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Guerra na Ucrânia: o impacto na bolsa de valores

Aversão a risco derruba mercados de ações por todo o mundo e impulsiona commodities

Aversão a risco causada pela invasão da Ucrânia derruba bolsas e fortalece commodities | Foto: Ricardo Moraes/ Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)
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Beatriz Quesada

Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 13h02.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 18h35.

O conflito entre Rússia e Ucrânia ganhou o status de guerra nesta quarta-feira, 24, quando a Rússia iniciou a invasão do país vizinho. Nos mercados, os ataques aéreos e a entrada de forças terrestres se refletiram em uma queda generalizada das principais bolsas mundiais, que temem as consequências do confronto.

Apesar da distância geográfica, o mercado brasileiro não escapou ao sentimento global de aversão a risco. Com as incertezas aumentando, investidores retiram capital de investimentos considerados mais arriscados, como ações. As bolsas europeias são as mais afetadas no pregão desta quarta, com fortes quedas de mais de 3%, e, no início do dia, o Ibovespa também apresenta forte queda, de quase 2%.

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Porém, os mercados mundiais passaram a minimizar as perdas no final da tarde após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reforçar que os EUA não enviarão tropas à Ucrânia para socorrer o país após o início dos primeiros ataques russos.

“Ao que tudo indica não veremos uma escalada no conflito europeu, mas sem dúvida é cedo para afirmar. Parece que os EUA irão abandonar os ucranianos aos russos e não engajar militarmente na região”, afirmou, em nota, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

Biden afirmou ainda que as tropas americanas enviadas nas últimas semanas à Europa são destinadas a defender os aliados da Otan, aliança militar criada após a Segunda Guerra. O conflito entre Rússia e Ucrânia, a propósito, foi intensificado após a Rússia exigir garantias de que Ucrânia não seria aceita na Otan e ter seu pedido rejeitado pelos EUA, pela Otan e pelo governo ucraniano.

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O confronto, no entanto, deve continuar no radar dos mercados. Para analistas, o que pode ajudar a conter, parcialmente, novas baixas por aqui são as ações ligadas às commodities, em especial ao petróleo.

O preço da commodity tem avançado desde o início da crise porque a Rússia é grande exportadora de petróleo e fornece boa parte do gás natural que sustenta a matriz energética da Europa Ocidental. Sendo assim, qualquer conflito que envolva o país e a região pode impactar a oferta, fazendo os preços dispararem. Na máxima desta quinta-feira, o petróleo foi negociado acima da marca de 105 dólares o barril – valor que não era alcançado desde 2014.

“A bolsa brasileira possui muitas ações de commodities que se valorizam com a escassez gerada pelo conflito e com um dólar mais alto. Ainda assim, investidores vão demandar desconto [no preço dos papéis] porque estão mais inseguros. A primeira reação é uma queda generalizada dos ativos, que pode se intensificar com o andamento dos conflitos”, comentou Gustavo Akamine, analista da corretora Constância Investimentos.

Em relatório, a Levante Investimentos lembra que o conflito pode impactar ainda o mercado de grãos, do qual Rússia e Ucrânia são grandes fornecedores. “Os preços das commodities agrícolas já vinham subindo devido à tensão e esse movimento se amplificou. De manhã, os contratos futuros de soja eram negociados a 17,28 dólares o bushel (medida que equivale a 27,7 quilos), alta de 3,5% e o maior valor desde 2014, quando houve outra invasão russa à Ucrânia. O trigo subiu mais ainda, com alta de 5,65% nos preços”, disse o texto.

Considerando o contexto, Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, vê o mercado brasileiro bem preparado para enfrentar a crise. "O Brasil é um substituto da Rússia na busca por empresas de commodities. O fluxo estrangeiro para a B3 segue firme”, afirmou.

Ainda é muito cedo, no entanto, para dimensionar com precisão os riscos e perdas que o confronto pode gerar. “Uma guerra gera pressão de preços sobre as commodities em termos de preço, o que poderia beneficiar o Brasil. Mas dado o nível de volatilidade que a disputa gera, é difícil chegar a essa conclusão de maneira acertada”, argumentou Jason Vieira, economista-chefe da gestora Infinity Asset.

Dólar subindo?

Além das commodities, outro ativo que está se valorizando na esteira da crise é o dólar. Mais temerosos, os investidores de todo o mundo movimentam suas posições em busca de opções mais seguras, como títulos do tesouro dos Estados Unidos e a própria moeda americana.

Não à toa, as principais moedas do mundo fecharam em queda contra o dólar nesta quinta-feira. O índice dólar, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de moedas fortes, subiu quase 1%. No Brasil, o dólar comercial avançou mais de 2% contra o real.

Ainda assim, a guerra na Ucrânia não deve ter grandes efeitos negativos sobre o real e outras moedas da América Latina, segundo analistas do UBS. O banco suíço defendeu em relatório que a valorização de moedas da região – lideradas pela alta de 10% do real no ano – são sustentáveis apesar da crise.

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