Para Ram Charan, integrar equipes é a chave para o sucesso
Para que profissionais diferentes possam estar integrados, devem ser organizados em círculo e não sob a hierarquia tradicional
Luísa Melo
Publicado em 6 de novembro de 2014 às 11h02.
Última atualização em 12 de agosto de 2019 às 18h06.
São Paulo - Focar na experiência do cliente, enxergar à frente e agir com velocidade são atitudes essenciais para uma empresa se manter competitiva no mercado atual. É isso o que fazem Amazon, Apple, Google e Alibaba, que estão, inclusive, mudando a forma como suas concorrentes (diretas e indiretas) operam, segundo Ram Charan .
"O Walmart, maior varejista dos Estados Unidos, está implantando um sistema que altera seus preços a cada hora, porque hoje, com um smartphone na mão, o cliente compara suas ofertas com as da Amazon antes de comprar", exemplificou.
O consultor de gestão , nomeado pela Fortune o mais influente do mundo ainda vivo, falou a executivos nesta quarta-feira, durante a HSM Expomanagement, em São Paulo.
De acordo com ele, para ser capaz de ditar tendências para outras, uma companhia depende, principalmente, de um líder integrador.
"Integradores são capazes de unir disciplinas e especialistas. Steve Jobs era assim, Bill Gates não. A integração é a origem da inovação e, se uma empresa não inova, não sobrevive", disse.
Citando a criação do iPhone, o consultor disse que só um líder integrador conseguiria fazer profissionais focados em desenvolver um vidro muito específico (para a tela do aparelho) e técnicos que conectam software e hardware falarem a mesma língua.
É óbvio, portanto, que a base para tudo isso é ter especialistas aptos a criar novos processos, produtos e serviços. E, para que eles possam estar integrados, devem ser organizados em círculo e não sob a estrutura tradicional de cascata.
"Os níveis dentro da empresa precisam ser reduzidos, porque eles atrasam a vida, distorcem as informações e são empecilhos para a colaboração entre diferentes silos", defendeu o consultor.
Uma organização circular, de acordo com ele, possibilita uma maior transparência e conexão dos trabalhadores com todas as atividades da companhia.
"É assim que funciona no Google e na Neflix, por exemplo. Todos os funcionários têm conexão direta com a experiência do cliente e sabem que o produto que eles vendem tem que ser incrível, ou não será possível cobrar por ele".
Além disso, ser integrador requer organizar ciclos de reuniões de frequência semanal. De acordo com Charan, é nesses encontros que o líder conseguirá entender pontos de vista antes despercebidos e alimentar um conflito de ideias contínuo e positivo.
"A Pixar é o único estúdio de cinema do mundo que teve 14 títulos de grande sucesso de bilheteria em 14 anos. Nenhum outro conseguiu. Há muitos motivos para isso, mas um deles é que, até hoje, a empresa faz essas reuniões todos os dias, com duração de quatro horas", disse.
Charan fez questão de destacar, porém, que estruturar uma empresa dessa forma não significa extinguir a hierarquia. "Existe hierarquia, mas menos. O que acontece é que pessoas são organizadas em equipes e tem acesso à informação instantaneamente, sem intermediários."
Também é importante permitir que os especialistas sejam livres para mudar de equipe quando quiserem. No Google, por exemplo, 30% deles fazem essas movimentações, segundo ele.
Nem sempre no topo
Conforme explicou Charan, esse líder integrador não precisa ser o presidente da companhia. O próprio Steve Jobs desempenhava esse papel, mas deixava a Apple sob o comando de Tim Cook.
O desafio para quem está no topo é identificar pessoas com essa habilidade. "Elas não estarão na linha vertical das de alto potencial, mas sim numa linha horizontal."
Já para quem almeja se tornar um integrador, o consultor dá o seguinte conselho: "monte uma equipe interdisciplinar o quanto antes, tente se tronar um líder dessa equipe, pratique a integração e o resto acontece".