Investidores minimizam intervenção estatal na Vale
O governo da presidente Dilma Rousseff usou a influência do Estado como importante acionista da Vale para pressionar por um novo executivo para o cargo
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2011 às 22h31.
Rio de Janeiro - A saída do presidente-executivo da Vale é um claro exemplo da crescente intervenção estatal na maior economia da América Latina, mas os investidores parecem estar ávidos demais por se unirem ao boom mundial das commodities para se preocuparem excessivamente com isso.
O governo da presidente Dilma Rousseff usou a influência do Estado como importante acionista da Vale para pressionar por um novo executivo para o cargo, como resposta às críticas de que a empresa não estava fazendo o suficiente para estimular a economia no país.
Mas os investidores estão se acostumando a uma maior presença do Estado nos mercados emergentes e ainda veem a economia em expansão e o arrojado setor de commodities do Brasil como motivos para deixar de lado a presença do governo.
"Acho que estão fazendo barulho demais sobre a substituição do presidente-executivo da Vale porque isso não altera nenhuma das razões macro para se investir no Brasil", disse Marc Fogassa, gerente associado da Hedgefort Capital Management em Pasadena, na Califórnia, Estados Unidos.
As ações da Vale subiram 0,12 por cento, passando a 48,30 reais na terça-feira.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado sua presença na regulamentação da economia por meio de novas normas no setor petrolífero, de restrições à compra de terras por estrangeiros e uma proposta para endurecer as leis de mineração.
O governo tem assumido um papel ativo na condução das políticas da Petrobras. Deu impulso à oferta de ações de 70 bilhões de dólares, o que provocou protestos de acionistas minoritários, e tem insistido em que a companhia petrolífera estatal compre equipamentos de fabricantes nacionais.
Mas no Brasil, os encargos da intervenção estatal vêm com um claro benefício: acesso a imensos depósitos de recursos naturais, tais como petróleo e ferro, num momento em que o preço das commodities continua em ascensão.
Disputa com a Vale
O declínio do presidente-executivo Roger Agnelli começou quando ele cortou empregos e reduziu investimentos depois da crise financeira de 2008, indo contra os desejos do governo de que a maior mineradora de ferro do mundo ajudasse o país a enfrentar a turbulência econômica.
A pressão de Dilma para remover Agnelli do cargo culminou na segunda-feira com a indicação de Murilo Ferreira, quem os analistas esperam que seja mais confortável para o governo.
"Temos de ver quais os novos sinais (que Ferreira) nos dará, mas o mercado certamente está vendo a Vale de modo diferente", disse o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, em São Paulo.
No entanto, Ferreira é também um veterano da indústria e os analistas acreditam que ele poderá manter o forte crescimento de receita da Vale ao mesmo tempo que melhora as relações da empresa com os líderes políticos.
"Para nós, o nome parece ser amigável ao mercado", disseram analistas do Credit Suisse em nota. "Ele já trabalhou na Vale e liderou importantes iniciativas."
Enquanto isso, alguns investidores estão se sentindo mais confortáveis em relação ao governo brasileiro.
Mark Mobius, presidente da unidade de mercados emergentes do grupo de investimento Franklin Templeton, disse em 2010 que a oferta de ações da Petrobras violava os direitos dos acionistas minoritários.
Meses depois, porém, ele posicionou a Petrobras como uma de suas cinco principais holdings entre as ações brasileiras, as quais, segundo ele, constituíam o maior porcentual de sua carteira de ações das nações em rápida expansão do Bric, que também inclui Rússia, Índia e China.
A saída de Agnelli "é uma outra iniciativa que confirma aquela tendência do governo de não desejar ser um participante passivo no setor privado", disse Nick Robinson, chefe do departamento de ações brasileiras no Aberdeen Asset Management, o qual administra cerca de 4 bilhões de dólares em ativos brasileiros.
"Este tipo de coisa que aconteceu à Vale não deveria ser uma grande surpresa, considerando que o Brasil é um mercado emergente e também devido ao modo como o governo tem se comportado nos últimos dois anos", afirmou.
Rio de Janeiro - A saída do presidente-executivo da Vale é um claro exemplo da crescente intervenção estatal na maior economia da América Latina, mas os investidores parecem estar ávidos demais por se unirem ao boom mundial das commodities para se preocuparem excessivamente com isso.
O governo da presidente Dilma Rousseff usou a influência do Estado como importante acionista da Vale para pressionar por um novo executivo para o cargo, como resposta às críticas de que a empresa não estava fazendo o suficiente para estimular a economia no país.
Mas os investidores estão se acostumando a uma maior presença do Estado nos mercados emergentes e ainda veem a economia em expansão e o arrojado setor de commodities do Brasil como motivos para deixar de lado a presença do governo.
"Acho que estão fazendo barulho demais sobre a substituição do presidente-executivo da Vale porque isso não altera nenhuma das razões macro para se investir no Brasil", disse Marc Fogassa, gerente associado da Hedgefort Capital Management em Pasadena, na Califórnia, Estados Unidos.
As ações da Vale subiram 0,12 por cento, passando a 48,30 reais na terça-feira.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado sua presença na regulamentação da economia por meio de novas normas no setor petrolífero, de restrições à compra de terras por estrangeiros e uma proposta para endurecer as leis de mineração.
O governo tem assumido um papel ativo na condução das políticas da Petrobras. Deu impulso à oferta de ações de 70 bilhões de dólares, o que provocou protestos de acionistas minoritários, e tem insistido em que a companhia petrolífera estatal compre equipamentos de fabricantes nacionais.
Mas no Brasil, os encargos da intervenção estatal vêm com um claro benefício: acesso a imensos depósitos de recursos naturais, tais como petróleo e ferro, num momento em que o preço das commodities continua em ascensão.
Disputa com a Vale
O declínio do presidente-executivo Roger Agnelli começou quando ele cortou empregos e reduziu investimentos depois da crise financeira de 2008, indo contra os desejos do governo de que a maior mineradora de ferro do mundo ajudasse o país a enfrentar a turbulência econômica.
A pressão de Dilma para remover Agnelli do cargo culminou na segunda-feira com a indicação de Murilo Ferreira, quem os analistas esperam que seja mais confortável para o governo.
"Temos de ver quais os novos sinais (que Ferreira) nos dará, mas o mercado certamente está vendo a Vale de modo diferente", disse o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, em São Paulo.
No entanto, Ferreira é também um veterano da indústria e os analistas acreditam que ele poderá manter o forte crescimento de receita da Vale ao mesmo tempo que melhora as relações da empresa com os líderes políticos.
"Para nós, o nome parece ser amigável ao mercado", disseram analistas do Credit Suisse em nota. "Ele já trabalhou na Vale e liderou importantes iniciativas."
Enquanto isso, alguns investidores estão se sentindo mais confortáveis em relação ao governo brasileiro.
Mark Mobius, presidente da unidade de mercados emergentes do grupo de investimento Franklin Templeton, disse em 2010 que a oferta de ações da Petrobras violava os direitos dos acionistas minoritários.
Meses depois, porém, ele posicionou a Petrobras como uma de suas cinco principais holdings entre as ações brasileiras, as quais, segundo ele, constituíam o maior porcentual de sua carteira de ações das nações em rápida expansão do Bric, que também inclui Rússia, Índia e China.
A saída de Agnelli "é uma outra iniciativa que confirma aquela tendência do governo de não desejar ser um participante passivo no setor privado", disse Nick Robinson, chefe do departamento de ações brasileiras no Aberdeen Asset Management, o qual administra cerca de 4 bilhões de dólares em ativos brasileiros.
"Este tipo de coisa que aconteceu à Vale não deveria ser uma grande surpresa, considerando que o Brasil é um mercado emergente e também devido ao modo como o governo tem se comportado nos últimos dois anos", afirmou.