Fundo do Mercado Livre aumenta apostas em startups brasileiras
Para o fundo de investimentos do Mercado Livre, pandemia reduziu risco em investimentos em startups
Karin Salomão
Publicado em 28 de janeiro de 2021 às 11h00.
Última atualização em 28 de janeiro de 2021 às 16h07.
Para o Meli Fund, fundo de venture capital corporativo do gigante de comércio eletrônico Mercado Livre, 2020 foi o melhor ano em investimentos até então - e 2021 tem tudo para ser ainda melhor.
O Meli Fund existe desde 2013, inicialmente focado na Argentina, país natal do fundo e do próprio Mercado Livre. Há dois anos, o fundo passou a ter presença física no Brasil, com uma equipe no escritório brasileiro, e ano passado investiu fortemente por aqui. Seis startups brasileiras foram investidas no ano passado - Warren, BizCapital, Kangu, Pier, EmCasa e Carflix - e uma argentina - Intuitivo - com aporte total de 30 milhões de reais. Esse valor é maior do que a soma do capital investido nos sete anos anteriores.
Para 2021, a ideia é investir no mínimo na mesma quantidade de empresas que no ano passado - sete - mas com um volume de dinheiro bem maior, afirma Renato Pereira, diretor de desenvolvimento corporativo do Mercado Livre.
O Meli Fund normalmente investe ao lado de outros fundos de peso, e com uma participação menor. No caso do aporte na corretora gaúcha Warren, por exemplo, esteve ao lado do fundo de venture capital QED Investors, também investidor de empresas como Nubank e Loft, Kaszek Ventures, Chromo Invest e Ribbit, entre outros.
O foco são empresas nas áreas financeira, logística e de marketplace. São justamente as áreas em que o Mercado Livre e suas divisões Mercado Pago e Mercado Envios atuam. Mais do que ganhar retorno sobre o capital investido, o fundo busca startups que possam melhorar a experiência do cliente do próprio Mercado Livre.
"Fazemos o aporte financeiro, mas esse não é o nosso principal motivador. O recurso financeiro é a porta de entrada para falar com a startup", diz o executivo. O fundo ganha uma cadeira no conselho sem direito a voto e faz a conexão da startup com áreas internas do Meli que podem se beneficiar da tecnologia ou serviço da startup. A empresa também conversa com as startups pelo menos uma vez por mês para ajudá-las a crescer e a se integrar com o ecossistema do Mercado Livre.
"O mais interessante de um corporate venture é que o caminho importa mais que o destino, o retorno sobre os investimentos. O fato de estar exposto às conversas com startups, fundos e aceleradoras nos ajuda a identificar tendências e oportunidades de inovação dentro de casa", afirma Pereira.
Principais números
Atualmente, o Meli Fund está com presença física no Brasil, Argentina e México, mas também investe em empresas de outros países, como Chile e Colômbia. O foco é atuar nos mercados em que o Mercado Livre já está presente - são 18 países, todos na América Latina.
São cerca de 21 startups ativamente investidas no momento. O fundo já investiu em 35 startups, com quatro saídas, ou exits, bem sucedidas, com retorno sobre o valor investido. Em 2020, o fundo teve dois exists: Ibushak, uma empresa de e-commerce do México, e Sirena, empresa argentina de CRM.
Das startups ativamente investidas, nove são brasileiras, menos da metade. Como o Brasil representa de 75% a 80% do mercado de startups na América Latina, a estimativa do Meli Fund é que a participação do país no fundo também alcance os mesmos níveis, o que significa que as apostas no Brasil devem crescer nos próximos anos.
Investimentos na crise
Ao invés de refrear os investimentos do fundo, a crise do coronavírus ajudou o Meli Fund a ter ainda mais certeza de seus aportes. Em um ano marcado pelo crescimento do comércio eletrônico e do uso de tecnologia, muitas startups aceleraram sua atuação e, mesmo as que sofreram mostraram que tinham capacidade de execução, diz o executivo. "Deixamos de ter dúvidas sobre os investimentos. Essa crise foi uma prova de fogo que dificilmente essas startups passariam em outro cenário e, paradoxalmente, reduziu o risco do nosso investimento", afirma.
A experiência da equipe do Meli Fund também ajuda a identificar os melhores empreendedores e startups - muitos dos membros do fundo já fundaram ou participaram de startups. Pereira é fundador ou cofundador de quatro startups, como o site Menutrip e a empresa de educação online eduK, além de ter sido diretor de operações do Groupon. "Essa experiência nos ajuda a ter empatia com os desafios que as startups podem ter", diz.