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Funcionários da Amazon relatam pressão e metas impossíveis

Empregados contaram ao NYT que chorar depois de uma reunião não é incomum, assim como conferências durante a páscoa ou feriados e trabalhar durante a noite


	Jeff Bezos, CEO da Amazon: empregados contaram ao NYT a pressão de trabalhar além do seu limite
 (Joe Klamar/AFP)

Jeff Bezos, CEO da Amazon: empregados contaram ao NYT a pressão de trabalhar além do seu limite (Joe Klamar/AFP)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 17 de agosto de 2015 às 18h56.

São Paulo - Trabalhar exaustivamente, inclusive à noite e durante as férias, metas impossivelmente altas, críticas duras dos superiores e demanda por resultado são alguns dos aspectos da gestão de funcionários da Amazon.

Uma reportagem do New York Times entrevistou 100 pessoas e relatou como é o dia a dia dos Amazonians, como são chamados os funcionários, em uma empresa que impõe metas irracionalmente altas.

Empregados contaram ao jornal que chorar depois de uma reunião não é incomum, assim como conferências durante a páscoa ou feriados e trabalhar durante a noite.

A funcionária Dina Vaccari já ficou 4 noites sem dormir e que já pagou a um freelancer do próprio bolso para aumentar sua eficiência, afirmou ela ao NYT.

O noivo de uma ex-funcionária dirigia até a sede da Amazon, em Seattle, Washington, às 22h todo dia, para pedir que sua companheira voltasse para casa. Quando o casal tirou férias na Flórida, ela trabalhou de uma Starbucks. Como consequência, sofreu de uma úlcera no estômago.

Uma mulher, que enfrentou um câncer na tireoide, foi criticada por seu desempenho ruim durante o período em que estava em tratamento, segundo o veículo.

Outra, que tivera um aborto, precisou embarcar em uma viagem de negócios no dia seguinte. Seu chefe chegou a falar que “como você está tentando começar uma família, não sei se esse é o melhor lugar para você”.

Uma funcionária, com câncer de mama, foi colocada em “observação” pelos seus gestores, o que significava que, se não atingisse as metas, estava a um passo de ser demitida.

O mesmo aconteceu com uma mulher que teve um filho natimorto e outra que acabara de passar por uma cirurgia de alto risco, de acordo com o jornal.

Dados

A gestão de Jeff Bezos é baseada em números e dados. Por isso, a Amazon recolhe dados sobre tudo o que diz respeito ao seu negócio. 

Ela calcula o tempo em que cada usuário passa em cada página, que itens coloca em seu carrinho, mas não compra, o tempo de carregamento das páginas na internet, preferências de cada consumidor e, claro, o tempo de entrega dos produtos.

Os funcionários são avaliados seguindo os mesmos parâmetros, com números medindo o seu desempenho constante. Além disso, seus colegas podem enviar feedbacks aos gestores e um evento anual revisa os resultados de cada um.

Para alguns, essa estratégia funcionou: muitos relatam que expandiram seus limites e ficaram "viciados" nos resultados que essa gestão trouxe para o seu trabalho. 

Além disso, a pressão sobre os funcionários tem dado resultados para a empresa, segundo o NYT. No último trimestre, as vendas cresceram 20%, atingindo 23,18 bilhões de dólares. A companhia divulgou lucro de 92 milhões de dólares para o período.

Outro lado

Em resposta ao veículo americano, Jeff Bezos afirmou que não reconhecia a empresa descrita na reportagem e que qualquer situação do gênero deverá ser relatada ao departamento de recursos humanos.

“Mesmo que [os eventos relatados] sejam raros ou isolados, nossa tolerância para tal falta de empatia precisa ser zero”, disse o presidente aos funcionários da varejista.

O presidente pediu para que todos os 180.000 funcionários lessem o artigo e espera que eles não reconheçam a empresa descrita na reportagem."O artigo faz mais do que reportar histórias isoladas, ele alega que nossa abordagem intencional é criar um ambiente de trabalho sem alma e distópico, onde não há diversão e nenhuma risada é ouvida".

"Espero que vocês estejam se divertindo ao trabalhar com colegas brilhantes, ajudando a inventar o futuro e rindo durante a caminhada", disse ele. 

Na reportagem, Susan Harker, uma das principais recrutadoras da companhia, afirmou que "quando você mira a lua, a natureza do trabalho é realmente desafiadora. Para algumas pessoas, isso não funciona".

Empresas de tecnologia

A Amazon não está sozinha. Trabalho exaustivo e chefes exigentes demais são comuns no meio de empresas de tecnologia e que pretendem crescer muito e rapidamente.

Algumas oferecem vantagens incríveis à sua equipe. O Google dá lanches gratuitos e crédito aos funcionários no nascimento de um filho. A Netflix tem licença maternidade ilimitada e os funcionários de Richard Branson, do Virgin Group, podem tirar férias quando quiserem.

No entanto, outras empresas do setor são conhecidas por chefes polêmicos e workaholics.

Elon Musk, criador e presidente da Tesla, SpaceX e outras empresas de tecnologia, é um deles. Ele teria enviado um email a um funcionário criticando-o por perder um evento da empresa no dia do nascimento de seu filho, segundo o livro "Elon Musk: Tesla, SpaceX, and the Quest for a Fantastic Future." (O empresário depois desmentiu a história).

Musk também teria dito frases como "férias vão te matar" e "vocês verão bastante suas famílias quando nós falirmos".

Steve Jobs também era conhecido pelas brigas com seus funcionários - e até com prestadores de serviço e fornecedores. Ele demitia pessoas sem aviso prévio e, em uma entrevista de emprego, ele teria ridicularizado um candidato com perguntas pessoais, segundo o biógrafo Walter Isaacson.

Marissa Mayer, CEO do Yahoo, tirou apenas algumas semanas de licença maternidade e proíbe o home office entre seus funcionários.

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