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Laboratórios batalham por antibiótico contra superbactérias

A indústria farmacêutica não cria um antibiótico totalmente original desde que a Eli Lilly & Co. descobriu a daptomicina em 1984

Novo antibiótico: quase todos os grandes laboratórios fecharam suas unidades de pesquisa bacteriológica (Philippe Huguen/AFP)
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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2016 às 10h04.

Londres - Em um laboratório apertado na zona rural da Pensilvânia, rodeado por técnicos com os obrigatórios jalecos brancos e exaustores que liberam ocasionalmente um cheiro acre, Neil Pearson segura um modelo plástico de um composto químico que se parece com uma peça de Lego.

Pearson, um químico de 54 anos que é membro sênior da gigante farmacêutica britânica GlaxoSmithkline, explica como passou mais de uma década fazendo experimentos com compostos químicos antes de criar uma molécula que pode render o primeiro antibiótico realmente novo do setor em 30 anos para combater o surgimento de superbactérias que poderão matar 10 milhões de pessoas todo ano até 2050.

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Reações adversas, como possíveis problemas oculares e cardíacos identificados em animais, forçaram Pearson a recomeçar do zero várias vezes; cada readaptação da estrutura atômica do composto exigiu uma nova rodada de testes para comprovar se ele era seguro e efetivo.

Pearson, com óculos transparentes de laboratório, compara isso a um jogo de cobras e escadas.

“Não tenho muitas escadas, mas estão sobrando cobras”, diz ele, com um sotaque que insinua sua infância em Dudley, cidade industrial nas Midlands, na Inglaterra. “Eu sou teimoso. É muito difícil. Você se depara com muitos obstáculos”.

Alarme

A indústria farmacêutica não cria um antibiótico totalmente original desde que a Eli Lilly & Co. descobriu a daptomicina em 1984, segundo a Pew Charitable Trusts.

Nesse período, quase todos os grandes laboratórios fecharam suas unidades de pesquisa bacteriológica, o que reduziu o universo de especialistas.

Neste mês, a AstraZeneca se tornou a mais recente grande empresa farmacêutica a abandonar o ramo de desenvolvimento de medicamentos antibacterianos ao vender sua divisão de antibióticos à Pfizer.

A GlaxoSmithKline é um dos poucos grandes atores que se mantêm no ramo, tendo investido cerca de US$ 1 bilhão de dinheiro próprio em pesquisa antibacteriana ao longo da última década.

Não param de chegar relatórios alarmantes sobre bactérias capazes de driblar o arsenal de antibióticos que a medicina moderna confia.

Neste mês, pesquisadores da Universidade de Cambridge descobriram que um quarto de todos os frangos de supermercado vendidos no Reino Unido abrigam bactérias E. coli resistentes a medicamentos, que podem provocar insuficiência renal e, em casos severos, morte.

Também neste mês os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA informaram o quarto caso no país de uma superbactéria que carrega o chamado gene mcr-1, que torna a bactéria resistente à colistina, o antibiótico usado como último recurso.

“A medicina de alta tecnologia enfrenta uma ameaça muito grande” que poderia colocar tudo em perigo, das unidades de terapia intensiva às cirurgias mais importantes, diz David Livermore, professor de microbiologia médica da Universidade de East Anglia, no norte de Londres.

“Enfrentamos grandes problemas de resistência com a gonorreia e a tuberculose”.

Pouco tempo

Apesar do surgimento das superbactérias, os grandes laboratórios abandonaram as pesquisas sobre antibióticos porque o lucro é muito baixo.

Mesmo que a Glaxo leve um novo medicamento ao mercado, ele não será, por definição, um sucesso de vendas. Foi o uso excessivo de antibióticos que estimulou a resistência, por isso os novos tratamentos precisarão ser usados com moderação.

O tempo está terminando para os pacientes. A sépsis causada por bactérias resistentes aos remédios está matando mais de 56.000 recém-nascidos na Índia e quase 26.000 no Paquistão a cada ano, escreveram os pesquisadores Ramanan Laxminarayan e Zulfiqar Bhutta na revista científica Lancet Global Health neste mês.

“É tudo culpa nossa”, disse Roy Anderson, professor de Epidemiologia de Doenças Infecciosas da Imperial College, em Londres, e membro do conselho da Glaxo.

“Estamos tão obcecados com a segurança que exigimos testes clínicos para investigar todos os efeitos colaterais possíveis de qualquer intrusão química no nosso corpo. É compreensível. Mas isso tem um custo”.

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