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Investimentos em hotéis no Rio começam a sair do papel

Projetos para a Copa e as Olimpíadas se dividem entre megaresorts na Barra e a restauração de ícones da cidade, como o hotel Glória de Eike Batista

Ilustração mostra como deve ficar a fachada do Hotel Glória Palace, de Eike Batista, após a reforma (.)

Ilustração mostra como deve ficar a fachada do Hotel Glória Palace, de Eike Batista, após a reforma (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.

São Paulo - Da sacada do Hotel Glória, no bairro de mesmo nome no centro da cidade do Rio de Janeiro, já foi possível ver o mar bem de perto. Quando o prédio foi inaugurado, em 1922, muitos hóspedes chegavam de barco para aproveitar o agradável ambiente de um dos símbolos de prosperidade da capital fluminense. Muita coisa mudou desde então. A vista do hotel agora é a do aterro do Flamengo - e a mudança de horizonte vai muito além da paisagem. Fechado para reformas desde outubro de 2008 e agora sob o controle do bilionário Eike Batista, o Glória Palace, como o hotel será chamado após a reinauguração, ambiciona se transformar no hotel mais luxuoso do Brasil.

A reforma do hotel Glória é apenas a ponta do iceberg de uma profunda mudança no mercado hoteleiro carioca. A expectativa do mercado é que cerca de 10.000 quartos sejam construídos na cidade até as Olimpíadas de 2016. A ambição do Glória Palace é não ser apenas mais um desses projetos. "Hoje em dia pouca coisa de qualidade é feita no Rio de Janeiro. O conjunto Marina da Glória, Hotel Glória Palace e o iate Pink Fleet é para trazer qualidade à cidade e matar os paulistas de inveja", diz Eduardo Sardinha, gerente de entretenimento do grupo EBX, holding de Eike Batista que controla esses três locais. Os investimentos fazem jus às intenções do empresário. Ele arrematou o antigo hotel em 2008 por 80 milhões de reais e deve gastar ainda outros 120 milhões nas reformas.

"O hotel Glória quer tirar do Copacabana Palace o posto de hotel mais glamouroso do Rio de Janeiro", diz o diretor da área de hotéis da consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle, Ricardo Mader. Além da restauração da fachada, as obras promoverão a completa remodelação do interior. Nas últimas décadas, na medida em que a popularidade do Glória aumentava, várias pequenas reformas eram feitas para atender a demanda por mais quartos. Entretanto, nesse processo, as áreas operacionais, restaurantes, bares e espaços de lazer não acompanharam a lógica do crescimento. O resultado foi um imóvel repleto de anexos em que o hóspede tinha de enfrentar um verdadeiro labirinto se quisesse apenas ir do quarto à piscina.

"Tudo vai ser refeito para que haja um conforto muito superior", garante Sardinha. Por questões de segurança, o número de quartos deve diminuir em 63%. Dos atuais 621 dormitórios, serão mantidos apenas 194 apartamentos e 37 suítes. Um dos destaques será a suíte presidencial, de 188 metros quadrados que podem ser expandidos para mais de 220 metros quadrados. A estimativa é que a diária nessa suíte custe ao hóspede mais de 6.000 reais. Nas demais suítes o preço deve variar entre 800 e 1.200 reais. A área anexa será reformada e passará a sediar escritórios das empresas do grupo EBX. Segundo Sardinha, o Glória Palace deve abrir suas portas no fim de 2011 e receber hóspedes para o Réveillon. (Continua)
 


Longe da praia
Parece óbvio que a equação Rio de Janeiro, hotel de luxo e turistas endinheirados tenha "praia" como única associação possível. O Glória Palace, contudo, não é um hotel "pé na areia". Entre o prédio e o mar há o aterro do Flamengo, um lugar que Eduardo Sardinha descreve como "excelente para caminhar". A distância da praia, no entanto, não será um problema para o sucesso do empreendimento, segundo o gerente de entretenimento do grupo de Eike Batista. "Os turistas serão levados até a praia por carrinhos como os de campos de golfe. Além disso, nossa posição geográfica é privilegiada, mesmo longe da praia", diz.

O hotel está em uma área do Rio em que é intenso o turismo de negócios, lembra Ricardo Mader, da Jones Lang LaSalle. Nas proximidades estão locais como o aeroporto Santos Dumont e a avenida Chile, onde estão as sedes de importantes bancos e empresas, como a Petrobras. O problema, para o consultor, é que, apesar da região do hotel fazer parte de um plano de revitalização desenvolvido pela prefeitura do Rio, as áreas no entorno, como a Cinelância e a Lapa, ainda não estão. Até o momento o plano não foi definido, mas por enquanto é esperado que haja melhorias na Marina da Glória e na Baia de Guanabara. Entretanto, é cedo para dizer se isso será suficiente para dar à região o glamour digno de um empreendimento que vai conciliar a vocação de hotel de negócios com um local de atração de turistas.

Independente das obras de revitalização, Sardinha acredita que a própria construção do hotel será incentivo suficiente para a região se transforme. "Se a área do hotel não for contemplada, a obra vai destoar demais do entorno. Já tem uma movimentação acontecendo, como reforma dos prédios mais antigos e dos residenciais, que começam a fazer a manutenção das fachadas. O governo vai ser obrigado a fazer algo". Essa pressão por mudanças que o novo hotel vai exercer nas proximidades faz parte do ambicioso projeto do grupo EBX para devolver à região da Glória o destaque que ela tinha nos anos 1920 e 1930, quando era uma das áreas mais nobres do Rio de Janeiro.

Revitalização de ícones

A reabertura do Glória Palace e os demais investimentos na rede hoteleira carioca são cruciais para a cidade poder abrigar a final da Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Entre os grandes grupos que já investem pesado para ampliar a capacidade de acomodação está o Windsor, a maior rede hoteleira do Rio. O espanhol José Oreiro Campos, dono da rede, comprou o prédio de 38 andares que durante três décadas abrigou o tradicional hotel Le Méridien, em Copacabana. Atualmente o imóvel passa por reformas e quando for inaugurado, com o nome de Windsor Atlântica, terá 540 apartamentos - 45 a mais do que o Le Méridien - e duas suítes presidenciais. (Continua)
 


Assim como no caso do Glória, o foco será o turismo de negócios, mas é difícil desvincular a localização do hotel do segmento de lazer. "Por estar em Copacabana, este também será um grande componente da ocupação", diz Paulo Marcos, gerente de marketing do grupo Windsor. Ele explica que o Windsor Atlântica não competirá com o segmento de luxo e dificilmente sofrerá com a concorrência do hotel de Eike, a não ser na parte de eventos. O empreendimento do grupo de José Oreiro terá estrutura para eventos de até 1.500 pessoas, enquanto os encontros no Glória Palace poderão receber até 2.000 participantes. A empresa não divulga o quanto investiu na aquisição nem quanto será gasto nas obras. Especialistas estimam que Oreiro tenha desembolsado uma quantia superior a 160 milhões de reais para comprar o imóvel e outros 50 milhões para reformá-lo. O hotel deve ser reaberto ainda este ano, a tempo de receber os turistas para o Réveillon.

Ainda na esteira da revitalização de antigos marcos da hotelaria carioca, outra promessa envolve o hotel Nacional. O prédio na região de São Conrado foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e construído na década de 70. Abandonado há mais de 10 anos, a obra, uma das mais conhecidas do Rio de Janeiro, foi arrematada em dezembro de 2009 pelo empresário Marcelo Gonçalves, ex-sócio do laboratório farmacêutico Neo Química e atual diretor da divisão de medicamentos da Hypermarcas. A aquisição, que levou Gonçalves a desembolsar 85 milhões de reais, era considerada improvável, segundo o consultor Ricardo Mader, da Jones Lang LaSalle. "Todos esperavam que o preço teria que ser novamente reduzido para algum interessado se apresentar", diz.

A reforma e reativação do hotel representariam o importante ganho de 500 quartos para a rede hoteleira do Rio de Janeiro. Entretanto, Mader lembra que o prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Proteção Ambiental da Secretaria da Cultura, o que dificulta remodelações e obriga a preservação da fachada. A intenção do comprador ainda é uma incógnita. "O futuro do Nacional era uma dúvida, e continua assim. O esqueleto foi comprado. Não se sabe o que vai ser feito lá dentro, se continuará sendo um hotel", diz Ernesto Marino, presidente da consultoria especializada em hotéis BSH International.

Barra da Tijuca
Por trás da onda de revitalizações está o problema da falta de espaço para novas construções nos bairros nobres da cidade. "O Rio de Janeiro é um destino problemático [em se tratando de hotéis] porque não tem onde construir. É uma questão sem resposta objetiva", diz Marino. Para o consultor, a Barra da Tijuca é a região mais promissora para aumentar a oferta de leitos desde que alguns terrenos ainda desocupados possam ser utilizados para a construção de hotéis. "Na Barra tem espaço disponível, mas o mercado acaba priorizando outros usos imobiliários mais caros que a hotelaria. Se no Rio de Janeiro pudessem ser construídos apartamentos residenciais em todo lugar, é isso que o mercado faria", afirma. (Continua)
 


O grupo Windsor é um dos que devem investir no potencial do bairro mais conhecido da zona oeste. Além do empreendimento que já possui, o Windsor Barra, a rede promete ainda outro grande hotel com o propósito declarado de atrair turistas na época da Copa do Mundo. As obras do Windsor Mar da Barra, como o hotel será chamado, devem começar em 2011, e a previsão é que seus 500 quartos estejam prontos em 2014. "Será um hotel cinco estrelas com um aspecto de resort, com espaços amplos, modernos, mais voltados ao lazer do que aos eventos", afirma Paulo Marcos.

Quase no limite da Barra da Tijuca, próximo do Recreio dos Bandeirantes, uma outra fronteira está na mira dos investidores do setor hoteleiro. A reserva de Marapendi, uma área de proteção ambiental com mais de um milhão de metros quadrados, tem espaços onde a exploração destinada ao setor imobiliário é permitida por lei. Entretanto, a obtenção de licença ambiental ainda é um grande obstáculo aos potenciais candidatos a levantar um hotel na região. Segundo Henrique Navarro, do grupo português Espírito Santo, ainda não há projetos concretos para esta área, justamente por causa das dificuldades com o licenciamento. Navarro diz que pelo menos quatro grupos "fortes e com grande capacidade de investimento", planejam empreendimentos no local. O mercado especula que o próprio Espírito Santo é dono de um dos terrenos na região da reserva e estaria envolvido nos estudos de projetos no local.

Outro terreno onde pode ser erguido um hotel pertence à JPL Comercial e Agrícola, do empresário José Portinari Leão. Segundo ele, à exceção de seu terreno, que está próximo da área urbana, os demais demandariam hotéis horizontais, como grandes resorts. Isso porque o custo desses empreendimentos seria elevado demais para um grupo menor, tendo em vista os custos com a recuperação das áreas de restinga e a preservação ambiental posterior. "Nosso terreno é um dos primeiros, próximo da parte urbana, o que nos limita a construções verticais. Pretendemos fazer um hotel cinco estrelas, com cerca de 300 quartos, e características de resort". Leão promete o hotel para 2013, e, portanto, planeja posicioná-lo como um dos destaques para atrair turistas na época da Copa do Mundo. "Já acertamos com uma grande cadeia internacional, e as obras devem começar logo que conseguirmos a licença de obras". De acordo com o empresário, a licença ambiental prévia já foi obtida e a outra deve ser emitida pela prefeitura nos próximos 60 dias.

Embora o Rio de Janeiro necessite desesperadamente de novos hotéis para a Copa e as Olimpíadas, os próprios empresários admitem que deve haver limites para a sanha capitalista. "Isso deve ser feito com cuidado, atendendo aos interesses do Rio. No passado, todas as tentativas foram muito mal conduzidas. Hoje, os proprietários querem fazer o caminho certo: elaborar os projetos e apresentá-los primeiro à cidade. Depois abrimos o debate para os investidores interessados", diz Henrique Navarro, do Espírito Santo. Que assim seja.
 


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