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Fusão JBS-Bertin põe em risco pequenos frigoríficos, diz associação

Abrafrigo diz que o novo gigante mundial de carne terá poder para agravar as dificuldades dos pequenos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A compra do Bertin pelo JBS-Friboi, a exemplo de outras grandes megafusões, será alvo de restrições por parte dos órgãos brasileiros de defesa da concorrência. A direção da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) - que representa empresas, sindicatos e associações da indústria de carnes que possuem 2.500 plantas espalhadas pelo país - já estuda adotar medidas para questionar a concretização da operação junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Na avaliação do presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar, as condições de competição entre pequenos, médios e grandes frigoríficos se tornarão ainda mais discrepantes com a união entre JBS e Bertin. "Essa notícia é muito preocupante para os médios e pequenos frigoríficos, uma vez que a aquisição amplia ainda mais a concentração no segmento, o que dificulta acesso à matéria-prima e reduz o poder de negociação junto a atacadistas e varejistas".

Embora as restrições impostas pelo Cade tradicionalmente costumem ser maiores quando se trata de empresas cuja união afeta mais diretamente o consumidor final - como nos casos da Kolynos-Colgate, Antarctica-Brahma, Nestlé-Garoto ou Sadia-Perdigão -, o próprio Salazar, admite que a batalha contra a nova gigante do setor de carne bovina não será fácil. "O grande problema é que isso está sendo feito com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ou seja, o próprio governo está induzindo e estimulando a concentração industrial no país".

Oficialmente, a lei de prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica prevê que o Cade analise qualquer forma de concentração econômica por meio de fusão ou incorporação, que implique participação de empresa ou grupo de companhias resultante em 20% de um mercado relevante, ou em que qualquer dos participantes tenha registrado faturamento bruto anual no último balanço equivalente a 400 milhões de reais. Logo, as duas condições exigirão a análise do Cade sobre o negócio.

Salazar diz ainda que a compra do Bertin pelo JBS-Friboi intensifica o panorama adverso que os pequenos e médios frigoríficos enfrentam desde o início da crise, que apertou a oferta de crédito. Em virtude disso, muitos frigoríficos tiveram de fechar as portas ou lançar mão de processo de recuperação judicial. Frigoríficos como o Independência, o Margen e o Quatro Marcos estão entre as principais vítimas da crise. Apesar da melhoria da economia brasileira, o presidente da Abrafrigo estima que o segmento ainda opere com 30% de capacidade ociosa.

O executivo também avalia que a operação coloca em xeque a sobrevivência dos pequenos e médios frigoríficos que hoje atuam no país, deixando-os ainda mais vulneráveis ao apetite dos grandes.

Pecuaristas

O Fórum Nacional da Pecuária de Corte (FNPC) ligado à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)  - que representa os pecuaristas - acaba de encomendar dois estudos ao Centro e Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para dimensionar o impacto que a operação irá gerar em relação aos abates nos âmbitos estadual e nacional. "Com base nos resultados iremos estudar as eventuais medidas que poderemos tomar, mas de qualquer forma a situação é preocupante", afirma o presidente do FNPC, Antenor Nogueira.
 

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