iFood terá seguro, cursos e desconto em plano de saúde para entregadores
Para segurar os profissionais parceiros, planos de benefícios como os divulgados pelo iFood devem se tornar cada vez mais comuns
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2019 às 10h21.
Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 10h43.
O iFood tenta se defender das críticas de que as empresas de delivery pagam mal e não dão boas condições de trabalho a seus entregadores.
A companhia, do grupo Movile , anunciou na noite de quinta-feira 10 que vai passar a oferecer seguro contra acidentes, desconto em plano de saúde e em seguro de motocicletas e cursos de capacitação aos profissionais parceiros.
O seguro contra acidentes cobrirá despesas médicas e odontológicas de até 15.000 reais, no caso de eventuais acidentes que aconteçam quando o entregador estiver trabalhando para o iFood, em trajeto com o aplicativo ligado. O seguro também tem cobertura de 100.000 reais no caso de morte ou invalidez permanente.
O novo benefício, por ora, ficará restrito à Grande São Paulo, mas chegará em novembro às mais de 660 cidades em que a empresa atua. A informação foi divulgada pelo portal G1.
O seguro faz parte de uma série de novos benefícios que a empresa vem adicionando a seus mais de 70.000 entregadores, como parte do programa "Delivery de Vantagens", que havia sido divulgado nesta semana. Por meio do programa, os entregadores podem acumular pontos e por entrega e aumentá-los caso ganhem gorjetas (na teoria, sinal de que a entrega foi boa).
Os entregadores podem ganhar descontos em plano de saúde e seguro para motocicletas e, segundo o iFood, outros descontos em aparelhos eletrônicos ou artigos esportivos. O programa incluiu ainda cursos em parceria com o Sesi-SP para cursos com aulas a distância, sobre temas como finanças pessoais, cuidado com equipamentos e segurança no trânsito.
O iFood também anunciou uma parceria com o Sesi-SP para treinamentos. Com aulas à distância, disponíveis a partir do momento que há cadastro no aplicativo, o curso traz dicas de finanças pessoais, segurança e cuidados com equipamentos. Anteriormente, o iFood também já havia realizado "trilhas do conhecimento" por WhatsApp com dicas para um trânsito mais seguro.
Outra ação recente da empresa para o bem-estar dos entregadores foi a adição de pontos de apoio em São Paulo, onde os parceiros podem carregar o celular, ir ao banheiro ou descansar. A empresa afirma que estuda a inclusão desses pontos em outras cidades.
Em julho, a empresa assinou um termo de cooperação assinado com a Prefeitura de São Paulo com objetivo de valorizar a qualidade de vida e segurança dos entregadores.
Em comunicado no lançamento do Delivery de Vantagens, o diretor de Logística do iFood, Roberto Gandolfo, afirmou que há um time específico na área de logística para desenvolver ações de "reconhecimento e valorização para os entregadores". "Os entregadores parceiros são de extrema importância para nós", disse Gandolfo.
Os dilemas trabalhistas da economia compartilhada
Discussões recentes sobre condições de trabalho consideradas ruins e pagamentos baixos aos profissionais vêm pipocando não só entre as empresas de entrega de comida, mas também em outros aplicativos da chamada economia compartilhada, como Uber ou 99.
Em todos esses formatos, o modelo exige um profissional -- sem vínculo trabalhista com a empresa -- que presta um serviço essencial ao negócio, como a entrega de comida ou transporte de passageiros. Sem esses parceiros, as empresas deixam de existir da forma como funciona hoje.
Os debates sobre o tema se intensificaram depois que um entregador da empresa de delivery Rappi teve um ataque cardíaco durante uma entrega e não conseguiu auxílio da empresa. Desde então, a Rappi e o iFood adicionaram um botão de emergência para contato dos entregadores.
No caso do novo seguro, o iFood afirma que nem os usuários nem os entregadores terão custo adicional com o novo seguro e os benefícios. Mas uma possibilidade é que, em vez de usar os milhões recebidos em investimentos para dar seguidos descontos aos clientes e implementar novos serviços voltados ao usuário, as empresas que atuam na economia compartilhada passem a oferecer mais benefícios aos próprios profissionais parceiros.
Os próprios aplicativos de delivery e de transporte de passageiros já têm sistemas como bônus no caso de o entregador fazer muitas entregas ou corridas no mesmo dia, por exemplo.
O site de informações sobre startups Crunchbase estima que o iFood tenha faturamento superior a 100 milhões de reais. A empresa já recebeu mais de 590 milhões de reais em investimentos desde 2011, parte vindo de sua companhia-mãe, a Movile.
Neste ano, os motoristas da Uber protagonizaram uma greve mundial durante a oferta inicial de ações (IPO) da empresa, em maio -- incluindo os parceiros no Brasil. A maioria dos motoristas alegou que não queriam necessariamente ser registrados como funcionários da empresa, mas apenas que ela lhes fosse oferecido um pagamento maior pelas corridas.
Apesar das críticas, aplicativos de economia compartilhada vêm sendo altamente procurados por trabalhadores em meio ao desemprego na casa dos 12% que vigora no Brasil há mais de dois anos. No trimestre encerrado em agosto, a informalidade bateu recorde no Brasil, chegando a 41,4% da população empregada, ou mais de 38 milhões de pessoas. A taxa inclui pessoas que atuam na economia compartilhada sem registro como MEI (Microempreendedor Individual, que tem direitos como cobertura previdenciária no caso de acidentes).
Para segurar os profissionais, planos de benefícios como os divulgados pelo iFood devem se tornar cada vez mais comuns.