Nove produtores de máquinas, equipamentos e matérias-primas para produção de sorvetes assinaram, nesta sexta-feira (27/8), um convênio com a Agência de Promoção de Exportações (Apex). Representadas pelo consórcio Union Trading Brasil, o objetivo das empresas é elevar as exportações dos 950 mil dólares com que fecharão 2004 para 5 milhões de dólares em 2006, incrementando o intercâmbio sobretudo com a América Latina e a África. O consórcio é mais um exemplo de como os pequenos industriais estão se unindo para competir com pesos-pesados do comércio internacional, como fizeram os fabricantes de calçados de Birigüi, interior de São Paulo, que se uniram para concorrer com os asiáticos.

Para o presidente da Union Trading Brasil, César Tonheiro, quintuplicar as vendas externas em dois anos é uma meta bastante viável. Em primeiro lugar, as nove empresas que compõem o consórcio (sete paulistas, uma mineira e uma pernambucana) operam com 40% de capacidade ociosa. Assim, qualquer esforço de promoção de vendas no exterior que resulte em pedidos poderá ser prontamente atendido pelos participantes.

O segundo motivo é a estratégia traçada pelo consórcio, em parceria com a Apex. Em vez de atacar mercados já consolidados, como o dos países desenvolvidos, a promoção brasileira, que contará com 2 milhões de reais do governo, se concentrará nos países em desenvolvimento. Nestas regiões, o porte da indústria local de sorvetes é compatível com o tipo de equipamento fabricado no Brasil. Enquanto americanos, dinarmaqueses e italianos (os líderes na fabricação de maquinário para o setor) oferecem linhas totalmente automatizadas, com elevada capacidade de produção, ao custo de até um milhão de dólares, os brasileiros buscarão mercados de menor escala, onde suas máquinas são mais adequadas e o preço (de 15 mil a 50 mil dólares) bem mais atraente.

Mercado

As empresas brasileiras produzem, atualmente, 800 milhões de litros de sorvete por ano. A Unilever (por meio da sua marca Kibon) e a Nestlé detêm metade deste volume. As empresas de pequeno e médio porte respondem por outros 30%. Já os fabricantes artesanais ficam com os 20% restantes. Para o gerente do consórcio, Amadeu Gonçales Filho, o consumo de sorvete per capita, pouco acima de 4 litros por ano, ainda é baixo, se comparado com outros países, inclusive da América do Sul. Na Argentina, o consumo per capita é de 7 litros por ano.

O Brasil não possui exportação significativa de sorvetes. A quase totalidade das vendas externas do setor é gerada pelos cerca de 50 fabricantes de máquinas e matérias-primas que atuam no país. Ainda assim, a participação das exportações no faturamento das empresas é pequeno. Entre os nove consorciados da Union Trading, os 950 mil dólares que conseguirão este ano representam cerca de 5% do faturamento total. A América Latina responde por 60% da cifra, sendo que somente a Argentina representa 15%.

Em 2006, se as empresas atingirem a meta de 5 milhões de dólares em vendas externas, espera-se que este montante signifique de 15% a 20% do faturamento das consorciadas. "Até agora, fomos comprados; não estávamos acostumados a vender. Mas a parceria com a Apex vai nos ajudar a promover os produtos em feiras e rodadas de negócios no exterior", diz Gonçales.

Lentidão

A Frisher do Brasil, uma das integrantes do consórcio, iniciou as exportações há pouco mais de dois anos e já conta com vendas para o México, Venezuela, Peru e Argentina. Para Samuel Miranda, um dos sócios da empresa, "atuar individualmente no exterior é muito sofrido. O processo é muito lento". A empresa exporta cerca de dez máquinas por ano.

Com o consórcio, espera dobrar o volume em 2005 e triplicá-lo em 2006. Fundada há 12 anos e instalada no município paulista de São Carlos, a empresa fatura cerca de 1 milhão de reais por ano. Miranda não informou quanto as exportações representam em sua receita.