Mercado de resinas pode retroceder meia década, diz Braskem
Com retração da economia e possível extinção do Regime Especial da Indústria Química, Carlos Fadigas vê com preocupação o futuro do setor
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2015 às 09h56.
São Paulo - Principal beneficiada pela decisão do governo federal de lançar em 2013 o Regime Especial da Indústria Química (ReiQ), programa em vias de ser extinto, a Braskem agora vê com preocupação a possibilidade de o setor voltar a números vistos no início da década.
Além da retração da economia e da decisão da Standard & Poor's (S&P) de rebaixar o rating do Brasil, a petroquímica foi surpreendida com a decisão do governo de rever os estímulos a partir do ReiQ e do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra).
Na visão do presidente da Braskem, Carlos Fadigas, há uma sinalização de falta de prioridade à indústria . Os exportadores, beneficiados pelo Reintegra, também serão afetados, justamente em um momento no qual o mercado externo é considerado uma alternativa à retração da demanda doméstica.
Embora ainda não se saiba ao certo qual será o impacto do pacote nos negócios da Braskem e outras 49 empresas da cadeia química, é esperado uma deterioração na balança comercial do setor, deficitária em cerca de US$ 30 bilhões ao ano.
O plano anunciado pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, surge em um período turbulento para a cadeia. Desde 2013, a Braskem tenta chagar a um novo acordo com a Petrobras para o fornecimento de nafta no longo prazo.
Em meio a investigações da Polícia Federal no âmbito da Lava Jato e de mudanças no comando da estatal, o impasse se arrasta a partir da assinatura de aditivos semestrais e o último, bimestral, com validade até o final de outubro.
Sem um acordo, os investimentos no Brasil estão paralisados. No exterior, por outro lado, a Braskem concluirá no final do ano a construção de um complexo petroquímico no México, avaliado em cerca de R$ 20 bilhões, e estuda novos investimentos na América do Norte, região onde o custo das matérias-primas é mais competitivo.
Ao Brasil, resta a incerteza gerada pelo fim dos incentivos e da inexistência de um contrato plurianual. "Os dois juntos colocam o setor no corner", afirma Fadigas em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado:
A retirada de incentivos no ReiQ e no Reintegra foi uma surpresa?
A retirada acontece em um momento delicado para a indústria brasileira, que sofre com queda na produção, no emprego e nos investimentos. É também um momento especialmente delicado para a indústria química, que continua acumulando déficits bilionários na balança comercial, que tem uma matéria-prima em sua origem mais cara do que seu principal concorrente e que roda o parque industrial a uma taxa de operação de 80%.
Além disso, a forma (do anúncio) também foi ruim na medida em que o ReiQ foi resultado de um trabalho liderado pelo governo, amplamente discutido ao longo de quase dois anos, e aprovado na Câmara e no Senado. Agora ele é retirado com zero de diálogo. Em relação ao Reintegra, é uma sinalização de falta de prioridade à indústria. Este mesmo governo, três meses atrás, lançou o Plano Nacional de Exportação, um canal importante diante da retração do mercado doméstico.
O pacote federal pode acentuar o mau momento enfrentado pelo setor?
Temos agora, na resina, uma previsão de queda de demanda entre 5% e 7%. Falávamos, dois meses atrás, em uma retração em linha com o PIB (Produto Interno Bruto), a menos que os riscos se intensificassem. Em dois meses, eles se intensificaram. Vemos a indústria com queda de mais de 6% na produção industrial e corremos o risco de perder meia década.
Se pensarmos em um número no limite de 7%, e lembrarmos a queda de 1% no ano passado, precisaríamos de dois crescimentos na casa de 4% para chegarmos, lá em 2018, ao patamar de 2013. Por isso o canal de exportação é importante em um momento como esse.
O anúncio ocorre em um momento no qual a Braskem discute o orçamento do próximo ano, mesmo sem saber como será o fornecimento de nafta. Afeta o planejamento?
Afeta. Já existem linhas que não operam a plena carga e ainda haverá cliente que vai 'puxar' menos, porque não há o incentivo. Também há a questão na nafta. É, na verdade, uma ameaça dupla. Os dois juntos colocam no corner um setor que responde por 10% do PIB industrial brasileiro.
Vale lembrar também que não há investimento relevante no setor. O último foi a fábrica da Basf, na Bahia, para o qual negociamos um contrato de matéria-prima meses antes de sabermos que não haveria previsão sobre nafta.
Sem previsibilidade, a Braskem deixou de anunciar novos projetos
Nos Estados Unidos, temos duas fábricas. Estamos construindo uma unidade de (fibra) Utec, um plástico mais duro que o aço, que ficará pronta daqui a um ano e demandará investimento da ordem de US$ 35 milhões. Também estamos desgargalando a fábrica de Marcus Hook, uma expansão de algo entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões.
Além disso, estudamos a construção de uma nova fábrica de polipropileno em escala mundial (algo próximo a 400 mil toneladas anuais), e há o projeto do México.
São todos projetos no exterior. Não há projetos no Brasil?
Temos projetos para o Brasil também, mas que estão paralisados porque não temos matéria-prima. Temos, por exemplo, um projeto em parceria com a Styrolution para produzir ABS na Bahia. Além disso, há o interesse da Synthos em um projeto no Rio Grande do Sul. Mas eles estão parados.
As empresas nos pedem contratos de 15 anos, no que estão corretas. Nosso contrato no México, por exemplo, é de 20 anos. Outro projeto, a duplicação de Duque de Caxias, também pode sair facilmente. É um projeto de mais de bilhão, em um parque industrial que já existe.
A Braskem está otimista com a possibilidade de assinar um novo contrato de fornecimento de nafta de longo prazo até o final de outubro?
A situação com a Petrobras é menos uma questão de prazo, e mais de conseguir trazer um entendimento para a discussão. O impasse segue sendo a busca da Petrobras em transferir para o custo de importação, custo este que não é da indústria.
Deixamos claro que o setor não consegue subsidiar a importação, e continuamos nossos esforços para buscarmos um contrato de longo prazo que reduza as incertezas que já afetam especialmente a indústria química.
São Paulo - Principal beneficiada pela decisão do governo federal de lançar em 2013 o Regime Especial da Indústria Química (ReiQ), programa em vias de ser extinto, a Braskem agora vê com preocupação a possibilidade de o setor voltar a números vistos no início da década.
Além da retração da economia e da decisão da Standard & Poor's (S&P) de rebaixar o rating do Brasil, a petroquímica foi surpreendida com a decisão do governo de rever os estímulos a partir do ReiQ e do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra).
Na visão do presidente da Braskem, Carlos Fadigas, há uma sinalização de falta de prioridade à indústria . Os exportadores, beneficiados pelo Reintegra, também serão afetados, justamente em um momento no qual o mercado externo é considerado uma alternativa à retração da demanda doméstica.
Embora ainda não se saiba ao certo qual será o impacto do pacote nos negócios da Braskem e outras 49 empresas da cadeia química, é esperado uma deterioração na balança comercial do setor, deficitária em cerca de US$ 30 bilhões ao ano.
O plano anunciado pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, surge em um período turbulento para a cadeia. Desde 2013, a Braskem tenta chagar a um novo acordo com a Petrobras para o fornecimento de nafta no longo prazo.
Em meio a investigações da Polícia Federal no âmbito da Lava Jato e de mudanças no comando da estatal, o impasse se arrasta a partir da assinatura de aditivos semestrais e o último, bimestral, com validade até o final de outubro.
Sem um acordo, os investimentos no Brasil estão paralisados. No exterior, por outro lado, a Braskem concluirá no final do ano a construção de um complexo petroquímico no México, avaliado em cerca de R$ 20 bilhões, e estuda novos investimentos na América do Norte, região onde o custo das matérias-primas é mais competitivo.
Ao Brasil, resta a incerteza gerada pelo fim dos incentivos e da inexistência de um contrato plurianual. "Os dois juntos colocam o setor no corner", afirma Fadigas em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado:
A retirada de incentivos no ReiQ e no Reintegra foi uma surpresa?
A retirada acontece em um momento delicado para a indústria brasileira, que sofre com queda na produção, no emprego e nos investimentos. É também um momento especialmente delicado para a indústria química, que continua acumulando déficits bilionários na balança comercial, que tem uma matéria-prima em sua origem mais cara do que seu principal concorrente e que roda o parque industrial a uma taxa de operação de 80%.
Além disso, a forma (do anúncio) também foi ruim na medida em que o ReiQ foi resultado de um trabalho liderado pelo governo, amplamente discutido ao longo de quase dois anos, e aprovado na Câmara e no Senado. Agora ele é retirado com zero de diálogo. Em relação ao Reintegra, é uma sinalização de falta de prioridade à indústria. Este mesmo governo, três meses atrás, lançou o Plano Nacional de Exportação, um canal importante diante da retração do mercado doméstico.
O pacote federal pode acentuar o mau momento enfrentado pelo setor?
Temos agora, na resina, uma previsão de queda de demanda entre 5% e 7%. Falávamos, dois meses atrás, em uma retração em linha com o PIB (Produto Interno Bruto), a menos que os riscos se intensificassem. Em dois meses, eles se intensificaram. Vemos a indústria com queda de mais de 6% na produção industrial e corremos o risco de perder meia década.
Se pensarmos em um número no limite de 7%, e lembrarmos a queda de 1% no ano passado, precisaríamos de dois crescimentos na casa de 4% para chegarmos, lá em 2018, ao patamar de 2013. Por isso o canal de exportação é importante em um momento como esse.
O anúncio ocorre em um momento no qual a Braskem discute o orçamento do próximo ano, mesmo sem saber como será o fornecimento de nafta. Afeta o planejamento?
Afeta. Já existem linhas que não operam a plena carga e ainda haverá cliente que vai 'puxar' menos, porque não há o incentivo. Também há a questão na nafta. É, na verdade, uma ameaça dupla. Os dois juntos colocam no corner um setor que responde por 10% do PIB industrial brasileiro.
Vale lembrar também que não há investimento relevante no setor. O último foi a fábrica da Basf, na Bahia, para o qual negociamos um contrato de matéria-prima meses antes de sabermos que não haveria previsão sobre nafta.
Sem previsibilidade, a Braskem deixou de anunciar novos projetos
Nos Estados Unidos, temos duas fábricas. Estamos construindo uma unidade de (fibra) Utec, um plástico mais duro que o aço, que ficará pronta daqui a um ano e demandará investimento da ordem de US$ 35 milhões. Também estamos desgargalando a fábrica de Marcus Hook, uma expansão de algo entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões.
Além disso, estudamos a construção de uma nova fábrica de polipropileno em escala mundial (algo próximo a 400 mil toneladas anuais), e há o projeto do México.
São todos projetos no exterior. Não há projetos no Brasil?
Temos projetos para o Brasil também, mas que estão paralisados porque não temos matéria-prima. Temos, por exemplo, um projeto em parceria com a Styrolution para produzir ABS na Bahia. Além disso, há o interesse da Synthos em um projeto no Rio Grande do Sul. Mas eles estão parados.
As empresas nos pedem contratos de 15 anos, no que estão corretas. Nosso contrato no México, por exemplo, é de 20 anos. Outro projeto, a duplicação de Duque de Caxias, também pode sair facilmente. É um projeto de mais de bilhão, em um parque industrial que já existe.
A Braskem está otimista com a possibilidade de assinar um novo contrato de fornecimento de nafta de longo prazo até o final de outubro?
A situação com a Petrobras é menos uma questão de prazo, e mais de conseguir trazer um entendimento para a discussão. O impasse segue sendo a busca da Petrobras em transferir para o custo de importação, custo este que não é da indústria.
Deixamos claro que o setor não consegue subsidiar a importação, e continuamos nossos esforços para buscarmos um contrato de longo prazo que reduza as incertezas que já afetam especialmente a indústria química.