Rachel Maia, fundadora e ceo da RM consulting, durante o evento Agora é que são Elas: mudança começa a nível individual (Youtube/Reprodução)
Criar indicadores e metas claras é um consenso quando se discute quais são os principais passos para a promoção da diversidade dentro das organizações.
Mas, só isso não basta: é preciso trabalhar a nível do indivíduo para empoderar as pessoas de grupos minorizados e fazê-las acreditar que são capazes de ocupar diferentes espaços na sociedade.
Essa foi a reflexão de Rachel Maia, fundadora e CEO da RM consulting e primeira mulher negra a ocupar um cargo de CEO no Brasil.
A executiva participou de um painel sobre a agenda da ONU para mulheres durante o "Agora é que são Elas”, evento da EXAME em parceria com o Movimento Aladas de empreendedorismo feminino.
Ao lado de Maia estavam Tayná Leite, gerente sênior de direitos humanos e gênero do Pacto Global da ONU, e Amanda Graciano, sócia e head de relacionamento com corporações na Fisher Venture Builder.
"Hoje, nós temos a responsabilidade de acreditar que somos capazes. Dados mostram que mulheres precisam estar 100% prontas para aplicar para vagas, enquanto homens podem ter apenas 60% dos requisitos", disse Rachel Maia durante o painel.
"Então, antes de gerar a oportunidade em nível corporativo, é preciso trabalhar o aspecto do indivíduo. Afinal, se houver a oportunidade e não tiver quem preencher? O mundo corporativo é feito por CPFs. Então, nós, individualmente, temos de ser protagonistas dessa revolução", continuou.
A executiva, que já foi CEO da Lacoste e da Pandora, comentou que muitas mulheres a procuram com dúvidas sobre aceitar ou não cadeiras em conselhos de administração de empresas. Algumas citam, por exemplo, a baixa idade como empecilho.
"Eu digo: mas quem te perguntou essa parte dos 50 anos para ocupar uma vaga em um conselho? Ninguém! Vai lá e se candidata. Se capacite, inscreva-se em um curso, ouse um pouco mais. Precisamos ousar mais para que tenhamos uma agenda com metas reais", concluiu Maia.
A economia do cuidado, ou seja, o fato de, ainda hoje, as mulheres serem, majoritariamente, responsáveis pelo trabalho doméstico também foi lembrado por Tayná Leite, da ONU, como uma das razões pelas quais o número de executivas em posições de c-level ainda é baixo, apesar de mulheres, média, terem mais anos de estudo que os homens.
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"E quando ele não é feito por mulheres brancas que se 'empoderaram', esse trabalho é feito por mulheres negras ou de classes sociais mais baixas. Ou seja, só vamos avançar quando mudarmos essa base", disse.
"Mulheres e outras minorias não brotam nas posições de liderança. Há razões sociais e históricas pelas quais temos mais homens, brancos, heterossexuais, cisgêneros e de uma certa classe social em posições de poder. Por isso, alcançar a paridade de mulheres em cargos executivos será um sinal de que resolvemos vários problemas, além de insumo para continuar esse ciclo de inclusão", finalizou.
Leite também comentou o quanto a igualdade de gênero está intrinsecamente ligada às 17 metas que fazem parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas.
A agenda proposta pela ONU, criada em 2015 propõe uma série de metas e indicadores para combater problemas sociais, como a erradicação da pobreza, o combate à fome, educação de qualidade, acesso à saúde e água potável, redução das desigualdades, entre outros.
"A igualdade de gênero, a ODS 5, é um tema que toca muito o setor privado. E todos os secretários que vieram foram enfáticos: sem igualdade de gênero, não vamos atingir nenhum dos outros objetivos. No Brasil, essa temática também aborda a problemática da desigualdade racial", disse Leite.
A importância da educação, inclusive, para avançar a agenda da inclusão foi lembrada por Rachel Maia. "Antes da ODS que trata da igualdade de gênero, está a ODS que aborda a educação, que está no centro de todas as 17 metas. Ou seja, a educação é a mola propulsora para que essa agenda aconteça", declarou.