Irmãos Batista tentam nova defesa na CVM
Manipulação de câmbio e de ações antes da notícia da colaboração premiada da JBS levaram ao pedido de prisão dos empresários
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 11h33.
Última atualização em 18 de janeiro de 2018 às 15h45.
São Paulo - Há quatro meses na prisão, os irmãos Joesley e Wesley Batista tentam reforçar os argumentos de que não cometeram irregularidades no mercado de capitais antes da revelação de sua delação.
A aposta na desvalorização do real e a venda de ações da JBS nas semanas que precederam a notícia da colaboração premiada levaram ao pedido de prisão dos empresários e a abertura de uma série de investigações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os empresários, que ameaçaram o governo Temer com sua delação, querem dar gás novo à defesa com conclusões de um estudo, encomendado a uma consultoria pela JBS para subsidiar apurações da CVM.
Apesar de o processo judicial não depender das verificações da autarquia, o andamento dos casos na CVM, que é responsável por fiscalizar o mercado de capitais, é importante para a estratégia dos empresários.
Isso porque o Ministério Público Federal os denunciou por "insider trading", que é o uso de informação privilegiada, e manipulação de mercado, crimes cometidos no mercado de capitais - sobre Joesley pesa ainda pedido de prisão por supostamente ter omitido informações de sua delação.
Segundo os procuradores, cientes do efeito que a notícia da delação teria sobre a economia - sobre o câmbio e ações -, os Batistas atuaram para lucrar indevidamente, apostando contra o real e vendendo papéis da JBS.
O novo estudo, assinado pela empresa de consultoria Métrika, analisa o impacto de eventos políticos na cotação do dólar e nas ações da JBS. Ele soma-se a outros dois trabalhos feitos a pedido da JBS - da Fipecafi e da firma americana Nera.
Nele, Euchério Rodrigues, ex-superintendente de Mercados Derivativos da CVM, sustenta que não há como prever o efeito de um evento político sobre o dólar. A consultoria analisou a variação da moeda americana desde 2000 e diz ter identificado 453 datas em que houve retorno extraordinário do real ante o dólar.
Ao cruzar essa lista com uma relação de 769 eventos políticos e econômicos de impacto - como impeachment de Dilma Rousseff e eleição de Donald Trump - encontrou parcela pequena de datas coincidentes.
No caso das ações, a consultoria constatou que os retornos anormais nos papéis da JBS desde sua abertura de capital, em 2007, foram afetados por acontecimentos políticos e econômicos, mas que "a maior parte" desses retornos extraordinários ocorreu devido a situações "alheias a tais eventos".
Segundo o estudo, no caso da Braskem, a revelação da delação de sua controladora, a Odebrecht, resultou em retornos anormais positivos.
A Métrika conclui que é "pouco plausível a hipótese de que fosse possível antecipar efeitos negativos levados por evento da mesma natureza nas ações da JBS".
"O estudo faz prova negativa da intenção de usar a informação para obter vantagem indevida no mercado", afirma o advogado Walfrido Warde, que defende a JBS.
Até o momento, os Batistas são alvo de dois processos sancionadores na CVM derivados do caso (veja quadro ao lado).
Wesley tem a seu favor, segundo seus defensores, o fato de que a CVM não viu insider trading na compra de dólares, mas "prática não equitativa" - diferentemente de uso de informação privilegiada, não é crime.
Andamento
A área técnica da autarquia, porém, teve mesmo entendimento que a PF e o Ministério Público no caso das ações e viu manipulação de mercado com uso de informação privilegiada na operação. Não há data para julgamento dos processos pelo colegiado da CVM .
Joesley e Wesley estão na carceragem da PF em São Paulo desde setembro. Conseguiram autorização para permanecer por lá em vez de serem transferidos a um presídio. Estão há alguns quilômetros de suas casas e da sede da empresa, mas muito distantes da vida que levavam.
Quem esteve com eles relata que é visível a perda de peso e o abatimento. Não estão alheios, porém, ao que ocorre na JBS e no grupo. Recebem visitas frequentes de advogados e são auxiliados por Francisco Assis, que também é delator e supervisiona a estratégia de defesa e o rumo dos negócios dos irmãos.
Os irmãos aguardam o retorno das atividades do Supremo Tribunal Federal para que dois recursos movidos por sua defesa, com o objetivo de que respondam em liberdade, sejam julgados. O processo de insider e manipulação corre em SP.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.