Kit covid: Prevent Senior envia hidroxicloroquina para casa dos pacientes
Em alguns casos, paciente é atendido via telemedicina e remédio é enviado para sua casa antes dos exames que comprovem infecção por coronavírus
Mariana Desidério
Publicado em 13 de julho de 2020 às 15h08.
Última atualização em 13 de julho de 2020 às 15h23.
Apesar das polêmicas envolvendo o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus , médicos da operadora de saúde Prevent Senior continuam a indicar a medicação. Em alguns casos, o paciente é atendido via telemedicina e o remédio é enviado para sua casa antes mesmo da realização de exames que comprovem a existência da doença. Com isso, alguns pacientes têm recebido uma espécie “kit covid” em casa.
Segundo Pedro Batista Junior, diretor-executivo da Prevent Senior, o procedimento se explica pela opção por tratar os pacientes com suspeita de covid-19 nos estágios iniciais da doença. “Toda doença tem uma evolução. Tratar um paciente com pneumonia só no décimo dia de sintomas é diferente de tratar no início. Nós buscamos dar atenção entre o primeiro e o segundo dia de sintomas de covid”, afirma.
Outro fator que leva a operadora a adotar esse procedimento é o perfil do seu público. Com mais de de 400 mil usuários, a operadora é focada no público idoso e tem 112.000 beneficiários com mais de 79 anos.
“Meu paciente é grupo de risco. Nessa faixa etária, os dados da OMS mostram que a covid-19 tem uma mortalidade de 15%. Eu não vou aceitar esperar a doença evoluir”, afirmou em entrevista à EXAME.
Batista afirma que o procedimento de indicar a hidroxicloroquina nos estágios iniciais da doença -- definido pela operadora ainda em março -- não mudou, mesmo após a divulgação de estudos que questionam a eficácia do remédio no tratamento do novo coronavírus.
“Concordo com os estudos que saíram até agora. Eles dizem que o remédio não é eficaz quando a doença já está avançada, e isso é o que identificamos aqui, por isso fazemos o tratamento nos estágios iniciais”. Ele cita um estudo do Sistema de Saúde Henry Ford que indicou melhora em pacientes em estágios iniciais.
O executivo diz que o remédio não é indicado para todos os pacientes da operadora e só é enviado ao paciente após avaliação médica. “Eu mesmo já falei com pacientes meus e não indiquei o remédio, porque eram pacientes com indicação de marcapasso, por exemplo”, diz. Um dos riscos da hidroxicloroquina é a possibilidade de surgimento de arritmia cardíaca. Ele também afirma que, em casos de estágio mais avançado da doença, outros tratamentos são adotados. Segundo Batista, a operadora não registrou nenhum caso de complicações em pacientes devido ao uso do medicamento.
A operadora não revela quantos pacientes receberam indicação de uso da medicação, nem quantos receberam o remédio em casa, sem comprovação da doença, ou após atendimento via telemedicina. Diz, porém, que a carteira de beneficiários aumentou 20% esse ano, e que o número de mortes no primeiro semestre de 2020 é menor que o do primeiro semestre de 2019, mesmo com a pandemia.
O uso de respiradores também diminuiu desde o início da pandemia, segundo Batista. A operadora diz que a média de atendimentos de pessoas com suspeita de covid se manteve estável, com 150 atendimentos por dia. No entanto, a proporção de respiradores em uso caiu de 87% para 47%.
Sem eficácia comprovada
Uma das críticas ao uso do remédio no início da doença, sem a comprovação científica de sua eficácia, é de que o paciente poderia ter melhorado sozinho, sem uso do remédio, mas acaba atribuindo a melhora à hidroxicloroquina. “Concordo com isso. A questão é que nosso público é grupo de risco”, afirma o diretor.
Batista diz ainda que a indicação do uso fica a cargo de cada médico e que, pelo protocolo da operadora, o paciente precisa assinar um termo de consentimento para receber o remédio. A decisão sobre a indicação do medicamento mesmo sem a comprovação da doença e para pacientes atendidos via telemedicina também é de cada médico, segundo o diretor.
O uso da hidroxicoloroquina e da cloroquina no tratamento de covid-19 virou alvo de polêmica desde o início da pandemia. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro recomendaram o remédio, mesmo sem a eficácia comprovada. Diversos estudos realizados até agora indicam que o remédio não tem eficácia no tratamento da doença.