Indústria: EUA fabricam em média um produto para cada trabalhador. Aqui, relação é de cerca de 0,3 item por funcionário
Luísa Melo
Publicado em 7 de outubro de 2016 às 11h23.
Última atualização em 24 de outubro de 2016 às 10h51.
São Paulo - O Brasil não é menos produtivo que outros países porque tem empresas piores ou aposta nos setores errados, mas porque protege companhias ineficientes.
É isso que defende Marcos Lisboa, presidente do Insper.
Enquanto os Estados Unidos fabricam em média um produto para cada trabalhador, por aqui, a relação fica ao redor de 0,3 item por funcionário.
Segundo ele, essa diferença pode acontecer por conta da composição setorial da produção, ou do desempenho médio das empresas dentro de cada segmento.
No caso do Brasil, se a economia fosse composta pelos mesmos setores dos EUA, a produtividade poderia crescer 68%.
Mas, se cada uma das áreas tivesse produtividade semelhante à dos americanos, mesmo na organização atual, o indicador brasileiro subiria 430%, de acordo com um estudo de Veloso, Matos, Ferreira e Coelho, citado por Lisboa.
"O Brasil é pobre porque tudo o que fazemos, fazemos pior do que os EUA", disse o economista durante o fórum "Perspectivas Brasil 2017", promovido pela Amcham (Câmara Americana Comércio), na terça-feira (04), em São Paulo.
Na avaliação dele, ainda, o ambiente de negócios brasileiro não permite o empreendedorismo e o processo natural de abertura e fechamento das empresas, que são "superprotegidas" pelo judiciário.
"Temos que deixar as empresas ineficientes quebrarem. Nada é pior para um país do que protegê-las. Cada emprego poupado em um primeiro momento, custa outro no longo prazo", afirmou.
Para o professor, mais da metade da lacuna entre os índices de produtividade dos Estados Unidos e os dos países em desenvolvimento pode ser justificada pela qualidade das instituições.
Ele criticou o excesso de mudança de normas econômicas no país e defendeu um mercado de trabalho simplificado, com melhores instrumentos de crédito e capital.
"O Brasil atualmente dá constrangimento. Não dá para continuar com essa insegurança jurídica", cravou.
Para além do problema da produtividade, Lisboa lembrou que o país enfrenta um grave descontrole dos gastos públicos (que crescem cerca de 6% acima da inflação desde 1995).
Também destacou que esse descompasso se tornará ainda mais crítico com o envelhecimento da população, já que 47% da despesa primária do governo corresponde à previdência.
"Para custear o sistema atual, a previdência precisará ser de 20% do PIB nas próximas décadas", previu. Além disso, "o brasileiro se aposenta mais jovem que o restante do mundo", disse.
Lisboa destacou que a aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos, é um começo para ajustar a economia, mas que reformas adicionais, como a da previdência, são estritamente necessárias.
Sem elas, afirma, o país voltará para um cenário de inflação crônica ou não conseguirá cumprir suas obrigações, como tem acontecido com alguns estados.
Nesse sentido, o economista disse que o governo Michel Temer errou feio ao conceder aumento de salário para o topo dos servidores públicos.
"É difícil imaginar uma decisão mais equivocada do novo governo. Isso provoca um efeito em cascata nos estados, que já estão quebrados não por conta da dívida, mas da folha de pagamentos e da aposentadoria".
Além do ajuste fiscal, Lisboa defendeu a simplificação de regras tributárias, a instituição do imposto de renda progressivo sobre as famílias e com menor alíquota sobre empresas e a abertura comercial do país.
"Existe um mito de que não se paga impostos sobre dividendos no Brasil. Paga-se sim, mas dentro das empresas, não nas famílias", disse.
O professor também endossou a necessidade de uma reforma trabalhista (que contempla, por exemplo, a possibilidade de que a negociação com sindicatos se sobreponha a parte da CLT), do fortalecimento das agências reguladoras e da segurança jurídica dos contratos no país.
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