Exame Logo

Lula abriu Cuba às empresas brasileiras, diz Odebrecht

O CEO da Odebrecht disse que o conglomerado confiou no então presidente para abrir caminho para a empresa em Cuba, onde construiu o porto de Mariel

Vista do porto cubano de Mariel: a Odebrecht liderou a construção do porto, um investimento de US$ 1 bilhão na ilha (Adalberto Roque/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2015 às 18h26.

O CEO da Odebrecht SA, Marcelo Odebrecht , disse que o conglomerado brasileiro de sua família confiou no então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para abrir caminho para a empresa em Cuba .

A Odebrecht SA, dona da maior construtora da América Latina, liderou a construção do porto de Mariel, um investimento de US$ 1 bilhão na ilha comunista, financiado com empréstimos subsidiados do BNDES.

Agora, as operações da empresa em Cuba, e a forma como foram financiadas, estão sendo apuradas no Brasil.

O Ministério Público Federal abriu uma investigação preliminar sobre tráfico de influência para descobrir se Lula usou suas conexões para convencer o BNDES a oferecer empréstimo subsidiado aos projetos da Odebrecht.

Após deixar a presidência, Lula voou em jatos de Odebrecht durante turnês de palestras ao exterior patrocinadas pela firma, disse o CEO.

“O único país onde de fato iniciamos e crescemos e temos que dizer que a relação ajudou muito é Cuba", disse Odebrecht, 46, em entrevista no dia 27 de abril, em referência à relação com Lula.

Ele nega qualquer irregularidade, dizendo que não há fundamentos para uma investigação e que o inquérito do MPF é apenas um “pedido de esclarecimento”.

O ex-presidente já não mantinha nenhum cargo público quando viajou com Odebrecht e tem realizado palestras para empresas de diversos setores, disse Paulo Okamotto, presidente da fundação de Lula, conhecida como Instituto Lula, em um comunicado.

Investigação no Congresso

O BNDES disse em sua página no Facebook que Lula não interferiu nas decisões do banco e que seus empréstimos foram aprovados em um processo independente envolvendo os especialistas do banco.

O BNDES disse que, assim como as agências de exportação de crédito de outros países, o banco financia as exportações para criar empregos no Brasil e ajudar as empresas brasileiras a competir no exterior.

O Congresso também poderá investigar os empréstimos do banco com sede no Rio de Janeiro. Parlamentares de oposição juntaram assinaturas para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os empréstimos do BNDES a projetos como Mariel.

Além disso, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram uma medida para eliminar o sigilo bancário que protege os empréstimos do banco.

O presidente do banco, Luciano Coutinho, disse aos senadores no mês passado que não pode revelar detalhes dos empréstimos porque eles são protegidos por segredo bancário.

Projetos da Odebrecht receberam R$ 5,5 bilhões (US$ 1,8 bilhão) em financiamentos do BNDES entre 2009 e 2014 para financiar projetos no exterior. O volume de empréstimos do banco a projetos da Odebrecht é o maior entre as empresas brasileiras, com exceção da fabricante de aeronaves Embraer.

Dinheiro do contribuinte

Os contribuintes recebem poucas informações a respeito dos empréstimos do banco de propriedade do Tesouro que muitas vezes são subsidiados, disse Sérgio Lazzarini, professor da Faculdade de Administração do Insper em São Paulo e coautor de um livro sobre o BNDES.

“O governo e o BNDES deveriam esclarecer duas coisas”, escreveu ele em um e-mail. “Primeiro, quais são os custos reais dos subsídios e seus benefícios potenciais compensam os custos? Segundo, qual é o critério para escolher o país A ou a empresa X e não o país B e a empresa Y?”.

A Odebrecht disse que a corporação de sua família não foi a única empresa brasileira que se beneficiou da abertura de Cuba liderada por Lula. A Odebrecht liderou cerca de 400 firmas brasileiras que contribuíram para a construção do porto de Mariel, inaugurado em janeiro.

O porto está localizado nos arredores da pacata cidade de Mariel, onde carroças puxadas a cavalo disputam espaço com caminhões de contêineres em estradas de terra. Gruas ociosas estão pintadas com o verde brilhante presente na bandeira brasileira.

“Quando as relações entre Cuba e os Estados Unidos ficarem totalmente normalizadas é natural que Cuba passe a ter um crescimento na área de turismo, de investimentos, em tudo”, disse Odebrecht. “Nossa intenção é criar raízes em Cuba”.

Legislação da Flórida

A empresa planeja se beneficiar com a abertura da economia do país caribenho após derrubar uma lei de 2012 da Flórida que proíbe os governos de fazerem negócios com empresas que mantêm laços com Cuba.

A apelação da Odebrecht a uma lei estadual na Flórida que impede as agências do governo americano de fecharem contratos de US$ 1 milhão ou mais com empresas que fazem negócios em Cuba provocou o bloqueio da lei em um tribunal de apelações em 2013.

A Odebrecht ganhou bilhões de dólares com contratos americanos desde 1990, incluindo trabalhos em um terminal do Aeroporto Internacional de Miami e a arena American Airlines do Miami Heat.

O porto de Mariel está pensado para ser um hub para navios que saem do Canal do Panamá com produtos para os EUA e para o Caribe.

Enquanto o embargo estiver em vigor, as embarcações que param em Cuba ficam impedidas de atracar em um porto dos EUA por meses.

Parece melhor

Embora o porto de Mariel tenha sido parte do esforço de Lula para “plantar a bandeira do Brasil em Cuba”, a participação de empresas como a Odebrecht explica por que o Brasil fez um investimento tão grande que parecia um mau negócio antes de o presidente dos EUA, Barack Obama, e seu colega cubano, Raul Castro, fecharem um acordo para normalizar as relações entre os países, em dezembro, disse Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano em Washington.

“O investimento em Mariel com certeza parece melhor agora do que quando o Brasil se comprometeu com ele”, escreveu Hakim em um e-mail.

Agora que o porto está construído, a Odebrecht está focando no contrato que visa a aumentar a produtividade das usinas de açúcar cubanas.

“Escolhemos ir para Cuba e estamos vendo a questão de outras obras, a questão do açúcar, a distância com os EUA, os vínculos com os EUA”, disse Odebrecht. “Acho que é um país que vai crescer muito nos próximos anos”.

Helio Piza é o gerente-geral da usina açucareira 5 de Septiembre, na cidade de Rodas, província de Cienfuegos, em Cuba. Trata-se da única usina açucareira de controle privado em Cuba desde a Revolução.

Piza, que trabalha para a subsidiária cubana da Odebrecht, a Companhia de Obras em Infraestrutura, disse que seus planos para dobrar a produção da usina para 10.000 toneladas por dia em cinco anos dependem de financiamento do BNDES.

O empréstimo será pago com açúcar, disse ele.

“Isso fez parte do acordo entre Raul Castro e Lula”, disse Piza em entrevista na usina, em dezembro. “Lula pediu que viéssemos e o ajudássemos aqui, que trouxéssemos a tecnologia e ajudássemos no desenvolvimento. Foi então que começamos a conversar com Cuba e a criar um modelo de contrato que permitisse a transferência de tecnologia”.

São Paulo – Um dos primeiros setores que sente os efeitos de uma crise econômica eminente é o da indústria da construção . Tomar crédito fica mais difícil, assim como investir em imóveis, além do que os consumidores se sentem menos seguros em fazer uma dívida de longo prazo. Isso explica, em partes, porque15 das 20 construtoras de capital aberto do país tiveram queda de vendas em 2014. O lucro da grande maioria também caiu no período. Entre elas, a MRV foi a que mais lucrou enquanto que a Brookfield teve o pior desempenho.  Confira a seguir o desempenho das construtoras, segundo dados da consultoria Economática .
  • 2. MRV

    2 /22(Germano Lüders/EXAME.com)

  • Veja também

    Lucro em 2014: R$ 720,211 milhões
    Focada em imóveis populares, a MRV foi a construtora que apresentou maior lucro no ano: 720,2 milhões de reais, aumento de 70% em relação ao mesmo período do ano anterior. A construtora também foi uma das que mais faturou em 2014, com uma receita de 4,186 bilhões de reais no ano, salto de 8,1%.
  • 3. Cyrela Realt

    3 /22(Fernando Vivas)

  • Lucro em 2014: R$ 661,499 milhões A segunda construtora mais lucrativa foi a Cyrela , cujo resultado teve aumento de 7,97% no ano para 661,5 milhões de reais. A companhia também teve a maior receita do setor em 2014, com 5,817 bilhões de reais em faturamento.
  • 4. Eztec

    4 /22(Raul Junior)

    Lucro em 2014: R$ 474,324 milhões Em terceiro aparece a Eztec , dona de um lucro de 474,3 milhões de reais, em 2014. Apesar da queda de 19% do lucro e de 16,5% na receita, a construtora paulista figura em terceiro lugar no ranking. Em 2014, a companhia atingiu um resultado de 474,3 milhões de reais e um faturamento de 951,4 milhões de reais.
  • 5. Even

    5 /22(Divulgação/Facebook)

    Lucro em 2014: R$ 252,412 milhões Em 2014, a Even apresentou uma queda de 10,77% no lucro líquido para 252,4 milhões de reais. A receita da construtora praticamente acompanhou a mesma queda e atingiu 2,458 bilhões de reais no ano.
  • 6. Helbor

    6 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 210,7 milhões Enquanto o faturamento da incorporadora Helbor caiu pouco mais de 5% para 1,845 bilhão de reais, o lucro da companhia ficou 30,7% abaixo - 210,7 milhões de reais no total.
  • 7. Direcional

    7 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 205,870 milhões
    Além da MRV e Cyrela, a Direcional foi uma das poucas do setor que vendeu mais em 2014 do que em 2013, segundo os dados da Economática. No ano, a construtora teve um aumento de 5,25% no faturamento para 1,835 bilhão de reais, apesar da queda do lucro de 9,78% em relação ao ano anterior.
  • 8. Tecnisa

    8 /22(.)

    Lucro em 2014: R$ 155,351 milhões Tanto a queda quanto o faturamento da Tecnisa caíram de 2014 para 2013 – o lucro foi de 211,1 milhões de reais para 155,3 milhões de reais e o faturamento de 1,832 bilhão de reais para 1,596 bilhão de reais.
  • 9. Rodobens

    9 /22(.)

    Lucro em 2014: R$ 68,377 milhões
    O lucro da Rodobens caiu de 100,5 milhões de reais para 68,3 milhões de reais de 2013 para 2014. O faturamento também caiu 5,1% em doze meses para 714,7 milhões de reais.
  • 10. JHSF

    10 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 41,7 milhões
    Enquanto a receita da JHSF caiu pouco mais de 10% para 602,8 milhões de reais em 2014, o lucro da construtora despencou no mesmo período – ficou 86% abaixo que o registrado no ano anterior.
  • 11. Trisul

    11 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 20,209 milhõesDepois de reestruturar o negócio, a Trisul conseguiu sair do vermelho e atingir um lucro de 20,2 milhões de reais e faturamento de 370 milhões de reais em 2014.Ainda assim, os números são, respectivamente, 34,20% e 28,85% menores que os apresentados em 2013.
  • 12. Lix da Cunha

    12 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 9,956 milhões A construtora Lix da Cunha conseguiu sair de um prejuízo de 2 milhões de reais, em 2013, para um lucro de 9,9 milhões de reais, em 2014.As vendas, ainda assim, caíram 23,86% para 12,3 milhões de reais no período.
  • 13. Lindenberg

    13 /22(Divulgação)

    Lucro em 2014: R$ 8,341 milhões A construtora voltada para o mercado de alto luxo Adolpho Lindenberg conseguiu aumentar suas vendas no ano em 5,4% para 45 milhões de reais. O lucro caiu de 18,7 milhões de reais, em 2013, para 8,3 milhões de reais em 2014.
  • 14. Azevedo

    14 /22(hxdbzxy/ThinkStock)

    Lucro em 2014: R$ 7,075 milhões A retração do mercado não atrapalhou as vendas da construtora Azevedo e Travassos que subiram 15,7% para 332,2 milhões de reais em 2014. O lucro da companhia, porem, apresentou uma queda de 7,85% em relação ao ano anterior.
  • 15. CR2

    15 /22(Divulgação)

    Prejuízo em 2014: R$ 35,712 milhões As vendas da construtora Cr2 caíram de 109,3 milhões de reais, em 2013, para 19,7 milhões de reais, em 2014, queda de 82%. O prejuízo, no entanto, teve aumento de 12% no período.
  • 16. Gafisa

    16 /22(ALEXANDRE BATTIBUGLI / EXAME)

    Prejuízo em 2014: R$ 42,549 milhões O lucro da Gafisa despencou em um ano de 867,4 milhões de reais positivos para um prejuízo de 42,5 milhões de reais – reflexo de um número menor de lançamentos e de um prejuízo maior com a Tenda. As vendas da construtora tiveram retração como um todo, de 2,1 bilhões de reais para 2,4 bilhões de reais em um ano.
  • 17. Viver

    17 /22(Reprodução da web)

    Prejuízo em 2014: R$ 233,824 milhões A construtora Viver viu suas vendas caírem quase 70% para 158,3 milhões de reais no ano, mas seu prejuízo ficou um pouco menor em doze meses: caiu 17% de 2013 para 2014.
  • 18. João Fortes

    18 /22(Divulgação)

    Prejuízo em 2014: R$ 251,3 milhões A construtora João Fortes teve uma retração de vendas de 17,7% e um faturamento, em 2014, de 799,1 milhões de reais. A empresa saiu de um lucro de 50 milhões de reais para um prejuízo de 251,3 milhões de reais no período.
  • 19. PDG

    19 /22(Raul Junior)

    Prejuízo em 2014: R$ 529,2 milhões Em resumo, as vendas caíram e o prejuízo da PDG subiu muito de 2013 para 2014. A construtora, dona do segundo maior faturamento do setor, entre as companhias de capital aberto, teve um aumento de 95% do prejuízo e a receita encolheu quase 20%.
  • 20. Rossi Residencial

    20 /22(Divulgação)

    Prejuízo em 2014: R$ 619,429 milhões A Rossi saiu de um lucro de 41 milhões de reais, em 2013, para um prejuízo de 619 milhões de reais, em 2014, ano em que as vendas tiveram queda de 24% para 1,617 bilhão de reais.
  • 21. Brookfield

    21 /22(Germano Lüders/EXAME.com)

    Prejuízo em 2014: R$ 1,232 bilhão Entre as construtoras de capital aberto a que acumulou maior prejuízo em 2014 foi a Brookfield , com um saldo negativo 80% maior ao ano anterior. As vendas da empresa também tiveram queda no período e somaram 2,068 bilhões de reais no ano, valor 31% menor em relação a 2013.
  • 22. Agora, veja quem se deu mal em 2014

    22 /22(.)

  • Acompanhe tudo sobre:América LatinaConstrução civilConstrutorasCubaEmpresasEmpresas brasileirasLuiz Inácio Lula da SilvaMarcelo OdebrechtNovonor (ex-Odebrecht)PersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Negócios

    Mais na Exame