Falta maconha no Canadá em meio a chuva de pedidos de licença
Indústria da maconha ainda se recupera da disparada da demanda na segunda semana de legalização
Marília Almeida
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 15h23.
Última atualização em 30 de outubro de 2018 às 12h34.
A indústria da maconha do Canadá ainda se recupera da disparada da demanda na segunda semana de legalização, e os produtores mostram frustração com a demora para conseguir uma licença em um momento de prateleiras vazias.
“Estamos roendo unha e acho que nossos acionistas também”, disse Anthony Durkacz, diretor da FSD Pharma, uma produtora de Ontário que recebeu licença para cultivo há um ano e ainda aguarda a licença para venda. “Queremos fornecer.”
O processo de obtenção de licença para venda da Health Canada, a agência federal de saúde, é caro, segundo Durkacz. Depois de receber uma licença para cultivo, a produtora precisa produzir duas colheitas completas, enviá-las para teste, submeter o software de venda a auditoria e enviar uma solicitação completa para licença de venda, cujo processamento pode demorar até 341 dias, disse.
“Mesmo que tenha feito tudo, e que esteja tudo certo, o solicitante pode ter que esperar um ano para conseguir a licença”, disse.
O Canadá se tornou a primeira economia de grande porte a legalizar a maconha recreativa, em 17 de outubro, assumindo a liderança de um mercado global que deverá atingir US$ 32 bilhões em gastos de consumo até 2022, segundo a Arcview Market Research e a BDS Analytics. A euforia que fez as ações das empresas do setor disparar no período anterior à legalização perdeu força, e o índice BI Canada Cannabis Competitive Peers recuou 26 por cento em sete sessões antes de registrar uma recuperação, na quinta-feira.
Enquanto alguns produtores aguardam suas licenças, outros têm dificuldades para atender a demanda. A Ontario Cannabis Store, administrada pelo governo, recebeu 100.000 encomendas nas primeiras 24 horas, mais do que todas as outras províncias juntas, e informou que está recebendo novos suprimentos regularmente. Em Quebec, foram feitos quase 140.000 pedidos pela internet e em lojas na primeira semana de legalização, e a loja de propriedade da província indicou na quarta-feira que pode ser obrigada a fechar alguns estabelecimentos porque as produtoras não conseguiram atender a demanda. As produtoras terão um trabalho “colossal” para garantir a oferta, informou a Société québécoise du cannabis em comunicado.
O problema é que ninguém sabia como seria a curva de demanda após um século de proibição, disse Bruce Linton, CEO da Canopy Growth, que assegurou mais de um terço da oferta canadense total comprometida até o momento.
A Canopy atendeu aproximadamente 1 milhão de pedidos de cannabis medicinal em seus primeiros quatro anos de operações. A empresa espera encaminhar mais de 1 milhão de unidades de maconha recreativa nas quatro primeiras semanas após a legalização, disse Linton.
“A resposta tem sido inacreditável”, disse Linton. “Não acho que acabará tudo, mas é possível que as pessoas não consigam exatamente o mesmo produto que compraram da última vez.”
Ele acrescentou que a Canopy está embalando e despachando pedidos o mais rapidamente possível, mas que estão ocorrendo atrasos no recebimento de novos produtos nos websites das províncias. A empresa começará a enviar novos produtos, incluindo cápsulas de gel da marca Tweed e cigarros prontos, na próxima semana e meia.