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Fraude com Facebook usou Vale do Silício para enganar ricos

Caso envolvendo ações do Facebook, a ex-mulher de Eddie Murphy e um assessor de investimentos mostra como o dinheiro e a influência estão no Vale do Silício

A região do Vale do Silício: um metódico encantador ficou um pouco mais perto de roubar US$ 11,25 milhões de um grupo de milionários (Wikimedia)
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Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2015 às 18h30.

Nova York - A apresentação parecia irresistível: uma chance para entrar em contato com um financista do bilionário Carlos Slim .

Mas o suposto mago das finanças, que se passava por Ken Dennis, não era quem ele dizia ser, afirmam agora as autoridades.

Na verdade, ele é Troy Stratos – e está sendo julgado em um estranho caso de fraude que mostra um pouco como o dinheiro e a influência transitam pelo Vale do Silício .

Um poderoso assessor de investimentos; uma pessoa do Facebook Inc.; a ex-mulher do comediante Eddie Murphy: essa história tem tudo isso e muito mais.

Ela começa em uma tarde de dezembro de 2010. Divesh Makan, que hoje administra as fortunas dos bilionários do Vale do Silício, trabalhava no Morgan Stanley assessorando clientes bem-sucedidos.

Ele mandou um e-mail para David Ebersman, que na época era diretor financeiro da Facebook:

“Queria apresentar você a Ken, que administra fundos para a família Slim e para as partes relacionadas”, escreveu Makan. “Deixo que você entre em contato. Tudo de bom, Divesh”.

Com esta apresentação, um metódico encantador ficou um pouco mais perto de roubar US$ 11,25 milhões de um grupo de milionários do litoral leste dos EUA que queria comprar as poucas ações da Facebook antes que a empresa abrisse o capital, dizem os promotores.

Stratos, que se diz produtor de cinema e empresário do setor musical, estava prestes a ser indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) por supostamente ter roubado US$ 7 milhões de Nicole Murphy, ex-mulher do comediante Eddie Murphy.

O julgamento das acusações relativas à Facebook começou na segunda-feira em Sacramento, Califórnia.

Outro, relativo às acusações de Murphy, está marcado para outubro. O DOJ calcula que serão necessários oito dias para apresentar as acusações.

Na cadeia

Stratos, 49, que se declarou inocente em ambos os crimes, está na cadeia no condado de Sacramento desde que foi preso no final de 2011, quando o FBI o encontrou escondido no armário de um apartamento de luxo alugado em Los Angeles.

O governo acrescentou as acusações relativas à Facebook ao indiciamento inicial em maio de 2013.

Stratos nunca entregou as ações da Facebook, de acordo com sua declaração em uma audiência de fiança em janeiro de 2012.

Ele disse que colocou o gestor financeiro dos investidores, Tim Burns, em contato com um executivo da Facebook e com outras pessoas que afirmaram ter ações para vender.

Ele disse que gastou o dinheiro – que ele considerou uma taxa – para pagar dívidas antigas, tentar montar um restaurante em Las Vegas e comprar um Range Rover, um Chevrolet Camaro e um Audi conversível de US$ 200.000.

Burns, assim como Makan, é aluno do Morgan Stanley. Ele saiu de lá em 2005 para abrir a ESG Family Office e administrar as fortunas dos moradores ricos da Filadélfia e dos subúrbios circundantes. Ele arrecadou um fundo de US$ 13 milhões deles, especificamente para investir em ações da Facebook.

Perspectiva detalhada

Os documentos judiciais do processo penal e de uma ação civil que a ESG apresentou contra Stratos oferecem uma perspectiva detalhada do modo em que Stratos armou a suposta fraude que custou milhões aos clientes de Burns.

Burns e “Ken Dennis” se conheceram em março de 2011, apresentados por um corretor que sabia o que Burns buscava. Dennis disse a Burns que chefiava uma empresa chamada Soumaya Securities, nomeada em homenagem à falecida esposa de Slim.

Slim nunca teve contato com Stratos ou com um homem chamado Ken Dennis, disse Arturo Elias Ayub, porta-voz de Slim, em um comunicado enviado por e-mail.

Dennis disse que conhecia executivos da Facebook que estavam dispostos a vender ações por US$ 27 cada.

Quando Burns pediu referências, Stratos o encaminhou a seu advogado, David Meyer, no escritório de Los Angeles da Venable LLP, firma nacional com 600 advogados. Meyer disse a Burns que Dennis realmente estava afiliado a Slim, disse a ESG em sua queixa.

Vínculo com Makan

Na época em que conheceu Burns, Stratos usou o vínculo com Makan para chegar a Ebersman, o diretor financeiro da Facebook, dizendo-lhe que tinha um escritório para alugar em Los Angeles que poderia ser do interesse da Facebook.

Essa conexão foi fundamental porque Stratos atraiu Burns em parte por organizar uma ligação telefônica com ele e Ebersman, de acordo com documentos judiciais.

Em 19 de abril de 2011, Burns se comprometeu com o acordo e transferiu US$ 2,8 milhões para uma conta fiduciária na Venable para estar pronto para a compra.

Stratos extraiu parte do dinheiro para comprar o Land Rover de US$ 92.000, fazer um depósito de US$ 50.000 em um apartamento em Las Vegas e pagar US$ 333.000 a um apostador profissional, diz a queixa da ESG.

Stratos, ainda operando como Dennis, enganou Burns. Naquele mês de julho, ele disse que o acordo era iminente, segundo o indiciamento do governo, e convenceu Burns a enviar US$ 7,2 milhões.

No mês seguinte, ele pediu mais US$ 1,25 milhão para realizá-lo. Enquanto isso, Stratos estava extraindo dinheiro na proporção de US$ 40.000 por dia, alega a ESG.

Erro fatal

Pouco depois, Burns cometeu um erro fatal.

Quando parecia que a transação da Facebook lhe renderia milhões em comissões, Burns usou dinheiro das contas dos investidores para comprar uma casa de praia em Avalon, New Jersey, por US$ 4,6 milhões, disseram os investidores da ESG, que abriram sua própria ação contra Burns no condado de Montgomery, Pensilvânia, em 2013. Ele também fez um depósito de US$ 1,13 milhão em um edifício de escritórios em Conshohocken.

O acordo da Facebook ruiu em dezembro de 2011, quando Stratos foi preso e acusado de defraudar Nicole Murphy.

Ainda atuando como Ken Dennis, Stratos tentou sustentar da cadeia o acordo, fazendo com que seus associados enviassem mensagens de texto a Burns para dizer-lhe que Dennis não estava disponível, disse o governo.

Por fim, Burns enviou um e-mail à Venable. G. Stewart Webb, sócio da empresa, respondeu que as informações de contato que Burns forneceu sobre Ken Dennis apareciam nos arquivos de Meyer com o nome de Troy Stratos.

“Pelo que sabemos, o Sr. Stratos foi preso no início desta semana pelas autoridades federais”, escreveu Webb no e-mail.

O governo acusou Burns em maio de 2013. Ele admitiu a culpa pela fraude no dia 25 de junho de 2013 e está aguardando a sentença.

O que os clientes da ESG não perderam para Stratos, eles perderam para Burns. O valor das ações da Facebook, enquanto isso, mais do que dobrou desde que a empresa abriu o capital em maio de 2012.

Às vésperas da abertura de capital do Facebook , Jim Breyer não poderia estar mais feliz. Afinal, ele aplicou 12,7 milhões de dólares nos primórdios da empresa, quando a rede social ainda cheirava a alojamento estudantil de Harvard. Sua empresa de investimentos, a Accel Partners, agora detém 11% do Facebook, e é a maior acionista depois de Mark Zuckerberg, o fundador da rede. Breyer ainda detém 1% das ações em seu próprio nome, fazendo parte do conselho de administração da empresa. Com uma fortuna avaliada pela Forbes em 1,1 bilhão de dólares, Breyer é o 1.075º homem mais rico do mundo.
  • 2. Com o passarinho azul, desde o ninho

    2 /5(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    Outro nome destacado pela Forbes é o de Marc Andreessen, um dos veteranos das empresas pontocom. Em meados dos anos 90, por exemplo, ele foi um dos criadores do Mosaic, o primeiro navegador amigável aos consumidores finais. Agora, com a empresa de investimentos Andreessen Horowitz, ele participa de empreendimentos como o Twitter , LinkedIn (para os quais aportou capital semente), Skype , Groupon e Zynga .
  • 3. O maior investidor das empresas de tecnologia

    3 /5(Wikipedia)

  • Reid Hoffman é chamado, pela Forbes, de “uber-investidor” – isto é, ele já passou do status de mero “super”. Sócio da Greylock e com uma fortuna pessoal avaliada em 1,8 bilhão de dólares pela Forbes, Hoffman é o 719º homem mais rico do mundo. Sua fortuna veio das apostas certas em empresas de tecnologia. Entre seus feitos, estão participar da criação do PayPal , fundar o LinkedIn e investir em outras 80 companhias ainda na fase de startup. Algumas delas: Facebook , Zynga , Digg e Flickr.
  • 4. Um dos maiores sócios do LinkedIn

    4 /5(Divulgação)

    David Sze também integra a empresa de investimentos Greylock. Entre suas apostas certeiras, está o apoio ao LinkedIn desde o começo – a ponto de deter 16% da rede social, na época de seu IPO em 2011. Sze, por meio da Greylock, também detinha 14% da Pandora em seu IPO, e soube enxergar oportunidades em companhias como o Facebook , Digg, Seven e VUDU.
  • 5. Um bom vendedor de empresas

    5 /5(Getty Images)


    Peter Fenton é membro do conselho de administração do Twitter e participa da vida da empresa desde quando ela era um pequeno sonho de 25 pessoas. Outra habilidade de Fenton é encontrar empresas atraentes o bastante para ser cortejadas por gigantes da tecnologia. Em 2009, por exemplo, liderou a venda da SpringSource à VMW por 420 milhões de dólares. Outros exemplos são: Coremetrics, comprada pela IBM , Reactivity, adquirida pela Cisco e Zimbra, arrematada pelao Yahoo !.
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