Mercado aposta em Eletrobras sem políticos e ações disparam
O mercado dá claros sinais de que comprou a promessa do governo interino de Michel Temer de promover uma gestão técnica na estatal Eletrobras
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2016 às 18h12.
São Paulo - O mercado dá claros sinais de que comprou a promessa do governo interino de Michel Temer de promover uma gestão técnica na estatal Eletrobras , o que puxou uma disparada superior a 50 por cento nos papéis da elétrica em pouco mais de três semanas, tocando uma máxima histórica.
Alguns analistas do setor, no entanto, ressaltam que a euforia ignora questões como a possibilidade, mesmo que remota, de retorno da presidente afastada Dilma Rousseff, além do enorme desafio de levantar uma companhia que ainda tem uma série de problemas a serem resolvidos.
Maior empresa de geração e transmissão de energia do Brasil, com empreendimentos que vão de mega hidrelétricas na Amazônia a usinas nucleares, a Eletrobras acumulou mais de 30 bilhões de reais em prejuízos nos últimos quatro anos, além de obras atrasadas e pendências financeiras.
Contudo, o mau desempenho é largamente atribuído à intervenção do governo, que nos últimos anos escalou a companhia para tocar projetos com baixa rentabilidade e viabilizar reduções nas tarifas de energia.
Na aposta contra a interferência na estatal, o mercado tem se fiado no novo presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr, ex-executivo da maior elétrica privada do país, a CPFL Energia, e no consultor Vicente Falcone, que deve presidir o Conselho de Administração.
Desde que foi noticiado que Ferreira Jr assumiria a estatal, em 21 de junho, as ações preferenciais da companhia acumulam alta de cerca de 52 por cento.
"Esse é um time que já fez história no mercado de energia. São pessoas que acredito que vão lá para fazer a coisa certa, e não para fazer política... Ou seja: não fazer mais investimento errado, não vão vender mais energia a preços subsidiados", afirmou à Reuters o analista de energia da Haitong Securities, Sérgio Tamashiro.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Nivalde de Castro, as interferências políticas têm sido uma verdadeira "sangria" nos resultados da elétrica, mas isso pode mudar.
"A gente avalia que o setor elétrico poderá ter uma agenda exclusivamente econômica, sem interferência política, e acho que as ações da Eletrobras expressam isso também", afirmou.
Outro fator que anima os investidores é o plano do governo interino de vender ativos da Eletrobras, como participações em usinas e linhas de energia, além de subsidiárias de distribuição, a começar pela goiana Celg-D, que tem leilão de privatização já agendado para agosto.
Nesta semana, relatório do banco Santander elevou o preço-alvo das ações preferenciais da estatal para 21,14 reais em 2017, ante 11,24 reais em 2016. O banco apontou, no entanto, que seu cenário mais altista, que prevê fortes cortes de custos e venda de ativos, poderia ver as ações tocarem até 38,59 reais por papel.
Na sessão desta quarta-feira, as ações chegaram a tocar 21,85 reais, com alta de mais de 5 por cento.
Para Tamashiro, da Haitong, esse patamar mostra que já há investidores que esperam grande sucesso das vendas de ativos ou até mesmo privatizações mais ousadas na estatal.
"Alguma coisa já estão precificando, e bem... não está mais uma barganha", afirmou.
DESAFIOS
Apesar do otimismo, o consultor Abel Holtz, ex-conselheiro da Chesf, subsidiária da Eletrobras no Nordeste, pondera que uma virada nos resultados da elétrica dependerá em grande parte da capacidade da nova gestão de transitar pelas dificuldades de se comandar uma estatal.
Ele citou como exemplos eventuais entraves do Tribunal de Contas da União (TCU) e sindicatos para a venda de distribuidoras de energia da Eletrobras que atuam no Norte e Nordeste e são fortemente deficitárias, além de possíveis resistências a demissões e cortes de custos necessários para sanear a companhia.
"Não é um quadro de fácil solução... tem que dar um jeito de criar um programa de ir comendo pelas beiradas, fazer o que é mais fácil para criar um ambiente positivo, para evitar greves e reações do mercado", afirmou.
Também não está no radar do mercado uma eventual volta da presidente afastada Dilma Rousseff, que enfrenta um processo de impeachment e deve ser julgada pelo Senado em agosto.
"O mercado não está precificando isso... a Eletrobras voltaria ao que valia antes em algumas semanas", afirmou Tamashiro, da Haitong.
Outros obstáculos à frente são as investigações sobre corrupção, que levaram à suspensão de negócios com ações da Eletrobras na bolsa de Nova York; dívidas bilionárias junto à Petrobras pela compra de combustível para usinas no Norte; a retomada da usina nuclear Angra 3, paralisada após abandono de construtoras; além da conclusão de uma série de obras atrasadas em meio a um cenário apertado de crédito.
O ex-presidente de uma grande elétrica estrangeira no Brasil, que falou sob a condição de anonimato, mostrou desconfiança ante os desafios.
"Temos que tirar um pouco as emoções... os problemas são muito maiores e precisam de medidas que vão se desdobrar ao longo do tempo. Não existe justificativa nesse momento para uma reversão, a não ser especulação... Não é só porque mudou a direção que está tudo resolvido, há um pouco de excesso de otimismo", afirmou.
São Paulo - O mercado dá claros sinais de que comprou a promessa do governo interino de Michel Temer de promover uma gestão técnica na estatal Eletrobras , o que puxou uma disparada superior a 50 por cento nos papéis da elétrica em pouco mais de três semanas, tocando uma máxima histórica.
Alguns analistas do setor, no entanto, ressaltam que a euforia ignora questões como a possibilidade, mesmo que remota, de retorno da presidente afastada Dilma Rousseff, além do enorme desafio de levantar uma companhia que ainda tem uma série de problemas a serem resolvidos.
Maior empresa de geração e transmissão de energia do Brasil, com empreendimentos que vão de mega hidrelétricas na Amazônia a usinas nucleares, a Eletrobras acumulou mais de 30 bilhões de reais em prejuízos nos últimos quatro anos, além de obras atrasadas e pendências financeiras.
Contudo, o mau desempenho é largamente atribuído à intervenção do governo, que nos últimos anos escalou a companhia para tocar projetos com baixa rentabilidade e viabilizar reduções nas tarifas de energia.
Na aposta contra a interferência na estatal, o mercado tem se fiado no novo presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr, ex-executivo da maior elétrica privada do país, a CPFL Energia, e no consultor Vicente Falcone, que deve presidir o Conselho de Administração.
Desde que foi noticiado que Ferreira Jr assumiria a estatal, em 21 de junho, as ações preferenciais da companhia acumulam alta de cerca de 52 por cento.
"Esse é um time que já fez história no mercado de energia. São pessoas que acredito que vão lá para fazer a coisa certa, e não para fazer política... Ou seja: não fazer mais investimento errado, não vão vender mais energia a preços subsidiados", afirmou à Reuters o analista de energia da Haitong Securities, Sérgio Tamashiro.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Nivalde de Castro, as interferências políticas têm sido uma verdadeira "sangria" nos resultados da elétrica, mas isso pode mudar.
"A gente avalia que o setor elétrico poderá ter uma agenda exclusivamente econômica, sem interferência política, e acho que as ações da Eletrobras expressam isso também", afirmou.
Outro fator que anima os investidores é o plano do governo interino de vender ativos da Eletrobras, como participações em usinas e linhas de energia, além de subsidiárias de distribuição, a começar pela goiana Celg-D, que tem leilão de privatização já agendado para agosto.
Nesta semana, relatório do banco Santander elevou o preço-alvo das ações preferenciais da estatal para 21,14 reais em 2017, ante 11,24 reais em 2016. O banco apontou, no entanto, que seu cenário mais altista, que prevê fortes cortes de custos e venda de ativos, poderia ver as ações tocarem até 38,59 reais por papel.
Na sessão desta quarta-feira, as ações chegaram a tocar 21,85 reais, com alta de mais de 5 por cento.
Para Tamashiro, da Haitong, esse patamar mostra que já há investidores que esperam grande sucesso das vendas de ativos ou até mesmo privatizações mais ousadas na estatal.
"Alguma coisa já estão precificando, e bem... não está mais uma barganha", afirmou.
DESAFIOS
Apesar do otimismo, o consultor Abel Holtz, ex-conselheiro da Chesf, subsidiária da Eletrobras no Nordeste, pondera que uma virada nos resultados da elétrica dependerá em grande parte da capacidade da nova gestão de transitar pelas dificuldades de se comandar uma estatal.
Ele citou como exemplos eventuais entraves do Tribunal de Contas da União (TCU) e sindicatos para a venda de distribuidoras de energia da Eletrobras que atuam no Norte e Nordeste e são fortemente deficitárias, além de possíveis resistências a demissões e cortes de custos necessários para sanear a companhia.
"Não é um quadro de fácil solução... tem que dar um jeito de criar um programa de ir comendo pelas beiradas, fazer o que é mais fácil para criar um ambiente positivo, para evitar greves e reações do mercado", afirmou.
Também não está no radar do mercado uma eventual volta da presidente afastada Dilma Rousseff, que enfrenta um processo de impeachment e deve ser julgada pelo Senado em agosto.
"O mercado não está precificando isso... a Eletrobras voltaria ao que valia antes em algumas semanas", afirmou Tamashiro, da Haitong.
Outros obstáculos à frente são as investigações sobre corrupção, que levaram à suspensão de negócios com ações da Eletrobras na bolsa de Nova York; dívidas bilionárias junto à Petrobras pela compra de combustível para usinas no Norte; a retomada da usina nuclear Angra 3, paralisada após abandono de construtoras; além da conclusão de uma série de obras atrasadas em meio a um cenário apertado de crédito.
O ex-presidente de uma grande elétrica estrangeira no Brasil, que falou sob a condição de anonimato, mostrou desconfiança ante os desafios.
"Temos que tirar um pouco as emoções... os problemas são muito maiores e precisam de medidas que vão se desdobrar ao longo do tempo. Não existe justificativa nesse momento para uma reversão, a não ser especulação... Não é só porque mudou a direção que está tudo resolvido, há um pouco de excesso de otimismo", afirmou.