a dimensão do espaço e o sistema trará todas as informações de materiais que ele precisará para a obra", diz Castelli. Lançado no fim do ano passado, a VC já desembolsou cerca de 30 milhões de reais no projeto.

Com essas medidas, Castelli espera que a empresa fique mais madura para uma abertura de capital nos próximos quatro anos. "É bom lembrar, no entanto, que o IPO não é um fim, mas um meio para a expansão da companhia", diz o executivo. A internacionalização também continuará sendo estratégica para impulsionar as receitas.

O resultado operacional da empresa na América do Norte é praticamente o mesmo da subsidiária local, apesar de o Brasil apresentar o dobro do faturamento. Além de aumentar as vendas em moedas fortes, o objetivo é buscar mercados menos voláteis que o brasileiro, especialmente considerando que o cenário no país para os próximos meses e anos segue instável.

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