A trading de commodities se favoreceu com a retomada do negócio de compra e venda de produtos agrícolas, que há anos enfrentava baixas margens (Jaelson Lucas/AEN/Agência Senado)
Bloomberg
Publicado em 28 de abril de 2021 às 17h32.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 17h43.
Os ganhos das commodities agrícolas impulsionaram o lucro da Cargill para nível recorde no Brasil, o maior exportador de soja.
A unidade brasileira da maior trading de commodities agrícolas do mundo teve lucro líquido acima de 2,1 bilhões de reais e receita de 68,6 bilhões de reais no ano passado, um recorde. A empresa se beneficiou dos preços mais altos no mercado global, da alta do dólar frente ao real, da forte demanda e da oferta global mais apertada, disse Paulo Sousa, CEO da Cargill no Brasil.
Os resultados ilustram como a trading se favoreceu com a retomada do negócio de compra e venda de produtos agrícolas, que há anos enfrentava baixas margens. No ano passado, a Cargill, uma das maiores empresas de capital fechado dos Estados Unidos, parou de publicar resultados para o grupo em geral, depois de décadas de divulgação.
Em entrevista, Sousa disse que os agricultores brasileiros viram os preços subirem tanto em dólares quanto em reais. Segundo ele, vários fatores ajudaram: boas safras, preços altos e desvalorização do real.
O lucro da Cargill no Brasil foi multiplicado por 5 no ano passado, enquanto a receita aumentou 38%, disse a empresa. A trading de Minneapolis investiu 3,7 bilhões de reais nas operações brasileiras nos últimos cinco anos e quer continuar crescendo na potência agrícola.
O aumento dos preços das commodities agrícolas ocorre no momento em que a China compra grãos dos Estados Unidos para alimentar o plantel de suínos que se recupera da peste suína africana mais rápido do que a maioria das tradings esperava. Isso se somou a cortes na produção americana do ano passado e aumento da demanda, enquanto países estocavam devido a preocupações de segurança alimentar. Um indicador dos preços de grãos subiu para a máxima em oito anos, impulsionado em parte pelo clima adverso no Brasil.
A safra de soja do Brasil, agora em sua última etapa, foi plantada e colhida tarde, mas a produção acabou sendo boa, disse Sousa, que não quis divulgar a estimativa da Cargill. O atraso fez com que a safrinha de milho perdesse a janela ideal de plantio, afirmou.
Além disso, ele destacou a falta de chuva e um clima mais seco do que o ideal no Centro-Sul. “Principalmente Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e partes de Minas Gerais e Goiás estão em um cenário no qual as expectativas de produção estão sendo reduzidas.”
Os preços elevados começam a reduzir as margens de produtores de aves e suínos no Brasil, mas os custos ainda não são altos o suficiente para conter a demanda, de acordo com Sousa. Embora haja rumores de que fabricantes brasileiros de ração estejam migrando para o trigo, a Cargill diz que qualquer mudança no país seria limitada.
Ele destaca que o milho e o farelo de soja são os grandes componentes das rações, “então não há muitas opções”.
A agricultura brasileira é rentável e continuará se expandindo com o aumento das áreas plantadas, afirmou. O maior risco é a percepção internacional de que o país carece de padrões de sustentabilidade no que diz respeito ao desmatamento, seja essa percepção verdadeira ou não, disse Sousa.
Segundo ele, se a agricultura brasileira não conseguir mudar essa percepção, vai sentir o impacto no futuro, principalmente em mercados mais desenvolvidos como a União Europeia, que tem metas rígidas para a redução das emissões no setor de alimentos. Sousa destaca que alguns dos maiores produtores estão cientes disso e já começaram a adotar práticas de baixo carbono.