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Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 8 de junho de 2023 às 09h29.
MADRI — Lançado em novembro do ano passado, o robô ChatGPT atraiu 100 milhões de usuários ativos ao redor do mundo.
Em pouco mais de seis meses, o site da Open.AI, startup mantenedora da tecnologia, já tem mais de 1,8 bilhões de visitas por mês.
Tamanha evolução em tão pouco está fazendo gente mundo afora falar sem parar sobre as possibilidades e desafios por trás da inteligência artificial (IA) generativa, capaz de ela própria criar insights e tomar decisões com base em dados pouco ou nada estruturados — exatamente o que faz o ChatGPT.
Como é de praxe em eventos de inovação, lugar de excelência para celebrar tecnologias emergentes (e enterrar de vez as tendências que perderam o brilho), a edição 2023 do South Summit de Madri girou muito ao redor dos impactos da nova tecnologia.
Criado em 2012 como uma feira para reunir investidores e donos de empresas de tecnologia da Espanha, de modo a dar chance de encontros capazes de gerar negócios, o South Summit acabou virando com o passar dos anos um festival de novas ideias.
Os destaques da programação deste ano foram sobre inteligência artificial. A seguir, um resumo do que foi falado.
O jovem russo-canadense Vitálik Buterin, bilionário aos 29 anos por ter sido um dos fundadores da rede de criptomoedas Ethereum, discorreu sobre o uso da inteligência artificial para melhorar os mecanismos de combate a fraudes de toda sorte — de esquemas de corrupção no sistema financeiro a fake news em redes sociais.
Buterin, um ídolo entre jovens investidores em criptomoedas, vislumbra um futuro no qual robôs vão tomar conta de praticamente tudo dentro do blockchain, tomando decisões como excluir autores de atividades consideradas suspeitas.
Hoje, boa parte da transparência nesses espaços depende de um olhar atento dos membros da comunidade, o que nem sempre evita o risco de fraudes.
"Isso pode garantir mais transparência ao blockchain", disse ele, de forma remota, a um auditório lotado no centro de convenções La Nave, na zona sul de Madri, onde o evento é realizado.
Apesar do ganho em eficiência que pode ser obtido com a inteligência artificial, Buterin não vê a tecnologia como uma panaceia. "O ChatGPT não oferece respostas para questões sociais relevantes", diz ele.
Butalik fez referência, entre outros riscos, ao fato de os robôs poderem eles próprios disseminar informações falsas e, no fim das contas, demolir a confiança dos humanos nos fatos, nas convenções sociais (na democracia, por exemplo) e na própria civilização como nós a conhecemos.
"Precisaremos lidar com essa crise de confiança", diz ele.
Javier Tebas, CEO da LaLiga, enumerou o que já é possível fazer com inteligência artificial na primeira divisão do campeonato espanhol de futebol. Por ali, robôs analisam em detalhe uma porção de dados gerados por aparelhos conectados a jogadores, softwares dos times e por aí vai.
"Na LaLiga usamos a IA desde para coisas como definir os horários das partidas em função do interesse dos jogadores, até estratégias dos times, passando pelo controle das melhores estratégias de publicidade e, também, as práticas mais efetivas para controle de lesões de jogadores", diz ele, para quem, contudo, a tecnologia dificilmente substituirá as pessoas em atividades com tamanha carga de emoção envolvida, como é o esporte.
"A LaLiga usa a IA para tudo, e a tecnologia ajuda a tomar decisões, mas a ela sempre vai faltar o fator humano."
Afinal, a inteligência artificial vai roubar quais empregos? Essa pergunta tem sido feita a torto e a direito nos últimos meses, na esteira do sucesso do ChatGPT em resolver, sozinho, uma porção de tarefas (boa parte delas chatas) nas empresas.
Num painel sobre esse tema, lideranças de grandes empresas como Telefónica Tech e KPMG, além de startupeiros, discorreram sobre o futuro do trabalho num mundo no qual ChatGPT está cada vez mais popular.
A conclusão? Por ora, não há motivos para grandes preocupações com demissões em massa, disseram os participantes.
Haverá, sim, uma reordenação do modo como as pessoas trabalham. Fazer bem a burocracia do trabalho, um tipo de demanda que os robôs podem fazer também (e mais rapidamente), deixará de ser um destaque na avaliação de um profissional.
Ter ideias poderosas, ou resolver problemas que a tecnologia ainda não consegue lidar, serão os novos diferenciais entre os profissionais brilhantes, cujas carreiras terão muitas oportunidades pela frente, e os medíocres — estes, sim, ameaçados pela tecnologia.
"Quem souber interagir bem com a inteligência artificial e, sobretudo, conseguir resolver os problemas que a tecnologia vai criar para sociedade, terá muito trabalho pela frente", disse Kamil Svec, head de people da Telefónica Tech, braço da telecom global focado em consultoria para transformação digital de empresas.
O evento de inovação de Madri, embrião do evento do mesmo nome realizado deste o ano passado em Porto Alegre, chegou a 2023 com a maior edição da história em algumas dos principais indicadores acompanhados pelos organizadores.
Segundo os dados do evento, o evento atraiu representantes de 300 fundos de investimento, com 320 bilhões de dólares em fundos sob gestão. Além disso, nos três dias de evento passarão pelo espaço 600 palestrantes, 50% de fora da Espanha, além de donos de 4.500 startups oriundas de 125 países.
EXAME é media partner do South Summit e o jornalista viajou a convite do evento