Fabricantes de cerveja e malte fecharam ou reduziram as operações durante a pandemia (Getty Images/Getty Images)
Janaína Ribeiro
Publicado em 21 de maio de 2020 às 21h54.
Produtores de cevada como Brett Askew mal podem esperar para que os pubs reabram, mas tomar uma cerveja não é do que mais sentem falta.
Como muitos fazendeiros europeus cujos planos para o trigo foram frustrados por um outono chuvoso, o britânico esperou que o tempo melhorasse e decidiu se concentrar nas culturas de primavera que são plantadas mais tarde, como a cevada, que ele planeja vender para os malteiros. O momento não poderia ter sido pior.
Pubs e restaurantes fechados e cancelamento de eventos esportivos e de festivais como o Oktoberfest, na Alemanha, afetaram a demanda por malte usado para fabricar cerveja e uísque. Fabricantes de cerveja e malte fecharam ou reduziram as operações. Além disso, os estoques europeus de cevada devem atingir o maior nível em uma década. Com isso, fazendas podem ter que vender a produção por um preço mais barato para ser usada como ração.
“O que acontece e como acontece, não faço ideia”, disse Askew por telefone de sua fazenda no norte da Inglaterra. “Já está plantado, temos que ver a colheita. Mas quem vai comprar?”
Cerca de um sexto da cevada mundial é usada em malte, embora a participação seja maior em regiões com setores intensivos em cerveja e uísque. Os estoques na União Europeia, o maior produtor, devem saltar 14%, para 6,6 milhões de toneladas na próxima temporada, segundo dados do governo dos EUA. Os preços da cevada para malte francesa caíram recentemente para o menor nível desde pelo menos 2015.
A cevada para malte precisa ser armazenada em silos específicos para manter a qualidade e, com a próxima colheita começando em junho, muitos produtores não terão espaço para manter os suprimentos nas fazendas até que a demanda se recupere.
A belga Boortmalt, maior produtora de malte do mundo, espera reduzir as compras de agricultores, enquanto a Malteurop fechou temporariamente quatro fábricas na América do Norte.
“Realmente não há comércio de malte, porque não há demanda”, disse Brent Atthill, diretor da RMI Analytics. “De fato, é o contrário, os malteiros tentam se livrar da cevada que podem prever, com boa precisão, que não precisam. Eles sabem que há outra safra sendo cultivada no momento.”
O prêmio da cevada para malte sobre a variedade para ração diminuiu devido à menor demanda, e os preços podem cair ainda mais, disse. O governo dos EUA projeta que os estoques globais de cevada da próxima temporada aumentem quase 7%, para o maior nível em cinco anos.