Fabricante de guitarras Gibson enfrenta dívida de US$ 560 mi
Investidores cochicham entre si que o CEO Henry Juszkiewicz deverá abandonar a empresa, uma marca icônica para a música que agora vive dias amargos.
Mariana Desidério
Publicado em 24 de março de 2018 às 08h00.
Última atualização em 8 de outubro de 2018 às 14h40.
Assim como Robert Johnson, o gigante do blues cuja proeza para tocar uma guitarra Gibson teria sido o resultado de um pacto com o Diabo, a empresa chegou a uma encruzilhada.
Após 116 anos, o Diabo está batendo à porta da Gibson. Dívidas que chegam a US$ 560 milhões vão vencer no terceiro trimestre, e os investidores cochicham entre si que o CEO Henry Juszkiewicz deverá abandonar a empresa.
Juszkiewicz vendeu parte da alma da Gibson para tentar ser mais que a fabricante da guitarra mais amada do mundo. Ele comprou partes de empresas de produtos eletrônicos de consumo para relançar a Gibson Guitars como Gibson Brands, uma empresa de “estilo de vida musical”. O resultado não correspondeu ao planejado.
“Meu sonho era ser a Nike do estilo de vida musical”, disse Juszkiewicz, em entrevista. “Neste momento, francamente, preciso reduzir essa ambição.”
Elvis Presley fez história com uma Gibson J200. O famoso solo de Eric Clapton na música “While My Guitar Gently Weeps”, dos Beatles, foi tocado com uma Gibson, e quando o jovem B.B. King percebeu que tinha esquecido sua Gibson ao escapar de um edifício em chamas, ele arriscou a própria vida e voltou para buscá-la. O incêndio havia sido provocado acidentalmente por dois homens que brigavam por uma mulher, e King batizou sua guitarra de corpo oco com o nome dela, Lucille.
Mas o pop não se importa muito com lendas. A Gibson afirma que as vendas estão fortes, mas as guitarras já não têm mais a mística que tinham na época de King.
Diversificação
Juszkiewicz tentou diversificar a companhia. Ele comprou uma linha de produtos eletrônicos de consumido da empresa japonesa Onkyo e adquiriu em 2014 a WOOX Innovations, a divisão de áudio e entretenimento doméstico da Royal Philips, por US$ 135 milhões.
Essa transição consumiu mais dinheiro que o esperado, particularmente após o acordo com a Philips.
Por causa do vencimento iminente de títulos no valor de US$ 375 milhões, Juszkiewicz está ficando sem tempo para uma recuperação, segundo Kevin Cassidy, analista sênior da Moody’s Investors Service. Além do vencimento de 1 de agosto, a empresa tem uma “garantia com penhora de ativos” que fará com que US$ 185 milhões em dívidas vençam em julho caso a Gibson se atrase com os pagamentos, segundo a S&P Global Ratings. A Gibson também enfrenta condições creditícias mais estritas dos fornecedores e uma pressão cada vez maior devido às novas restrições à importação de jacarandá, uma matéria-prima fundamental para os instrumentos de alto nível da Gibson, segundo a S&P.
Outro obstáculo para a recuperação da empresa é o fim de seu relacionamento com alguns varejistas. Vários deles deixaram de vender a marca e mencionaram demandas inaceitáveis, de cheques de crédito anuais até pedidos de mercadoria com um ano de antecedência.
A Gibson é “uma empresa que perdeu o foco”, diz Laurence Juber, ex-guitarrista do Wings, a banda de Paul McCartney na década de 1970, vencedor do prêmio Grammy e dono de sete guitarras Gibson. “É uma das marcas icônicas. Eu não consigo imaginar que ela desapareça.”