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Na Avenues, escola de alto padrão em SP, alunos criam prótese robótica que devolve movimento perdido

Ao desenvolver próteses funcionais, estudantes do 8º ano exploram biomecânica, tecnologia e as histórias reais por trás das limitações de movimento

No Animatronics, alunos descobrem como a ciência pode melhorar a autonomia de outras pessoas (Divulgação Avenues)

No Animatronics, alunos descobrem como a ciência pode melhorar a autonomia de outras pessoas (Divulgação Avenues)

Guilherme Santiago
Guilherme Santiago

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Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 12h00.

Última atualização em 1 de dezembro de 2025 às 13h33.

As famílias costumam esperar das escolas duas entregas simultâneas: uma formação acadêmica sólida, capaz de preparar os filhos para os desafios futuros, e uma formação humana que desenvolva ética, empatia e senso de responsabilidade. Conciliar essas expectativas não é trivial, especialmente em um contexto no qual muitas instituições de ensino ainda operam sob a lógica conteudista que pouco conversa com a complexidade da vida real.

Na Avenues São Paulo, uma tentativa de aproximar essas duas frentes aparece no Animatronics, um projeto criado há sete anos para unir ciência, tecnologia e sensibilidade. A iniciativa envolve estudantes do 8º ano na construção de próteses e órteses robóticas de baixa fidelidade. O projeto permite aos estudantes compreender os mecanismos que movem um corpo e, ao mesmo tempo, as necessidades de quem convive com limitações físicas.

Como funciona o Animatronics

Todos os alunos do 8º ano participam do Animatronics. As turmas seguem uma sequência de oito semanas que combina biologia, anatomia, artes, tecnologia e programação. O objetivo final é desenvolver um protótipo funcional que resolva um desafio mecânico relacionado à perda ou limitação de movimento.

A jornada começa com o estudo de sistemas eletrônicos e sistemas biológicos. Nas aulas de tecnologia, os estudantes da Avenues aprendem programação. Em paralelo, investigam evolução, anatomia e fisiologia de diferentes espécies.

Diego Dolph Johnson, designer e educador na escola, explica que o desenho do curso nasce das experimentações do próprio corpo docente. “A gente executa o projeto antes, como equipe, para entender o que é possível com os materiais e como adaptar o conteúdo para essa faixa etária”, afirma. Esse processo define a ordem dos conteúdos e evita que algo tecnicamente complexo ultrapasse o que alunos de 13 e 14 anos conseguem sustentar.

A infraestrutura da escola permite integrar biologia, programação e criação prática (Ana Mello)

Na etapa final, cada grupo escolhe um ser, define qual membro perdeu função e estabelece qual função deseja restaurar. Segundo Johnson, esse momento amplia o entendimento de propósito. 

“Eles percebem que não estão estudando para uma prova. Entendem que o conhecimento pode ter impacto no mundo.”

Por que a escola mantém um projeto assim

O Animatronics nasceu do desejo de unir engajamento e profundidade conceitual. No início, o projeto girava em torno da construção de modelos robóticos para explorar a biomecânica. Tudo mudou quando os professores conheceram um aluno que havia passado por mais de 30 cirurgias e dependido de órteses na infância. Ele compartilhou sua história e descreveu a relação entre tecnologia e autonomia. A presença dele reformulou o curso. 

Desde então, o projeto passou a focar no desenvolvimento de órteses e próteses que respondem a necessidades concretas – mesmo que, no 8º ano, isso ocorra apenas por meio de protótipos de baixa fidelidade.

Para Johnson, essa decisão fortaleceu a dimensão humana do aprendizado. Segundo ele, o Animatronics permanece na escola porque ajuda a conectar conteúdo acadêmico e formação cidadã.

“O exercício de empatia é fundamental. Os alunos entendem que as diferenças físicas não definem a pessoa e que o design de uma prótese pode tornar a vida dela mais confortável.” 

O impacto na vida dos alunos

Para Arturo Augusto, estudante do 9º ano, o Animatronics ampliou o entendimento sobre como a técnica se relaciona com a vida cotidiana. 

“Saber que uma ideia simples pode se transformar em apoio para outra pessoa tornou o projeto especial”, diz. Ele afirma que o processo de criação o levou a perceber a dimensão humana por trás do que parecia apenas uma tarefa técnica. “Aprendi que o nosso trabalho vai além dos muros da escola.”

O grupo de Arturo enfrentou um desafio particular. Cinco alunos precisavam desenvolver uma luva robótica que só cabia na mão dele. “Tínhamos dez mãos trabalhando em uma única luva, e olha que minha mão é pequena”, comenta.

A experiência também despertou memórias pessoais. O irmão mais velho de Arturo usou órteses durante a infância por causa de uma deficiência na perna. “As órteses redefiniram o que era possível para ele”, lembra. “Enxergar isso de um ângulo técnico foi diferente. Fez tudo ganhar outra dimensão.”

Ao final, Arturo viu avanços que não previa. “Antes, minhas habilidades de programação eram comparáveis às de um guaxinim digitando num computador”, brinca. Hoje, foi ele quem programou a luva do grupo.

Estudantes vivenciam a relação entre conhecimento técnico e impacto social (Ana Mello)

O que vem pela frente

O Animatronics se consolidou como um dos projetos mais estáveis da Avenues. Já foi tema de estudo na Illinois State University, apresentado em conferências e replicado em iniciativas de outras instituições. Alguns alunos decidiram levar o projeto adiante, desta vez com pacientes reais. 

Nos próximos meses, a escola deve apresentar o Animatronics em novas conferências e seguir compartilhando sua metodologia com educadores interessados. Johnson vê esse movimento como parte da maturação do programa. “Estamos em um momento de organizar o que aprendemos ao longo desses anos e mostrar como essa experiência pode funcionar em outros contextos”, afirma.

O plano de expansão ainda não está fechado. A escola pretende avaliar parcerias, revisar materiais e estudar maneiras de ampliar o alcance do projeto sem perder consistência. “A ideia é continuar aprimorando o projeto com base no que os alunos produzem e no que observamos em sala”, diz Johnson.

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