Justiça de SP aprova recuperação judicial de dona da Starbucks no Brasil
Decisão vem poucos dias depois do desembargador Sérgio Seiji Shimura solicitar em despacho que o pedido fosse deferido (ou não) o mais brevemente possível
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 16h53.
Última atualização em 12 de dezembro de 2023 às 17h26.
Após mais de um mês desde o pedido, a recuperação judicial do SouthRock, empresa responsável pela Starbucks no Brasil, foi aceita pela Justiça. O juiz Leonardo Fernandes dos Santos, que acompanha o processo desde a protocolação do pedido, aprovou a recuperação judicial da empresa, que alega ter dívidas que passam de R$ 1,8 bilhão.
"Os documentos juntados aos autos, em especial o laudo de constatação prévia, comprovam que as requerentes preenchem os requisitos legais para requerimento da recuperação judicial", diz parte do despacho.
A decisão vem poucos dias depois do desembargador Sérgio Seiji Shimura, da Justiça de São Paulo, solicitar em despacho que o pedido fosse deferido (ou não) o mais brevemente possível.
"É preciso ter em mente que, quanto maior a demora, menores as chances de superação da crise e de pagamento aos credores. À medida que o tempo passa, sem definição sobre estar ou não sob o regime da recuperação judicial, maior o clima de incerteza e de insegurança entre os partícipes da recuperação judicial", escreveu no despacho.
"Tendo em vista que o laudo de constatação prévia e as análises complementares já atestaram que, ao menos quanto às 22 empresasremanescentes, foram atendidos os requisitos elencados nos 48 e 51, seria de bom alvitre que o MM. Juízo “a quo” se pronunciasse sobre deferir, ou não, o pedido deprocessamento da recuperação judicial", continuou.
A SouthRock pediu recuperação judicial há mais de um mês, no dia 31 de outubro, mas até então, o pedido ainda não tinha sido deferido pela Justiça de São Paulo. Inicialmente, o juiz pediu uma perícia prévia para avaliar a real situação da empresa. Depois, solicitou novos documentos e a inclusão de outras empresas do grupo, como o Subway — pedido esse que foi indefirido em segunda instância.
Quais são os próximos passos?
Com a recuperação judicial aceita pela Justiça, a SouthRock ganha um prazo de 180 dias para a suspensão de suas obrigações de pagamento.
Durante isso, o juiz irá nomear um administrador judicial, que será o seu responsável pelo processo de recuperação da empresa. O papel do administrador judicial é fundamental na RJ, pois ele deve, ao mesmo tempo, garantir os interesses dos credores e trabalhar pela preservação da empresa em reestruturação.
Passados 60 dias do início do processo, a empresa deve apresentar um plano detalhado, com uma proposta de pagamento das dívidas e com todo seu plano de reestruturação. Esse documento que será analisado pelos credores e, caso aprovado, executado.
Quais são os credores da SouthRock?
O pedido de recuperação judicial da SouthRock envolve uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Os credores estão divididos entre as empresas do grupo que entraram no processo de reestruturação, como a Starbucks e a Brazil Airport Restaurantes. Na lista de empresas que a SouthRock está com dívidas pendentes estão indústrias de alimentos, bancos e gráficas.
A relação, de 153 páginas, demonstra uma situação comum para empresas de varejo e serviços, como é o caso da Eataly (que estava, depois saiu do pedido de recuperação judicial) e da Starbucks: há centenas de credores, cada um com uma cobrança relativamente pequena para a companhia.
Há cerca de R$ 76 milhões só com o Banco do Brasil via Starbucks. No consolidado da SouthRock, as dívidas com o Banco do Brasil estão em R$ 311 milhões. Com a securitizadora Travessia são outros R$ 469 milhões em dívidas.
O que está acontecendo com a Starbucks no Brasil?
A Starbucks no Brasil faz parte do grupo SouthRock, que é dono também do empório Eataly, do restaurante TGI Friday's e de lojas em aeroportos.
No final de outubro, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial alegando dívidas de R$ 1,8 bilhão. Segundo a companhia, a crise econômica no Brasil resultante da pandemia, a inflação e a permanência de taxas de juro elevadas agravaram os desafios do negócio.
"Neste cenário, a SouthRock segue comprometida a defender a sua missão e seus valores, enquanto entra em uma nova fase de desafios, que exige a reestruturação de seus negócios para continuar protegendo as marcas das quais tem orgulho de representar no Brasil, os seus Partners [ colaboradores ], consumidores e as operações de suas lojas", disse em nota.
As Starbucks do Brasil vão fechar?
Não se sabe ainda o que irá acontecer com as operações remanecentes da Starbucks do Brasil. São 144 que seguem funcionando, apesar de 43 fechamentos. A SouthRock alega que segue operando normalmente.
A dúvida do mercado é sobre as licenças para usar a marca. Isso porque, no pedido de recuperação judicial, a SouthRock também explicou que a Starbucks Coffe International, dona global da operação, encaminhou um documento à brasileira rescindindo os direitos de uso da marca em razão de inadimplência.
“Os acordos de licença Starbucks tidos por rescindidos são justamente os instrumentos pelos quais foi garantido aos requerentes o direito de exploração e operação das lojas de varejo da marca Starbucks no Brasil”, diz o documento.
A SouthRock, porém, tenta reverter a decisão na Justiça. Isso porque argumenta que a manutenção das atividades são “absolutamente essenciais” para viabilizar a reestruturação do passivo, que, no total, é de R$ 1,8 bilhão.