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Gigante do açúcar e álcool, Cosan quer criar Alipay do Brasil

A aposta pode significar economia de milhões de reais em tarifas bancárias para o grupo e, de quebra, colocá-lo no mercado de fintechs.

Compras pelo celular: gigante do açúcar entra em novo mercado (Milicad/Thinkstock)

Compras pelo celular: gigante do açúcar entra em novo mercado (Milicad/Thinkstock)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 21 de janeiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 21 de janeiro de 2019 às 06h00.

A Cosan, conglomerado controlado pelo bilionário Rubens Ometto, 68, está lançando um aplicativo semelhante ao Alipay, amplamente utilizado na China, para pagamentos e transferências de dinheiro pelo smartphone.

A aposta pode significar uma economia de milhões de reais em tarifas bancárias para as empresas do grupo e, de quebra, colocar a gigante do açúcar e álcool no mercado de fintechs no Brasil.

A Cosan, que também atua na distribuição de combustíveis e gás natural, quer convencer pelo menos parte de seus 20 milhões de clientes a encher o tanque ou pagar a conta de gás usando uma carteira digital chamada Payly (de ’pagamento diário’, em inglês). O objetivo inicial é eliminar a necessidade de cartões de crédito e de maquininhas para cartão em alguns dos 6.300 postos de gasolina que possui em uma sociedade com a Royal Dutch Shell. Com o tempo, a empresa quer construir um ecossistema mais amplo de usuários e empresas na plataforma.

O Payly já está em operação em cidades como Piracicaba. A própria Cosan tem usado o aplicativo para pagar funcionários, fornecedores e até o transporte de açúcar, substituindo gradualmente os métodos tradicionais de pagamento, que são mais caros, segundo o CEO da Payly, Juliano Prado.

“A gente perdia dinheiro e deixava de ganhar”, afirma Prado, um ex-executivo da Shell, em entrevista. “A gente quer tirar o cartão de crédito da jogada.”

Para convencer negócios a aceitar o novo meio de pagamento, a Payly cobrará dos comerciantes 0,1 por cento por transação, uma fração do que eles pagam às credenciadoras de cartões de crédito -- em média, 2,63 por cento, segundo dados do Banco Central relativos a 2017.

A Payly ganha dinheiro com o float dos recursos que os clientes deixam no aplicativo, que são aplicados em títulos públicos por exigência regulatória. No futuro, a empresa também pretende lucrar com comissões sobre a prestação de serviços, como recargas de celulares pré-pagos.

Na última década, a Cosan vem se diversificando em meio à estagnação dos preços internacionais do açúcar e a políticas de governo que restringiram a expansão do etanol de cana-de-açúcar no Brasil. A decisão incluiu a aquisição da Comgás e da operadora de trens ALL América Latina Logística, rebatizada como Rumo. A Raízen, sua joint-venture com a Shell, é a segunda maior distribuidora de combustíveis do Brasil e a maior produtora de etanol.

O Brasil abriga a maior quantidade de fintechs da América Latina, 377 ao todo, e a maioria delas está no setor de pagamentos, segundo relatório da Finnovista, uma aceleradora de fintechs com sede no México, e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Um relatório de 2017 do Goldman Sachs estimou um potencial de receita total de R$ 62 bilhões (US$ 17 bilhões) para o setor bancário e de pagamentos do Brasil em 10 anos -- o que a Payly espera explorar.

No ano passado, a StoneCo, uma nova empresa do ramo de pagamentos, levantou US$ 1,4 bilhão em uma oferta pública inicial na Nasdaq, atraindo investidores como a Ant Financial, do Alipay. A Tencent Holdings, dona do WeChat Pay, outra referência da Payly, também investiu em uma empresa brasileira de tecnologia financeira de pagamentos no ano passado: a companhia de cartões de crédito e débito Nubank.

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