O CEO Carlos Tavares, à esquerda, e o presidente do conselho de administração do grupo, John Elkann (Stellantis/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 14h11.
Última atualização em 19 de janeiro de 2021 às 14h23.
A maior fusão da indústria automotiva global, entre Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e PSA Peugeot-Citroën, gera não só grandes números mas também muito receio acerca do futuro das empresas envolvidas. Para Carlos Tavares, presidente da Stellantis — companhia resultante da união dos dois grupos —, o emprego será mantido.
"Não fecharemos fábricas em decorrência da fusão. Para proteger o emprego, é preciso aumentar escala para diluir custos e é isso que estamos fazendo", disse o executivo em sua primeira conferência global com a imprensa nesta terça-feira, 19.
O executivo acrescentou que as sinergias previstas com a união das empresas, de 5 bilhões de euros, não devem colocar pressão sobre os empregos. "Demissões ocorrem quando não há escala para fazer frente ao aumento de preços resultante de novas regulações."
A Fiat Chrysler e a PSA começaram a negociar no final de 2019, após o fim das tratativas entre a FCA e a Renault para uma fusão. A Stellantis soma 14 marcas globalmente, com cerca de 400.000 funcionários em fábricas espalhadas em mais de 30 países.
Tavares reforçou, em inúmeras oportunidades, que as regulações dos países sobre emissões e veículos elétricos elevam os custos das montadoras e que a indústria está preparada para atender a essas legislações, mas os governos precisam "colaborar" para a implantação dessas novas tecnologias.
"Na América do Sul, por exemplo, não vejo possibilidade de eletrificação dos veículos no curto e médio prazo, mas isso ainda é possível, com a colaboração entre montadoras e governos."
Segundo o executivo, não basta criar veículos elétricos, é preciso também torná-los acessíveis. "Para oferecer carros elétricos ao consumidor, precisamos de escala e margens."
Segundo Tavares, a FCA está fazendo um "grande trabalho" na América do Sul, mas o futuro das fábricas localmente também depende do governo. "A fusão é um escudo para proteger o emprego, mas como o governo brasileiro quer que a indústria automotiva evolua?", indagou.
O presidente da Stellantis reforçou a busca pela excelência, discurso que vem sendo disseminado entre as montadoras nos últimos meses, em meio à forte transformação do setor e à crise gerada pela pandemia. "O propósito da empresa não é somente ter volumes, mas sim excelência. Vamos ser líderes em mobilidade."
As duas empresas somam 167 bilhões de euros em vendas (balanço referente a 2019) e um lucro de 12 bilhões de euros. O grande foco para o futuro será a mobilidade em suas diversas formas e a eletrificação.
"Já temos um portfólio significativo de elétricos, o que mostra que estamos na direção correta", disse Tavares. "Mas queremos torná-los acessíveis e isso vai acontecer com as sinergias e ganho de escala da fusão."
Sobre a rede de distribuição, Tavares afirmou que o foco das concessionárias do mundo todo terá de ser a satisfação do cliente. "Não queremos canibalização entre as marcas e vamos trabalhar para que haja eficiência na rede."