Hang e Wizard querem doar 10 mi de doses - e vacinar funcionários em troca
Os empresários têm o desejo de poder comprar imunizantes para aplicar em seus funcionários, sem seguir a ordem de priorização estipulada no Plano Nacional de Imunização
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de março de 2021 às 19h19.
Última atualização em 25 de março de 2021 às 19h44.
Os empresários Luciano Hang , dono da varejista Havan, e Carlos Wizard , da holding Sforza, estiveram nesta quinta-feira, 25, com o ministro da Economia, Paulo Guedes , e anunciaram a intenção de doar 10 milhões de doses da vacina contra a covid-19 para o SUS.
Hang e Wizard fazem parte de um grupo de empresários que anunciou publicamente defender a vacinação privada, junto de nomes como o do também empresário Flávio Rocha, presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes, dono da Riachuelo. A informação foi confirmada pelo Ministério da Economia ( veja nota abaixo ):
"Sobre o assunto esclarecemos que os empresários Carlos Wizard, presidente do Grupo Sforza, e Luciano Hang, da HAVAN, anunciaram, em reunião com o Ministro Paulo Guedes nesta quinta-feira (25/03), que pretendem doar 10 milhões de vacinas à população."
Vacinação privada
Por trás do gesto, no entanto, está o desejo dos empresários de poder comprar imunizantes para aplicar em seus funcionários, sem seguir a ordem de priorização estipulada no Plano Nacional de Imunização (PNI).
O Congresso Nacional aprovou uma lei determinando que todas as doses adquiridas pelo setor privado sejam doadas ao SUS. Hang e Wizard, porém, lideram um grupo que lançou abaixo-assinado para pressionar por uma mudança na lei para permitir o uso particular das doses, sem contrapartida ao sistema público de saúde. Hoje, a Justiça Federal derrubou obrigatoriedade de doação ao SUS de vacinas compradas por entidades privadas.
Mais cedo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se posicionou contra a possibilidade de empresas anteciparem a imunização de seus funcionários. Ele comentava sobre a vacinação de empresários do ramo de transportes em Minas Gerais, descumprindo o PNI. "Não podemos admitir e tolerar que se descumpra o PNI. O entendimento do Congresso foi de que, na edição da lei, houvesse possibilidade de aquisição pela iniciativa privada para doação de sua integralidade para o SUS. Não se pode descumprir essa lei e essa diretriz", afirmou.
Na porta do Ministério da Economia, Wizard disse que, "graças ao apoio do ministro Paulo Guedes", os empresários terão amanhã pela manhã uma agenda com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. "Os empresários estão fazendo uma doação de 10 milhões de doses da vacina para a população. Então, para que isso aconteça, nós precisamos sensibilizar os congressistas, as autoridades, para que haja uma flexibilização na legislação, que nos permita fazer essa doação a favor do Brasil", disse, defendendo a alteração na lei.
Hang, por sua vez, ressaltou que cada funcionário vacinado por fora do PNI "tiraria as pessoas do SUS". "Nós temos amigos que também querem comprar a vacina e doar para os seus funcionários" afirmou.
Sem mencionar a lei que obriga a doação de 100% das doses, Guedes celebrou o gesto dos empresários. "Dois empresários, dois brasileiros de coração macio, força e capacidade. Empreendedores (que) sabem negociar, conseguiram esses 10 milhões de vacinas, estão lá fora esperando para trazê-los", afirmou o ministro da Economia. "Agora, imagine 100 empresários. São dois aqui, então seria 50 vezes essa doação de 10 milhões. E nós temos 100 empresários que podem querer fazer essas doações. Seriam 500 milhões de vacinas."
Ao ser questionado sobre como resolver a obrigatoriedade de doação total, Guedes disse que os empresários vão trabalhar pelo convencimento. "Eles vão conversar, eles vão acertar com presidente do Supr... com o presidente da Câmara. É um problema de legislação, é lei", afirmou.
Defensor da flexibilização, Wizard disse que o setor privado é mais ágil na entrega do que a máquina pública, que "tem lentidão que é tradicional". "Se não agirmos com agilidade, com prontidão com uma entrega rápida, nós podemos criar um caos no País, e é exatamente isso que queremos evitar", afirmou.
Procurados pela EXAME, os empresários não responderam até o momento da publicação desta reportagem.