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Lottenberg, da Amil: a saúde tem valor, mas tem custo

Para o executivo, Congresso precisa abandonar a demagogia e entender que as medidas de cunho social têm um custo, que precisa ser pago pela sociedade

Claudio Lottenberg: presidente da UnitedHealth Group Brasil, controladora do plano de saúde Amil, durante o EXAME Fórum Saúde nesta terça (Germano Lüders/Exame Hoje)

Claudio Lottenberg: presidente da UnitedHealth Group Brasil, controladora do plano de saúde Amil, durante o EXAME Fórum Saúde nesta terça (Germano Lüders/Exame Hoje)

CA

Camila Almeida

Publicado em 12 de setembro de 2017 às 18h44.

Última atualização em 12 de setembro de 2017 às 18h44.

Está em discussão no Congresso uma mudança na Lei dos Planos de Saúde (nº 9.956/98), com alterações que pretendem condensar 140 projetos que já tramitam no legislativo. Dentre as mudanças previstas, está a criação de planos populares, que terão uma cobertura bastante restrita; a extinção dos planos individuais e familiares; e a contratação de planos individuais via corretoras, que podem realizar os reajustes sem limites pré-estabelecidos.

EXAME entrevistou Claudio Lottenberg, presidente da UnitedHealth Group Brasil, controladora da operadora de saúde Amil, maior plano privado do país, durante o EXAME Fórum Saúde, em São Paulo. Para o executivo, ex-presidente do Hospital Albert Einstein, as mudanças são uma oportunidade de as operadoras ganharem dinheiro, depois de um momento de bastante aperto durante a crise econômica.

A crise e o desemprego afetaram muito os planos de saúde. Qual a estratégia que a Amil usou para contornar esse problema?

A crise é uma oportunidade de rever modelos. O setor privado perdeu cerca de 3 milhões de usuários nos últimos três, quatro anos. Evidentemente que isso se traduziu numa necessidade de se repensar o modelo. Nós passamos a rever como está o financiamento, passamos a rever como podemos direcionar os nossos pacientes dentro de uma perspectiva mais preventiva, passamos a tratar mais do cuidado e não só do tratamento. Portanto, com isso, passamos a ganhar mais eficiência. E buscamos competitividade, porque nós não podemos imaginar um setor que perde vidas, mas que tem os preços aumentando. Normalmente o que se observa num setor em retração é justamente o contrário. Estamos perdendo a clientela em detrimento de uma baixa eficiência. Vamos ter que melhorar, e muito.

Quais são as oportunidades de melhora?

Rever o fluxo do paciente, rever o papel do especialista, rever a utilização de determinadas práticas. Isso vai acabar acontecendo na medida em que nós temos uma visão um pouco mais crítica. Temos uma lição de casa que já está sendo feita e que vai ser feita a médio e longo prazo.

O setor está participando de uma discussão bem intensa com o Congresso sobre a revisão da Lei dos Planos de Saúde. Quais os pontos mais esperados em relação a adaptações nessa lei?

Em primeiro lugar, eu tenho uma preocupação muito grande em relação ao que esperar do Congresso atual. Sou absolutamente sincero. Acho que o Congresso tem que ter uma visão equilibrada dentro da perspectiva da necessidade do cidadão e da sustentabilidade. Se o Congresso imaginar que medidas demagógicas de cunho social, que são relevantes, não têm que ser pagas pela sociedade, isso vai ser um caos. Vai ser a dinheirama que foi objeto da organização das contas públicas nos últimos exercícios de mandatários da presidência da República. Espero do Congresso juízo na maneira de poder avaliar isso de forma consistente. Ou seja, guardar o direito social, mas preservar que há uma economia de mercado por trás.

O que isso significa?

Significa que a saúde tem valor, mas tem custo. E que existe uma mecânica liberal que tem que ser equacionada. Se forem criadas mecânicas legais absolutamente engessantes, nós vamos ter uma prática de saúde que não vai ser boa.

Como vocês estão se posicionando em relação à criação dos planos populares?

É uma oportunidade de poder agregar dinheiro dentro da prática assistencial. Quando se dá um plano popular, significa que se está dando um plano que oferece parte daquilo que o cidadão pode precisar. Não dá tudo. Isso não significa excluir. Para isso, o cidadão tem direito ao Sistema Único de Saúde (SUS), que aliás é universal, conforme prega a própria Constituição. A única coisa é que para situações mais frequentes, de baixa complexidade, ele [o cidadão] é quem vai estar custeando isso. É uma oportunidade de inserção de dinheiro dentro do sistema, sou amplamente favorável.

E em relação aos planos individuais – que é uma questão mais polêmica, com os reajustes podendo ser feitos de forma deliberada pelas corretoras…

Os reajustes não são feitos de forma deliberada e fria. São feitos de acordo com o cálculo atuarial. A mecânica de seguros de saúde é no fundo contributiva e precisa seguir a elevação dos custos. Não é a operadora que está aumentando; são os custos com o envelhecimento. Quando esses planos foram criados, a expectativa de vida não passava de 60 anos, e hoje as pessoas estão vivendo perto dos 80 anos. Alguém tem que arcar com isso. Ou a pessoa contribui durante mais tempo, ou ela vai pagar os reajustes. É o mesmo raciocínio que vale para a questão da Previdência. Não colocar a mão e não saber que precisa mais de recursos é o caos. Esses planos deixaram de ser comercializados. Fruto da visão em relação à questão da sustentabilidade.

Quais são as principais áreas em que vocês estão focando para prevenir doenças que estão onerando demais os planos?

Não é uma questão de natureza preventiva, e sim de atenção primária. É uma visão de cuidado, e não necessariamente de prevenir aquilo que poderá acontecer. Acho que as pessoas são pouco cuidadas e muito tratadas. Nós estamos cuidando de doenças e não cuidando de saúde. A visão que precisamos ter é a do compromisso de cuidar das pessoas; quando se cuida, se faz prevenção também. Mas não só prevenção.

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